Aliado de Bolsonaro, Maurício Macri sofre risco de derrota eleitoral

Mauricio Macri caminha para uma derrocada nas urnas, após um mandato em que não tirou o país da recessão Alberto Fernández, que tem Cristina Kirchner como vice, aproveitou a crise de Macri para conquistar votos

Escrito por Redação , mundo@verdesmares.com.br
Legenda: Mauricio Macri concorre à reeleição
Foto: Foto: AFP

Mais de 20 pontos percentuais separam o primeiro e o segundo candidato à Presidência da Argentina nas pesquisas de intenções de voto. No comando do país, o presidente Mauricio Macri deve enfrentar uma difícil derrota, caso os números se confirmem.

Enquanto apenas 31,5% dos argentinos declaravam intenção de votar no atual dirigente do país, 54% preferem que o peronista Alberto Fernández assuma o governo, acompanhado da ex-presidente Cristina Kirchner como vice. A volta do kirchnerista representa o retorno da esquerda à Presidência da Argentina.

"São os efeitos da política adotada por Macri em seu governo. Ele fez uma política bem ortodoxa na questão da implantação do modelo neoliberal", explica Aquiles Melo, coordenador do Centro de Estudos Latino-Americanos (Cesla) do Instituto Federal do Ceará (IFCE).

Sob o governo Macri, os indicadores econômicos da Argentina pioraram. Em 2018, o país sul-americano registrou a inflação mais alta em 27 anos, chegando a 55%. O desemprego superou 10% da população economicamente ativa, e o peso sofreu forte desvalorização frente ao dólar.

"O saldo dessa política foi o aumento do número de pobres na Argentina", afirma Melo. "Hoje, 34% da população Argentina, até mais do que isso, são pobres. Você tem problemas sociais graves como mendicância, questões de fome, que precisam ter respostas sociais e na crise não foi possível dar conta disso".

Além disso, houve um crescimento do endividamento externo da Argentina. Em agosto, o país decretou uma nova moratória, a oitava de sua história, pedindo a renegociação de sua dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Soluções

Em meio aos indicadores negativos, Macri buscou alternativas em medidas contrárias à agenda liberal pregada por seu governo, entre eles o congelamento de preços de 60 itens de consumo. Apesar disso, o presidente foi derrotado pela chapa Fernández-Kirchner nas primárias. O primeiro obteve 32,08% dos votos, enquanto os peronistas obtiveram 47,66% dos votos.

Após os resultados, o governo lançou novo pacote com medidas mais parecidas com a política adotada pelo grupo político dos adversários. Reajuste extraordinário do salário mínimo, bônus especial para o funcionalismo público e uma tentativa de congelamento dos preços de combustíveis até outubro. Contudo, Macri não obteve nem aumento da popularidade nem melhora da crise econômica.

Riscos

Por outro lado, a política econômica de Fernández ainda não está explícita. Ele diz ser a favor da abertura de mercados, porém, "desde que não custe o trabalho dos argentinos". Espera-se, portanto, que sua política econômica seja menos protecionista do que a da gestão de sua vice, Cristina Kirchner, porém mais protecionista do que a de Macri.

Para Melo, tudo dependerá da renegociação da dívida com o FMI. "Esse acordo é o problema, porque está gerando uma onda de insatisfação na América Latina. Tudo vai depender do impacto dessa renegociação na população".

Brasil

A possível derrota de Macri na Argentina é mais uma de uma série de possíveis revezes para o governo brasileiro na região, destaca o professor do curso de Ciências Sociais da UFC, Jakson Alves de Aquino. "O receituário neoliberal fracassou em estimular a economia. Os governos de direita aumentaram a desigualdade social", observa.

No Uruguai, a Frente Ampla, coalizão de esquerda, lidera as pesquisas presidenciais, enquanto na Bolívia, Evo Morales obteve maioria dos votos na disputa pelo quarto mandato consecutivo.

Um movimento popular apoiado pelo ex-presidente Rafael Correa ameaça a estabilidade do governo Lenín Moreno no Equador, e Nicolás Maduro consegue se manter no poder na Venezuela, apesar da profunda crise econômica e da pressão internacional, da qual o Brasil faz parte.

Para Melo, no entanto, é precipitado apontar a volta de governos de esquerda ao poder na América Latina. "Nós devemos assistir, nos países que implantaram fortemente o modelo neoliberal, à possibilidade de retorno desses governos de esquerda e centro esquerda", considera.

"Agora, a esquerda proposta por eles não é uma esquerda de ruptura institucional, e sim mais voltada para o aspecto da social democracia, tentando fazer esse acordo entre as classes sociais", completa.

Mercosul

Fernández enfrenta a desconfiança de Bolsonaro. "A volta da turma do Foro de São Paulo e da Cristina Kirchner pode colocar em risco todo o Mercosul", declarou o presidente brasileiro nesta semana, durante giro pela Ásia.