Disparos de mísseis pelo Hamas preocupam imigrantes em Israel

Conflito árabe-israelense vive escalada de tensões, colocando em risco a população civil, principalmente quem mora próximo à Faixa de Gaza

Escrito por Sérgio Ripardo ,
Legenda: Bateria do sistema antimíssil de Israel tem sido cada vez mais acionada para derrubar os mísseis disparados pelo Hamas, que controla a Faixa de Gaza
Foto: Foto: AFP

Do tamanho de Sergipe, o menor estado do Brasil, Israel trava um conflito secular com os palestinos, o que deixa o cotidiano de judeus (75% dos habitantes) e de não judeus (25%, principalmente árabes) sob um clima de apreensão com os rumos da luta armada. Mísseis disparados da Faixa de Gaza, região controlada pelo movimento extremista Hamas, costumam rasgar os céus e assustar cidades urbanas e rurais. O Exército hebreu tem evitado o pior com seu eficiente escudo antimíssil, conhecido como Iron Dome (Cúpula de Ferro, em tradução livre).

Longo e estreito em seu formato, o país do Oriente Médio é o lar de cerca de 9 milhões de moradores, o equivalente à população do Ceará. Cerca de 92% dos israelenses vivem em 200 centros urbanos, alguns situados em locais históricos bem antigos, cultuados por três tradições religiosas monoteístas (judaísmo, catolicismo e islamismo).

Ponto de vista

Cearense de Fortaleza, Rodrigo Mourão mora há dois anos em Beitar Illit, a 10 km de Jerusalém. Ele, que trabalha como inspetor de trem da capital israelense há um ano, conta como foi a adaptação ao país.

"Foi um pouco difícil de se adaptar, clima, comida, idioma. Hoje, já me acostumei com a vida aqui. Certamente, pretendo ficar", diz. Contudo, os disparos de foguetes pelo Hamas em direção ao território de Israel preocupam.

"Não converso muito com as pessoas acerca do assunto. Mas a sensação geral é que as pessoas não querem conflitos. Acho que todo ser humano quer paz. Ninguém quer estar em zona de conflito", afirma.

Segundo Mourão, a comunidade de brasileiros é relativamente bem articulada: "quando você conhece um brasileiro, logo cria laços de amizade". Na eleição passada, 18 títulos emitidos no Ceará votaram na embaixada do País em Tel Aviv, centro da vida industrial, comercial, financeira e cultural israelense. Esse dado do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não inclui quem não transferiu o título.

'Inferno'

Nascido em São Paulo, o estudante Dov Battat mora em Jerusalém e, no seu tempo livre, traduz notícias sobre Israel. Ele confirma que o conflito árabe-israelense vive uma escalada de tensões, principalmente nas cidades próximas à Faixa de Gaza e na fronteira norte com o Líbano, onde atua o Hezbollah, grupo xiita apoiado pelo Irã.

"A população dessas áreas vive um verdadeiro inferno", descreve. O medo dos israelenses é que a situação se agrave como ocorreu em 2014, quando uma chuva de mísseis caiu em várias localidades de Israel.

"Em Jerusalém, só cai míssil quando estamos em guerra mesmo ou em um conflito pesado como no ano de 2014. Há o medo constante de que um terrorista árabe irá te esfaquear pelas costas a qualquer momento", relata Battat.

No último dia 24 de agosto, um festival de música foi cancelado após três mísseis disparados de Gaza levarem pânico aos participantes, em Sderot. Os foguetes foram interceptados pelo escudo antimísseis.

Quem tem amigos morando em Israel sabe dos perigos que envolvem o conflito entre palestinos e israelenses, mas destaca o poder do Exército hebreu de se defender e reagir.

"Os antimísseis de Israel são notáveis, dão segurança", ressalta o professor de hebraico Jónatas Cavalcante, um paulista filho de cearense. Morador de Fortaleza, ele ensina o idioma em um curso de línguas, na Cidade dos Funcionários, e mantém contatos com israelenses em Asdode, próxima à fronteira com o Líbano.

"Quando se compara com o Brasil, realmente se vive um paraíso em Israel, apesar da iminência de ataques via mísseis", compara Cavalcante.

Plano de paz

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, disse, na sexta (6), que os EUA apresentarão seu aguardado plano de paz para o Oriente Médio em poucas semanas. Pompeo reconhece que se trata, porém, de uma tarefa difícil. O Governo Donald Trump deixou o plano em espera depois que as eleições foram convocadas em Israel em 17 de setembro.

Protestos em Gaza

Desde março de 2018, a barreira de fronteira da Faixa de Gaza com Israel tem sido palco de manifestações semanais, acompanhadas de confrontos, para exigir o levantamento do estrito bloqueio israelense imposto por dez anos ao enclave, entre outras demandas. Desde essa data, pelo menos 308 palestinos foram mortos.