Síndrome da Zika Congênita gera sintomas tardios em bebês

Foram encontradas alterações no sistema nervoso de crianças sem diagnóstico da malformação

Escrito por Redação ,
Legenda: No Brasil , houve 1.656 confirmações de casos de microcefalia, conforme Ministério da Saúde
Foto: Foto: Lucas Moura
Os estudos do serviço de medicina da Maternidade Escola Assis Chateaubriand (Meac), coordenados pelo obstetra Herlanio Costa, mostraram que os bebês nascidos de mães que tiveram zika durante a gravidez, mesmo com o perímetro cefálico considerado normal, apresentaram sintomas tardios ligados à Síndrome da Zika Congênita. A descoberta veio por meio de um acompanhamento realizado nos primeiros meses de vida das crianças, cujas mães, que tiveram contato com o vírus, notificaram a doença. 
 
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O medo dos problemas decorrentes da microcefalia, que antes limitava-se ao período gestacional se estendendo até um possível diagnóstico no nascimento, agora, pode se manifestar tardiamente. Na Meac, um grupo de bebês é acompanhado por uma equipe multidisciplinar com o diagnóstico de Síndrome da Zika Congênita. Conforme Costa, nesses bebês, foram encontradas alterações no sistema nervoso, apesar de eles não terem diagnóstico da microcefalia. 
 
“O espectro menor pode começar com uma alteração nas circulações. Não sabemos ainda porque os bebês nascidos durante o surto não completaram nem um ano de idade. Muitos não conseguem se alimentar direito, têm restrição no crescimento. É uma síndrome, nem todo mundo é igual e eles estão sendo observados”, explicou o coordenador da pesquisa. 
O neurologista e neurogeneticista do Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), André Luiz Santos, ressalta que, na instituição, chegaram casos de microcefalia pós-natal. Em determinados pacientes foi verificada uma epilepsia tardia acrescida de um atraso no desenvolvimento da cabeça. “Não é que a cabeça diminua. Mas ela não se desenvolve como deveria”, avaliou Santos.
 
Atualmente, no Hias, 40% dos bebês com microcefalia são de Fortaleza e Região Metropolitana. Os outros 60% vêm do restante do Estado do Ceará. Santos ressalta que em todos os casos da microcefalia ligada ao zika, as crianças apresentaram atraso no desenvolvimento. “Muitos casos vem evoluindo com deficiência respiratória e disfagia, que é o problema na deglutição. Houve diminuição de notificação no caso de zika, então, provavelmente diminua o número de casos em diante”, aposta o neurologista.
 
Na Meac, os casos de microcefalia reduziram desde o início de 2016. Conforme o coordenador do serviço de medicina fetal da Maternidade, que acompanha as gestantes diagnosticadas com o vírus zika, desde fevereiro não houve confirmação de microcefalia nos fetos. No entanto, há oito mães contaminadas pelo vírus que permanecem em acompanhamento. Ao todo, 18 bebês com a malformação já foram atendidos na instituição. 
 
Costa ressalta que a maioria dos casos de microcefalia ainda se devem ao citamegalovirus e a toxoplasmose. Porém, os casos da doença provenientes do zika, se apresentam de forma mais severa: “Vimos que as cabeças dos bebês nascidos de mães com zika na gravidez são ainda menores. A gente acompanha essas mulheres com um pré-natal especializado e mantém um ambulatório especializado com uma equipe multidisciplinar”. 
 
Empenho
 
Na vida de Gracilene dos Santos Rodrigues, a microcefalia é reincidente. Aos 28 anos de idade, enquanto aguardava atendimento para o filho no Albert Sabin, a dona de casa contou que esta é a segunda vez que tem um filho com a doença. Hoje, com nove meses de vida, Steffany Rodrigues tem uma irmã de oito anos, que não possui a doença. O outro irmão da pequena, também vítima da microcefalia, faleceu aos três anos de idade, após passar por uma complicação no quadro respiratório.
 
Apesar de ter realizado o pré-natal todas as vezes que esteve grávida e questionar ao médico sobre a saúde de Steffany, a menina só foi diagnosticada com microcefalia quando nasceu. Para a mãe, que já tinha lidado com a dor da doença de perto, restou a certeza de que começava ali uma nova batalha. “Depois que ela nasceu, eu vim descobrir que é o meu sangue junto do meu esposo que deu isso nas crianças. Os médicos dizem que a microcefalia dela não é muito grave. Ela é mais ativa do que o irmã dela era. Eu sempre batia na mesma tecla, mas o médico dizia que estava tudo bem. Eu tinha medo”, confessa Gracilene.
 
O último informe mensal do Ministério da Saúde, divulgado no dia 7 de julho de 2016, revela que há, no Brasil, 1.656 confirmações de casos de microcefalia. Outros 3.130 permanecem em investigação. A Pasta ressalta que os estados estão intensificando a busca ativa e a conclusão do diagnóstico de todos os bebês com suspeita. 
 
Em março, o Ministério lançou uma estratégia para intensificar a conclusão do diagnóstico. Desde então, o número de definições em todo o País aumentou 247% de março a julho. Os diagnósticos concluídos passaram de 1.927 para 5.171. No Ceará, o crescimento foi de 211%.

FIQUE POR DENTRO

62 famílias recebem benefício no CE

O Governo Federal garante um auxílio assistencial, por meio do Benefício de Prestação Continuada às famílias de baixa renda que têm em sua casa crianças com microcefalia. Conforme o Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário, de janeiro a julho de 2016, foram concedidos 743 Benefícios de Prestação Continuada para casos de microcefalia no Brasil, sendo 62 benefícios para o Estado do Ceará.

Sob o valor de um salário mínimo, o auxílio é pago mensalmente. Para assegurar o direito, é preciso se dirigir a um posto de atendimento do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) e comprovar ter renda mensal por pessoa de até, no máximo, R$ 220. O responsável deve ainda comprovar a malformação da criança após avaliação médica. O agendamento deve ser feito pelo número 135.

De acordo com o Ministério da Saúde, o SUS não tem apoio financeiro específico para as famílias, e sim, disponibiliza a rede de serviço de reabilitação. No Brasil, são 1.541 serviços de reabilitação, com as modalidades auditiva, visual, intelectual e motora. Quando detectada a microcefalia, os bebês são encaminhados aos hospitais de referência do Ceará.

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