Com fome, sobreviventes de terremoto se desesperam na Indonésia

Número de mortos na tragédia supera 1.300, enquanto saques são reprimidos, e hospitais ficam superlotados

Escrito por Redação ,
Legenda: Distribuição de alimentos tenta aliviar o drama dos indonésios, que sofrem ainda com a falta de energia elétrica e longas filas para receber água, dinheiro e combustível, além de bloqueio de estradas e de danos na infraestrutura do país
Foto: Foto: AFP

Palu. Mais de 1.300 pessoas morreram no terremoto e tsunami que atingiram a ilha indonésia de Célebes, onde ontem prosseguiam as operações de busca, e a polícia tentava evitar os saques. A polícia deu tiros de advertência e usou gás lacrimogêneo para dispersar as pessoas que saqueavam lojas em Palu, cidade devastada pelo tremor de 7,5 graus de magnitude e o posterior tsunami de sexta-feira da semana passada. Os sobreviventes lutam contra a fome e a sede. Os hospitais estão saturados com o grande número de feridos. O balanço oficial chegou a 1.350 mortos, divulgou a BBC.

A polícia, que até agora havia tolerado que sobreviventes desesperados entrassem em mercados fechados para pegar comida e água, prendeu 35 pessoas pelo roubo de computadores e dinheiro. O desespero é visível nas ruas de Palu, onde os sobreviventes escalam as montanhas de destroços para procurar objetos.

Outros se reúnem nas proximidades dos poucos edifícios com energia elétrica ou entram em filas para receber água, dinheiro ou combustível, observados por policiais armados.

"O governo, o presidente, todos vieram, mas o que realmente precisamos é de comida e água", disse Burhanuddin Aid Masse, de 48 anos.

As equipes de emergência não têm equipamentos suficientes, e os trabalhos são dificultados pelas estradas bloqueadas e os danos nas infraestruturas. Além disso, ontem, o país registrou dois tremores na costa. O exército lidera os trabalhos de resgate, mas ONGs internacionais também enviaram equipes à região. Entre os mortos estão vários estudantes que tiveram os corpos retirados dos escombros de uma igreja.

Ajuda humanitária

A Indonésia é o país muçulmano de maior população do mundo, mas também possui minorias religiosas, como os cristãos, entre os 260 milhões de habitantes.

O Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU calcula que 191 mil pessoas precisam de ajuda humanitária de emergência, incluindo 46 mil crianças e 14 mil idosos.

O clima na Indonésia acelera a decomposição dos corpos, um grave risco sanitário. Caminhões lotados de cadáveres chegam ao local para os enterros em massa. Ao mesmo tempo, as equipes de resgate lutam contra o tempo para tentar encontrar sobreviventes entre os escombros. Apenas no hotel de Roa Roa, os socorristas acreditam que entre 50 e 60 pessoas podem estar presas nos destroços. Só duas foram resgatadas.

Reencontro

Muitas pessoas passaram os últimos dias em busca de informações sobre parentes, nos hospitais e necrotérios improvisados.

Foram dois dias de angústia, procurando nos necrotérios e hospitais, mas finalmente Azwan encontrou a esposa Dewi, que havia sido arrastada pelo tsunami. Ou seja, uma quase segunda parte do filme "O impossível" (2012), que conta a trágica história real, mas com final feliz, de um casal e seus três filhos separados por um violento tsunami na Tailândia.

Azwan, de 38 anos, conta a história ao lado da esposa em uma pequena barraca instalada à margem de uma estrada. A emoção é visível e ele não consegue conter as lágrimas.

"Estava tão feliz, tão emocionado. Graças a Deus consegui voltar a encontrá-la", disse. Como muitos indonésios, Azwan tem apenas um nome.

A história de Azwan e Dewi é uma exceção. Dewi estava registrando os convidados que participariam em um festival em um hotel quando a terra tremeu. Uma hora depois a onda gigante atingiu a cidade. "A onda me acertou com força. Quando retomei a consciência estava na rua, na frente do hotel".

Ela caminhou pelas ruas repletas de escombros e passou a noite em um abrigo. "Sem comida, sem água", recorda.

"Pediram que aguardássemos até que a situação fosse considerada segura, os tremores secundários não paravam". No outro lado da cidade, Azwan estava angustiado. Ele escapou da tragédia com a filha, mas não tinha nenhuma notícia da mulher.

Ele iniciou uma busca que durou quase dois dias, com visitas a necrotérios e hospitais lotados.

"Como não via minha mulher nos sacos (mortuários), retornei ao hospital e verifiquei no necrotério", recorda Azwan. "Havia uma quantidade gigantesca de corpos. Estava tudo desordenado, uns por cima dos outros".

No domingo, quando se preparava para aceitar a "vontade de Deus", a esposa apareceu na casa da família, de moto. "Quando desceu da moto foi uma euforia", conta Azwan. "Todos choravam. Os parentes, chorando, a abraçaram". Dewi agradece a Deus pela "segunda chance", mas ainda tem dificuldades para acreditar em tudo.

"Mesmo agora não consigo acreditar que estou vivia. Ainda estou traumatizada", afirmou.