Tempo de resposta do Samu em Fortaleza ultrapassa quase 4 vezes o ideal

Pela literatura médica, o resgate do paciente em estado grave deve ser feito em até 10 minutos. Em Fortaleza, as equipes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência levaram, em média, 39 minutos para atender aos chamados em 2018

Escrito por Felipe Mesquita , felipe.mesquita@verdesmares.com.br

Do outro lado da linha telefônica, a pergunta imediata: “Samu de Fortaleza, com quem eu falo?”. A agilidade, porém, se restringe à ligação. Até chegar ao local da ocorrência, a Unidade de Suporte Avançado (USA) do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) levou, em média, 39 minutos para amparar os chamados de 2018. O índice anotado na Capital ultrapassa em quase 4 vezes o tempo resposta indicado pela literatura médica global, que orienta o resgate da vítima em estado clínico grave em até 10 minutos. 

Os dados obtidos pela reportagem do Sistema Verdes Mares, via Lei de Acesso à Informação (LAI), também apontam que, no ano passado, Fortaleza registrou 40.951 pedidos de socorro ao Samu.

O número demonstra uma redução tímida de 6,57% quando comparado aos 12 meses de 2017, que anotaram 43.832 casos com necessidade de apoio ambulatorial.

Depois que o usuário solicita ajuda através do 192, a telefonista da Central de Regulação Médica das Urgências do Samu acolhe a queixa e reúne informações básicas, como o nome da vítima e o endereço. Em seguida, numa espécie de triagem, o médico regulador avalia a gravidade do caso com base em protocolos técnicos antes de enviar a equipe. O tempo resposta começa a ser contado a partir da solicitação de resgate até a chegada dos profissionais à cena do incidente.

Segundo o artigo 29 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), veículos em situação de emergência sinalizados com iluminação vermelha e sinais sonoros têm prioridade de passagem e “gozam de livre circulação, estacionamento e parada”.

Contudo, embora o tráfego de ambulâncias esteja amparado na legislação, o esforço dos socorristas para cumprir o prazo mínimo de resgate se esbarra em problemas de organização urbana, que impossibilitam a rapidez do atendimento.

“Teoricamente, é para o socorro chegar, no caso em que a vítima é muito grave, em dez minutos, mas a gente sabe que pelas condições da malha viária, isso é praticamente impossível. O Samu distribui as ambulâncias nas bases da macrorregião de Fortaleza para justamente quando ele é acionado ter um tempo resposta mais curto, mesmo assim, não consegue pela condição da malha viária”, frisa a professora do curso de Medicina da Universidade Federal do Ceará, Cláudia Regina. 

Demanda 
Outro fator que implicou na demora do trajeto foi o número “insuficiente” de veículos, segundo o diretor médico do Samu, Frederico Arnaud. A frota era composta por três bikes, quatro “motolâncias”, 15 Unidades de Suporte Básico, duas Unidades de Suporte Intermediário e quatro Unidades de Suporte Avançado. Esta última operava com veículos abaixo da média preconizada pelo Ministério, que recomenda uma USA para cada 450 a 500 mil habitantes. 

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Fortaleza tem 2.643.247 moradores. Para cumprir o estabelecido pela Pasta federal, a cidade precisaria de uma quinta ambulância adquirida somente na semana passada. 

A adequação, no entanto, pode não resultar ainda na rapidez dos novos atendimentos. “Isso não quer dizer que o tempo resposta vai melhorar, porque depende de vários fatores. O que é da instituição, nós estamos corrigindo, fazendo intensos treinamentos de todos os funcionários e adequando o número de ambulâncias”, justifica Arnaud.

A Unidade de Suporte Avançado simula uma UTI de hospital para atender pacientes com quadro clínico de saúde crítico após acidentes, complicações por doenças coronarianas, intoxicações ou problemas psiquiátricos.

Ambulâncias deste tipo são equipadas com ventilador mecânico, desfibrilador, cardioversores, detector fetal, bomba de infusão de seringa, e medicamentos. 

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