Um presente para Fortaleza

Com 294 anos, capital cearense busca dar exemplo em como lidar com uma crise na saúde pública

Escrito por Alessandra Castro , #AfetosUrbanos alessandra.Castro@svm.Com.Br

Fortaleza, mesmo diante de momentos difíceis, como os que vivenciamos agora, tu fazes questão de permanecer iluminada e de nos iluminar. Com 294 anos, a Capital do nosso Ceará é uma das metrópoles deste nosso País referência em Educação e que tem buscado dar exemplo em como lidar com uma crise na saúde pública.

Dados recentes de um estudo da empresa de tecnologia InLoco, baseados em informações de geolocalização de telefones celulares em todo o Brasil, mostraram que a maioria dos moradores da Capital tem ficado realmente em casa durante a pandemia do novo coronavírus. Os dados são referentes ao período de 13 de março a 6 de abril. O número precisa melhorar, mas devem ser comemorados por revelar o interesse de teu povo no combate a esse inimigo comum.

E, nesse ano, que estamos um pouco mais distantes de todas as coisas lindas que tu tens para nos oferecer, descobrimos o que é sentir saudade mesmo estando tão perto, principalmente de lugares e sensações que passavam desapercebidas pela correria do cotidiano. Redescobrimos nossas casas e, na memória, nossos lugares preferidos da Terra da Luz.

Até quem não tem crença nenhuma, agradece a Deus por poder guardar os afetos por ti na memória e no coração. E é com versos de canções majestosas de cearenses que te presenteio e mato um pouco da saudade de te viver, respirar, para que, ao lê-los, os fortalezenses (de coração ou de nascimento) também possam cantá-los e serem levados a algum momento especial que vivenciaram nas tuas ruas. Como diria Ednardo, "porque cantar parece com não morrer e é igual a não se esquecer que a vida que tem razão".

A primeira que me vem à cabeça é "Mucuripe", composição do nosso querido Belchior, que nos deixou saudade cedo demais, e do grande Fagner: "As velas do Mucuripe vão sair para pescar/ Vou levar as minhas mágoas pras águas fundas do mar/ Hoje à noite namorar/ Sem ter medo da saudade/ E sem vontade de casar".

Mucuripe me faz recordar dos teus verdes mares, da Praia do Futuro, da Praia dos Crushes, da Barra do Ceará, do encontro do mar com o rio na Sabiaguaba, da tua belíssima Beira-Mar. Quando tudo isso passar, meu coração vai explodir de felicidade ao poder mergulhar novamente nas tuas águas salgadas. Tenho certeza que esse é o desejo de muito fortalezense por aí, dentre tantos outros - como voltar à rotina, ao trabalho, rever amigos, beijar a mão da avó quando ela der a bênção e abraçar nossos amores distantes (o meu chama-se Lucas, mas atende por cabritim).

E com a lembrança dos teus mares, que não sai da minha cabeça, já me vem à mente a alegria que foi, e que és, teu Carnaval. Vê famílias, jovens, idosos, todos juntos, sem medo do abraço e de ficar pertinho. Pulando e cantando numa só sinergia. Para reviver um pouco dessa felicidade, nada melhor do que a canção "Terral", do nosso Ednardo. Afinal, somos todos "da nata do lixo, do luxo da aldeia, do Ceará".

"Eu venho das dunas brancas/Onde eu queria ficar/Deitando os olhos cansados/Por onde a vida alcançar/Meu céu é pleno de paz/Sem chaminés ou fumaças/No peito enganos mil/ Na terra é pleno abril/No peito enganos mil/ Na terra é pleno abril/ Eu tenho a mão que aperreia/ Eu tenho o sol e a areia/Sou da América, sul da América/ South America..."

Ah, Fortaleza, a saudade é dura, mas, por enquanto, para te proteger e deixar em segurança a saúde de quem amamos, o jeito é te olhar pela janela e ficar em casa. Afinal, somos cabras da peste e vamos enfrentar juntos mais essa crise. É saber que, quando tudo isso passar, sairemos orgulhosos, por termos feito tudo que estava ao nosso alcance pelo teu povo. Pela nossa história que ainda tem muito a ser vivida.

E com mais uma composição de Ednardo, dessa vez "Pavão Mysterioso", porque nada melhor do que o pessoal do Ceará para dizer em palavras poéticas o que sentimos, peço a Deus para nos dar força e nos proteger.

"Pavão misterioso, pássaro formoso/ Tudo é mistério nesse teu voar/ Mas se eu corresse assim/ Tantos céus assim/ Muita história eu tinha para contar/ Pavão misterioso nessa cauda aberta em leque/ Me guarda moleque de eterno brincar/ Me poupa do vexame de morrer tão moço/ Muita coisa ainda quero olhar".

Como diz minha vó e minha mãe: "Deus abençoe".

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