Unidade Canguru fez 100 atendimentos neste ano

Método desenvolvido desde a década de 1990 por maternidades no CE transformou em política pública no País

Escrito por Vanessa Madeira - Repórter ,
Legenda: A metodologia possui vantagens para os bebês, para as mães e até para a própria instituição, em virtude de ser uma técnica de baixo custo
Foto: Foto: Reinaldo Jorge

Quando Priscila viu o filho Tomás pela primeira vez, internado na UTI neonatal com pouco mais de 1kg, o coração apertou. Nascido aos sete meses, após complicações na gestação, o bebê saiu da barriga da mãe direto para a incubadora, onde respirava e se alimentava por aparelhos. "Quando ele nasceu, não sabia nem o que dizer. Levaram logo para a UTI porque o caso era muito sério. Me assustei quando vi ele tão pequeno, tão frágil". Os dez dias que ficou na unidade pareceram eternidade para a mãe. Hoje, porém, com quase um mês do nascimento, o bebê já se prepara para receber alta. "Nem parece aquela 'pessoinha' que era. Já cresceu, pegou peso. Está totalmente diferente", diz Priscila.

A recuperação rápida de Tomás é resultado de um trabalho desenvolvido desde a década de 1990 por maternidades no Ceará e que já transformou em política pública no País: o Método Canguru. Voltado para crianças com baixo peso, o processo consiste não só na permanência contínua da mãe e do recém-nascido na posição canguru, mas também no tratamento humanizado antes do parto, ainda no pré-natal da gestação de risco, e após o retorno da família para casa.

As três etapas incluem ações que possibilitam a reabilitação de bebês frutos de partos de alto risco, além de promoverem um maior vínculo afetivo entre a criança e a mãe. No Ceará, o Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC), certificado pelo Ministério da Saúde como Referência Estadual no método na última sexta-feira (23), é a principal unidade a desenvolver o trabalho. Neste ano, cerca de 100 recém-nascidos já passaram pela Unidade Canguru da instituição.

Pilares

"O método tem três pilares. O primeiro é a manutenção da temperatura do corpo do prematuro a partir da aproximação com a mãe, difícil de conseguir. O segundo é o aleitamento materno. Isso é favorecido pelo contato, porque faz com que a mãe produza mais leite e o bebê seja estimulado a mamar. O terceiro pilar é o sentimento da mãe com o filho e do filho com a mãe, que também é propiciado pelo contato", afirma Natércia Bruno, coordenadora da Referência Estadual em Método Canguru. Ela explica que o método possui vantagens para os bebês, para as mães e até para a própria instituição, em virtude de ser uma técnica de baixo custo. Para os recém-nascidos, há menor risco de infecções para o bebê, redução do tempo de internação e diminuição do estresse. No que se refere às mães, o processo promove mais segurança na amamentação e nos cuidados com os filhos depois da alta, além do fortalecimento de laços afetivos.

Logo após o parto do filho, há aproximadamente um mês, a agricultora Euzenir da Silva mal tinha coragem de segurá-lo. Pequeno e prematuro, nascido com apenas seis meses de gestação, Israel pesava 1,210kg. Passou dias internado, entubado e se alimentando de forma restrita. O Método Canguru foi a alternativa para que a criança ganhasse peso e a mãe, confiança.

Pequeno

"Eu tinha medo de pegar ele no início porque era tão pequeno. No atendimento, aprendi muita coisa que já tinha esquecido da minha primeira gravidez. A trocar fralda, dar banho, amamentar. Agora ele já está com peso bom, os exames também", diz.

Apesar do papel fundamental da mãe, o método busca envolver toda a família. Segundo Roselise Saraiva, coordenadora da equipe de enfermagem da Unidade Canguru da Maternidade Escola Assis Chateaubriand (Meac), os pais também são convidados a participar do processo, aprendendo sobre os cuidados com o recém-nascido e utilizando a posição canguru. A presença do pai na maternidade, apoiando a mãe, é importante para a evolução mais rápida da criança e para a construção da idade paterna, afirma.

"Culturalmente, é passado que a mãe é a responsável pelo cuidado com o filho. Os pais não sabem que podem e devem participar. Ao ter esse momento, o pai certamente vai ter segurança e encontrar uma abertura maior para atuar. É uma questão de vencer barreiras culturais".

Mais informações

Endereço: Av. Imperador, 545

Centro/ Fortaleza/ Ceará

Telefone: (85) 3101.5340 - 3101.5347

Site: http://www.hgcc.ce.gov.br

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