Vias federais têm mais chances de acidentes fatais em Fortaleza

Relatório de segurança viária aponta risco quase três vezes maior de óbitos em acidentes ocorridos em BRs. Excesso de velocidade e ausência de infraestrutura de segurança para pedestres e ciclistas podem impactar

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@diariodonordeste.com.br
Legenda: As estradas federais não tem, segundo relatório, condições ideias para promover segurança viária para todos os seus usuários
Foto: FOTO: FABIANE DE PAULA

As rodovias federais que cortam a Capital apresentam aproximadamente três vezes mais chances de resultar em acidentes fatais quando comparadas às vias municipais. A informação consta na nova edição do Relatório Anual de Segurança Viária de Fortaleza, lançado nesta semana. Nas federais, as chances são de 5% de resultar em óbitos - embora elas só concentrem 3,18% de todas as ocorrências -, enquanto nas ruas e avenidas municipais - onde ocorrem 91,71% do total de acidentes -, são de 1,8%.

O documento aponta que as vias federais, muitas vezes, funcionam como rodovias urbanas, "induzindo maiores velocidades ao condutor, o que pode estar relacionado com maiores riscos de mortalidade". Para Dante Rosado, coordenador da Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global em Fortaleza, há outro fator que contribui para a maior gravidade dos acidentes: a geometria dessas vias.

"Além da alta velocidade, não temos boas estruturas para o pedestre e para o ciclista. Os pedestres, com dificuldade de travessia, acabam por fazê-la fora da passarela. Essa combinação de velocidade alta e ausência de infraestrutura adequada para usuários mais vulneráveis acaba fazendo com que, quando ocorre um acidente nessas vias, ele tenda a ser mais grave", observa Rosado.

Ainda conforme o coordenador, nas vias municipais a severidade é menor porque a velocidade e o fluxo são mais moderados, pela existência de semáforos. De acordo com Líris Silveira, superintendente do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) no Ceará, um dos grandes problemas é a especulação imobiliária de prédios comerciais e residenciais no entorno das rodovias federais. "As prefeituras não deveriam deixar empreendimentos serem construídos próximos de rodovias. A gente precisa das estradas para carregar cargas, por isso que é tráfego rápido. Tudo acaba ficando mais perigoso", explica.

Investimento

De acordo com a gestora do Dnit, o órgão está investindo na construção de novas passarelas para reduzir os índices de acidentes. "Nesse projeto, já contratado, são 25. Estão sendo colocados em trechos urbanos. Se as desapropriações ocorrerem no tempo a que gente espera tudo ficará pronto até o final de 2020. Serão instaladas na BRs 020, 222,116 e Anel Viário".

Ao mesmo tempo, o Dnit aprovou, por meio de estudos, 58 novos equipamentos que serão instalados nas BRs 116, 222 e 020. "Nós temos um contrato de antigos equipamentos que ainda estão sendo retirados. Depois que tirarem colocaremos os novos, para não confundir os motoristas".

Segundo o Relatório, o pico de ocorrências se dá nos finais de semana, "período em que o consumo de álcool é comumente mais intenso e, também, quando as vias estão mais livres, possibilitando o tráfego em maiores velocidades". O levantamento mostra que, dos 14.694 acidentes ocorridos em Fortaleza, no ano passado, 6.215 (42% do total) se deram entre sexta-feira e domingo.

Perigo noturno

Outra característica é a maior gravidade de acidentes no período noturno. Dos 2.103 acidentes ocorridos entre 21h e 5h, 1.603 - 76% - tiveram alguma vítima, ferida ou fatal. O relatório analisa que, quanto menor o fluxo veicular, maior é o potencial de se desenvolver velocidades mais elevadas.

"Ela contribui diretamente para a ocorrência do acidente, ou seja, quanto mais veloz você está, mais dificuldade tem de perceber o entorno do seu ambiente, de perceber um pedestre ou um ciclista na via", esclarece Dante Rosado, coordenador da Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global em Fortaleza, que aponta outros três fatores a serem combatidos: o não uso do capacete; o não uso do cinto de segurança; e a direção após ingestão de bebida alcoólica.

Mais de 90% dos feridos nos sinistros tem entre 18 e 59 anos, a faixa economicamente mais ativa da sociedade. Além disso, o homem jovem e motociclista é o perfil que mais se envolve em acidentes na Capital. "O impacto na vida dessas pessoas é muito importante. Eles deixam de trabalhar, depois dos acidentes, e muitos são pais de família", pondera a secretária municipal de Saúde, Joana Maciel.

Infraestrutura

Para o coordenador do Observatório de Segurança Viária na Universidade de Fortaleza (Unifor), Ezequiel Dantas, enquanto houver vítimas ainda há "um longo caminho a ser percorrido", principalmente no avanço de infraestrutura mais segura para os ciclistas. Na opinião dele, as reduções de velocidade em algumas vias, como Leste-Oeste e Osório de Paiva, "são muito bem colocadas e devem continuar, já que o principal fator de risco é a velocidade".

Questionado se é possível fazer uma educação de trânsito eficiente sem que se pese tanto no bolso do usuário, Ezequiel Dantas defende a necessidade de um esforço integrado. "O caso da Lei Seca, por exemplo, é um sucesso, porque há uma punição grave. Essas punições servem para desestimular os maus costumes ao dirigir", explica.

Segundo o Relatório Anual de Segurança Viária de Fortaleza, a espacialização das ocorrências e a identificação dos horários críticos possibilita uma orientação mais eficiente de ações de fiscalização e educação em zonas críticas.

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