Estudantes bolivianos tomam as ruas contra Evo Morales

A principal demanda dos jovens bolivianos que bloqueiam as ruas é que o presidente Morales renuncie

Escrito por AFP ,
Legenda: Os jovens alegam que Morales não cumpriu várias de suas promessas
Foto: AFP

Milhares de estudantes e de jovens bolivianos, de diferentes lados do espectro político, foram às ruas protestar contra a polêmica reeleição de Evo Morales, o único presidente que conheceram.

Várias estradas e pontes foram bloqueadas na última semana, na Zona Sul de La Paz, onde vivem as classes média alta e alta. Agora, os universitários levaram o protesto para o centro, a poucas quadras da "Grande Casa do Povo", uma moderna torre de 24 andares onde fica o gabinete de Morales.

"Mais do que tudo esperamos que o governo se dê conta de que o povo está insatisfeito, que saibam que o povo está unido, ninguém se rende", disse à AFP Allyson Requena, estudante de Arquitetura, de 20 anos.

"É triste. Deixa muitos dos jovens que estão aqui indignados, porque somos uma geração que, até hoje, viu apenas um presidente, que é o presidente Evo Morales Ayma", acrescentou, ao seu lado, sua companheira de carreira Jennifer Quispe, de 18.

Bloqueios

Nos bairros de La Paz, os manifestantes da oposição usaram latas de lixo, pedras, veículos e até móveis velhos para bloquear ruas e exigir a renúncia do presidente indígena de esquerda.

Próximo à Praça dos Estudantes, seis alunas de Arquitetura da Universidad Mayor de San Andrés (UMSA), entre elas Requena e Quispe, usaram uma corda fina para bloquear ontem o trânsito na avenida Arce, que liga a região com a Zona Sul da cidade.

As estudantes amarraram a corda a postes de cada lado da avenida e penduraram uma bandeira tricolor boliviana (vermelho, amarelo e verde), símbolo usado apenas pelos opositores, diferentemente dos leais a Morales que levam bandeiras andinas de sete cores, as whipala.

Durante o bloqueio, uma caminhonete da polícia se aproximou lentamente pelo sul. O veículo parou, e desceu um sargento, que pediu que os deixassem seguir adiante.

Sem lhe dar muita atenção, porque estavam conversando em seus celulares, as universitárias responderam que não. A Polícia então recuou silenciosamente a patrulha e voltou pela mesma direção de onde chegou.

"Isso estava por vir"

"Aqui tem um governo socialista que pretende ser um governo ditatorial, que pretende reprimir a população, e acreditamos que tem que haver uma esquerda mais democrática, mais ampla", disse à AFP Beto Acosta, da plataforma cidadã Otra Izquierda es Posible.

Os jovens alegam que Morales é responsável por "fraude" nas eleições e que desconheceu o resultado do referendo de 2016, quando os bolivianos rejeitaram a reeleição por tempo indeterminado. Uma polêmica sentença de um tribunal constitucional em 2017 lhe permitiu ser candidato mais uma vez.

"É a segunda vez que Evo Morales quer roubar o voto da população. Isso estava por vir", afirma Acosta.

"Ele disse 'há mudanças, há educação, tem isso e tem aquilo', mas infelizmente, não", reclamou Quispe, a estudante de Arquitetura.

Dezenas de universitários tentaram chegar à "Grande Casa do Povo" na quinta-feira à noite, mas foram repelidos com gás lacrimogêneo pela polícia.