Acusado de usurpar funções de Maduro, Guaidó enfrenta ameaça de detenção

Opositor perdeu a imunidade parlamentar

Escrito por AFP ,
Legenda: Líder da oposição Juan Guaidó pode ser preso após perder a imunidade parlamentar
Foto: AFP

O opositor Juan Guaidó enfrenta a possibilidade de ser detido, depois que a Assembleia Constituinte retirou sua imunidade parlamentar e autorizou um processo depois que ele se proclamou presidente interino da Venezuela.

Embora uma detenção não pareça iminente, pois o processo seguirá seu curso curso no Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), Guaidó não descartou a possibilidade de terminar preso, uma ameaça que promete enfrentar com mais pressão nas ruas e da comunidade internacional contra o presidente socialista Nicolás Maduro.

"Isto não vai nos deter e em 6 de abril vamos (...) dar uma grande demonstração de organização, mobilização e avanço definitivo contra a usurpação", disse Guaidó a jornalistas sobre os protestos  convocados para este dia.

"O caminho da transição começou", disse o deputado, que nesta quarta-feira cancelou na última hora um ato no subúrbio de Petare por "razões de agenda".

"Sabemos que é um risco, estamos conscientes disso, mas não vamos sair do caminho", afirmou na terça-feira à noite o presidente do Parlamento, reconhecido como presidente interino da Venezuela por mais de 50 países, incluindo os Estados Unidos.

Para Cecilia Sosa, ex-presidente do TSJ, "qualquer coisa pode acontecer, pois os fatos ocorridos não têm explicação jurídica, mas política". 

O caso continuará no TSJ por se tratar de um delito político, mas a Procuradoria poderá apresentar uma acusação por delitos ordinários, comentou Sosa à AFP. 

O governo de Maduro tem influência em ambas as instituições.

"Temo que o prendam, mas estou na expectativa de que façam isso para ver a reação internacional. Será a prova de fogo", disse à AFP o administrador Enrique Martínez, apoiador de Guaidó de 32 anos.

Empenhado em quebrar o principal apoio de Maduro, os militares, o deputado lhes lançou um desafio: "Quero saber quem das Forças Armadas ou dos corpos de segurança vai aparecer para sequestrar o presidente da República".

Guaidó, 35 anos, foi detido durante uma hora em 13 de janeiro, o que Maduro atribuiu a uma ação independente de agentes de inteligência que foram punidos.

"Havia um que se considerava muito bonito, que não seria preso e aí está", afirmou o presidente da Constituinte, Diosdado Cabello, em referência a Leopoldo López, co-partidário de Guaidó, que cumpre em prisão domiciliar uma pena de quase 14 anos pela acusação de incitar a violência.

Guaidó se autoproclamou presidente interino em 23 de janeiro, depois que o Parlamento de maioria opositora declarou Maduro "usurpador" por ter iniciado um segundo mandato, no dia 10 do mesmo mês, após eleições consideradas fraudulentas pelo Congresso.

Para rebater a perda de imunidade, Guaidó convocou protestos no próximo sábado, quando já estava previsto uma ação de uma estratégia que ele batizou de "operação liberdade".

Até o momento, ele afirmou apenas que a operação prevê uma mobilização nacional até o palácio presidencial de Miraflores, em Caracas, para assumir seu controle em uma data não estabelecida.

"Se o regime se atrever a sequestrar-me, a ordem para o povo da Venezuela é seguir mobilizado nas ruas até o fim da usurpação. Senhores das Forças Armadas, permitir meu sequestro é ficar contra a República", advertiu.

A marcha a Miraflores promete acirrar ainda mais os ânimos, no momento em que milhões de pessoas sofrem as consequências dos apagões e dos cortes de água no país.

Como é habitual, o chavismo também convocou mobilizações para o sábado.

Segundo Guaidó, dezenas de presidentes e chanceleres o telefonaram para expressar preocupação pelo fim de sua imunidade. 

O opositor não descartou pedir ao Congresso que autorize a entrada de uma missão militar estrangeira. Os Estados Unidos, seu maior aliado, tampouco exclui uma ação armada.

"O que mais vamos esperar, que o regime prenda o presidente Guaidó?", questionou a dirigente María Corina Machado, ao pedir nesta quarta-feira a ativação de um artigo que autoriza essas incursões.

Os constituintes agitaram essa questão para acusar Guaidó de "traição à pátria", delito punido com até 30 anos de prisão.