Sorteio de matrículas em escola gera reclamações

O novo sistema de distribuição de vagas adotado pela Escola de Ensino Médio Adauto Bezerra, da rede estadual, não impediu que pais dormissem na entrada da unidade

Escrito por Bárbara Câmara , barbara.camara@diariodonordeste.com.br
Legenda: Apesar do sorteio, alguns pais decidiram passar a noite na entrada da Escola Adauto Bezerra à espera do início dos cadastros
Foto: Foto: J L Rosa

Nas primeiras horas de ontem (2), nem mesmo a luz do sol chegou tão cedo quanto Leiliane Moura, 44, na calçada da Escola de Ensino Médio Adauto Bezerra, no Bairro de Fátima. Na última terça-feira (1º), a moradora do bairro Ellery uniu-se ao grupo de pais e responsáveis por adolescentes que aguardavam o cadastro da solicitação de matrícula para alunos novatos vindos de colégios particulares. Parte da fila improvisada passou a noite na entrada da unidade e, às 5h de ontem, reunia cerca de 200 pessoas.

Para preencher o cadastro e pegar uma senha para a filha Lara Cíntia, de 15 anos, Leiliane contou com a companhia da mãe e do marido, que estiveram juntos na espera pela abertura do portão.

"A gente passou a noite aqui, ao relento. Queremos essa escola porque é referência, e é de meio período. Não queremos tempo integral porque a gente tem outros planos para a nossa filha, mas como não dá pra depender desse sorteio, vamos ter que procurar um lugar que dê pra garantir a matrícula", revela. Paralelamente aos cadastros da solicitação de matrículas, do dia 2 até o dia 4 de janeiro, senhas são entregues aos pais e responsáveis para que, na segunda-feira (7), seja realizado um sorteio na Escola, às 10h.

Quem tiver as senhas sorteadas receberá um telefonema informando que poderá realizar a matrícula na unidade. O sorteio representa uma novidade em comparação ao sistema dos anos anteriores, a partir do qual os novos alunos eram matriculados por ordem de chegada.

Esperança

Ao saber como as vagas seriam distribuídas, a expectativa de Vânia Maria do Carmo, 58, foi substituída pela tristeza. "Toda mãe tem o sonho de ver seu filho estudando em um bom colégio. A Amanda tem 15 anos, minha neta, e o sonho dela era vir pra cá. O pai dela estudou aqui, o meu filho, e ele teve muito sucesso. A gente quer a mesma coisa para ela", diz a pensionista. Sem condições de custear o ensino em um colégio particular, Vânia deposita fé na senha que recebeu, de número 224. "Vamos torcer. A esperança é a última que morre".

Para Edna Silva, 49, a jornada de espera foi dividida em duas partes. No dia 1º, às 14h, ela chegou à fila que se formava na entrada da Escola. Ao ser informada a respeito do sorteio, aguardou por algum tempo e só decidiu ir embora às 20h. Já no dia seguinte, ao solicitar a matrícula, Edna soube que só poderia preencher um único cadastro, o que seria insuficiente para seus filhos gêmeos. "Essa é a terceira escola em que eu venho. Não tenho mais condições de pagar o colégio particular, mas se só tiver vaga pra um, do que adianta?".

Otacílio Bessa, o diretor da Escola Adauto Bezerra, esclarece, porém, que o cadastro único vale para mais de um filho do mesmo pai ou responsável que for à escola.

"Eu acredito que o critério mais justo é a gente conseguir ofertar vaga para todos os filhos da nossa sociedade. Dormir na escola não é justo, nem todo mundo tem disponibilidade. Um pai sozinho que trabalha não tem condição de concorrer com um que tem mais tempo", afirma o diretor. Segundo ele, o processo de matrículas por ordem de chegada começou a causar uma dificuldade de logística devido à decisão dos pais de irem até a unidade sete dias antes do início das inscrições e 'se hospedarem' na escola. "Isso estava gerando um processo tanto de segurança quanto insalubre. Nós não tínhamos como alojar 300 famílias durante dias aqui na escola. Isso gerava uma complicação. A gente foi estudando uma outra forma de não gerar essa expectativa".

Unidade

O desafio para matricular filhos também persiste na rede pública do Município. No Planalto Ayrton Senna, outro grupo de pessoas passou a noite na calçada da Escola Municipal Tereza d'Ana, onde as vagas são distribuídas por ordem de chegada.

Lá, a diarista Isaela dos Santos, 22, passou a madrugada em claro à espera do início das matrículas para sua filha de 4 anos e o filho de 5. Às 7h de hoje (2), uma funcionária da escola fixou um papel no portão informando que havia apenas seis vagas para matrícula no Infantil 4 e sete para o primeiro ano do Infantil. Não há vagas para o Infantil 5. "Tinham 18 pessoas na minha frente, eu não consegui. Eu vou ter que ir atrás de uma escola no Maracanaú, senão os meus filhos vão passar mais um ano sem estudar. Eu não tenho condições de pagar", lamenta Isaela.

A gerente da célula de planejamento de rede da Secretaria Municipal da Educação (SME), Iracema Frota, afirma que há vagas disponíveis em toda a cidade, porém a projeção de vagas para novatos é determinada a partir do processo de confirmação de veteranos. "Com certeza, todos os alunos serão inscritos e encaminhados para as unidades mais próximas", diz.

Quando a demanda é muito grande para uma unidade específica, de acordo com a gerente, é feito um estudo com a escola em questão e com o distrito de educação. "Se houver a possibilidade de abrir mais vagas lá, será feito. É importante que as pessoas estejam atentas ao cronograma da matrícula, que vai até o dia 8 de janeiro. Nós entraremos em contato para dizer onde e quando a turma será aberta".

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.
Assuntos Relacionados