O que se sabe sobre a crise entre a Índia e o Paquistão

Índia e Paquistão travaram três guerras, duas delas por causa de Caxemira

Escrito por AFP ,

A Índia e o Paquistão estão à beira de um conflito após três dias de escalada na disputada pela região da Caxemira.

O início da crise

A crise começou após um atentado suicida na Caxemira indiana no qual pelo menos 40 paramilitares indianos foram mortos em 14 de fevereiro, provocando uma onda de rejeição na Índia. O ataque foi reivindicado pelo grupo islamita Jaish e Mohammed (JeM), com base no Paquistão. 

A Índia e o Paquistão travaram três guerras, duas delas pelo controle da região da Caxemira, nas montanhas do Himalaia, povoada por uma maioria de muçulmanos e dividida entre os dois países. Ambos reivindicam o controle da Caxemira desde a independência em 1947.

A Índia tem cerca de 500.000 soldados implantados no território que controla para silenciar uma insurreição separatista. Nova Délhi denuncia que Islamabad apoia infiltrações de rebeldes e da rebelião armada.

A reação da Índia

O primeiro-ministro Narendra Modi prometeu encontrar os responsáveis pelo ataque e exigiu "ação concreta" por parte do Paquistão. Em 26 de fevereiro, caças da Força Aérea Indiana entraram no espaço aéreo paquistanês para um "ataque preventivo" contra o que apresentou como um grande campo de treinamento do grupo JeM em uma área de fronteira da Caxemira.

Um grande número de combatentes foi morto no ataque, segundo Nova Délhi, que disse que o grupo está preparando novos ataques. O Paquistão confirmou o ataque aéreo indiano, mas afirmou que os caças só teriam liberado suas "cargas úteis", cuja natureza precisa não foi especificada, o que não teria causado danos ou vítimas.

A reação do Paquistão

Islamabad denunciou uma "agressão intempestiva" e prometeu responder quando julgar apropriado. O ataque aéreo da Índia no Paquistão foi o primeiro do tipo desde a guerra de 1971 na região do leste do Paquistão (agora Bangladesh), antes de os dois países se tornarem potências nucleares.

Na quarta-feira, os caças paquistaneses cruzaram a fronteira da Caxemira e bombardearam em território aberto. Nos combates que se seguiram a este ataque, o Paquistão anunciou ter derrubado dois aviões indianos, dos quais um teria caído do lado indiano da Caxemira e outro do lado paquistanês, e a prisão de um piloto indiano.

A Índia declarou ter "perdido um Mig-21" e abatido um avião paquistanês, i que Islamabad negou. O Paquistão anunciou então o fechamento de seu espaço aéreo.

Piloto será libertado

A crise preocupa a comunidade internacional que teme um conflito aberto. Mas, sinal de uma possível distensão, o primeiro-ministro paquistanês, Imran Khan, anunciou nesta quinta-feira que vai libertar na sexta-feira o piloto capturado no confronto.

"Como gesto de paz, vamos libertar o piloto indiano (amanhã)", declarou o chefe de governo perante a Assembleia Nacional.

Os dois países estão sob pressão para evitar a todo custo uma nova guerra, mas o governo indiano também se vê num impasse pela opinião pública, reticente em deixar a última palavra ao Paquistão.

Origem

A Índia e o Paquistão, nascidos da divisão do Império Britânico da Índia em 1947, travaram três guerras, duas delas pela Caxemira, que está, nos últimos dias, no centro de uma nova onda de tensões entre essas duas potências nucleares.

Divisão sangrenta

Na noite de 14 a 15 de agosto de 1947, o vice-rei das Índias, Lord Louis Mountbatten, entregou a Nova Délhi o poder sobre o território. Após dois séculos de domínio, a ex-colônia britânica é dividida em dois Estados: a Índia (majoritariamente hindu) e o Paquistão (muçulmano). 

Este último é inicialmente composto por dois territórios distintos em ambos os lados da Índia. Mal preparada, a partição leva milhões de pessoas ao êxodo e provoca massacres comunitários em grande escala.

Divisão da Caxemira

No outono de 1947, uma guerra estourou por causa da Caxemira, uma região predominantemente muçulmana do Himalaia, seguida em 1949 por um cessar-fogo sob os auspícios das Nações Unidas. A Caxemira é então dividida em dois setores separados por uma linha de controle: dois terços administrados pela Índia e um terço pelo Paquistão. Entre agosto e setembro de 1965, um segundo conflito irrompeu, seguido por um novo cessar-fogo.

Criação de Bangladesh

Em dezembro de 1971, uma nova guerra opõe os dois países, quando o exército indiano intervém ao lado dos separatistas bengalis no Paquistão oriental. Este território se torna Bangladesh.

Potências nucleares

Após um primeiro teste em 1974, a Índia realizou cinco novos testes nucleares em 1998. O Paquistão respondeu com seis tiros. Tendo se tornado de fato a sexta e a sétima potências nucleares, os dois rivais atraem condenações e sanções internacionais.

Insurreição na Caxemira

No final de 1989, os rebeldes muçulmanos lançam uma insurgência separatista na Caxemira indiana, mais tarde recuperada por grupos islâmicos armados.  Os dois exércitos se enfrentam em 1999 na região montanhosa de Kargil (Caxemira indiana). À beira de um quarto conflito em 2002, os dois rivais renovaram as relações diplomáticas em abril de 2003. Um cessar-fogo foi concluído, sem acabar com a guerra de guerrilha. No início de 2004, a Índia e o Paquistão iniciaram um processo de paz.

Atentados e tensões

Em novembro de 2008, ataques coordenados em Mumbai mataram 166 pessoas. A Índia, que vê nisso a mão dos serviços de inteligência paquistaneses, interrompe o processo de paz. O diálogo é retomado em 2011, mas será enfraquecido por incidentes mortais nas fronteiras.

O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, no entanto, faz uma visita surpresa em dezembro de 2015 a Lahore, onde encontra seu colega Nawaz Sharif. Um novo episódio de tensão ocorre após o sangrento ano de 2016 e um ataque em setembro liderado pelo grupo islâmico Jaish-e-Mohammed (JeM) contra uma base militar indiana na Caxemira. 

Nova Délhi responde com ataques a posições separatistas ao longo da linha de cessar-fogo. Desde 1990, a insurreição separatista já matou dezenas de milhares de pessoas, a maioria civis.