Zika tem outras formas de contágio

Sexo sem proteção, transfusão de sangue e amamentação também podem transmitir a doença

Escrito por Redação ,

Após várias epidemias de dengue e primeiros casos confirmados de febre chikungunya, agora chegou o zika vírus para tirar o sono dos médicos e da rede pública de saúde no Brasil. E o pior: a doença não só é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, como também a pessoa pode ser infectada pelo sexo sem camisinha, transfusão de sangue e de mãe para filho por meio da amamentação.

A informação é do infectologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Kléber Luz. Um dos nomes mais conceituados da medicina nacional e estudioso da dengue, chikungunya e, agora, zika vírus. Ele participa do 51º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (MedTrop/SBMT), que termina hoje, no Centro de Evento do Ceará (CEC).

De acordo com o médico, a ZIKV (como é chamada) é recente e ainda pouco se sabe sobre ela. "Na última semana de abril, pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA) conseguiram isolar o vírus, mas de uma coisa, a gente sabe: a doença está disseminada em todo o território brasileiro e, em particular, no Nordeste. Infelizmente, ainda não temos número de casos oficiais, divulgados pela secretarias estaduais de saúde ou do próprio Ministério da Saúde", afirma.

Ele admite que há possibilidade de haver uma epidemia da enfermidade no Brasil. A ZIKV, diz, é transmitida, em pelo menos 90% dos casos, pelo Aedes aegypti, e o mosquito é um vetor que está espalhado pelo País. "Muitas pessoas podem estar infectadas com o vírus e nem têm sintomas ainda", diz.

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O curioso é que, enquanto o médico conversava com a reportagem, teve que ser interrompido, pois um dos palestrantes (pediu para não ser identificado) do evento precisou ser avaliado. Ele apresenta sintomas da doença. "É para você vê. Acredito que você, eu, e todos nós poderemos ter a doença", aponta.

O zika, explica, tem um quadro clínico mais brando do que a dengue e o chikungunya, e só cerca de uma em cada cinco pessoas infectadas desenvolve a doença. Além de não haver registro de mortes relacionadas à enfermidade, a evolução é benigna e os sintomas - que incluem também dores articulares e febre baixa - geralmente desaparecem entre três e sete dias.

Gravidade

"No entanto, nós já observamos que, em ocorrências mais graves, o paciente pode desenvolver a síndrome de Guillain-Barré, que causa a paralisia nas pernas. Em Natal, no ano passado, tivemos três confirmações dessas. Neste ano, já contabilizamos 11 casos. Só para se ter a ideia da evolução do vírus", acrescenta Kléber Luz.

Os primeiros casos no Brasil foram identificados no Nordeste, em maio deste ano, segundo o Ministério da Saúde. Apesar de a região concentrar a quase totalidade dos registros clínicos, já houve identificações do vírus em São Paulo, no município de Sumaré. Não há ocorrências oficializadas no Ceará.

O vírus, pertence a família Flaviviridae, recebeu o nome zika, já que os primeiros trabalhos ocorreram próximo à Floresta de Zika, em Uganda. Zika significa "coberto", "cheio", na língua local, Luganda.

A suspeita é que o vírus, que está sendo identificado pela primeira vez na América Latina, tenha chegado ao País durante a Copa do Mundo, trazido por turistas africanos ou asiáticos, regiões onde a doença é bastante comum..

Lêda Gonçalves
Repórter

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