Semáforos com sinal sonoro são apenas 10%

Qualquer pessoa com deficiência pode solicitar a inclusão de um sinal sonoro, segundo a Prefeitura

Escrito por Redação ,
Legenda: No Instituto dos Cegos, existe um sinal luminoso com botoeiras sonoras
Foto: FOTO: RODRIGO GADELHA

Um buraco na via, um orelhão, calçadas desniveladas, árvores? Pelo caminho de quem é deficiente visual há percalços no que parece apenas natureza. Por Fortaleza, existem 90 semáforos com botoeiras sonoras, de um total de 875, de acordo com a Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC). Esses 10,3% representam, então, um problema para o exercício da livre locomoção destas pessoas.

"Eu acho o sinal sonoro importantíssimo e útil. Porém, uso com cautela, porque já aconteceu comigo de ele mandar atravessar quando estava verde para os carros. Entende a gravidade? Graças a Deus, foi resolvido na época. Outra questão é que eles só colocam o sonoro no Instituto dos Cegos e em um ponto aqui, outro acolá, como se a gente só andasse nos mesmos locais. Mas não: a gente anda por toda a cidade, vai desenrolando", destaca Bergson Pascoal, que perdeu integralmente a visão em 2011 após um tumor na cabeça.

Ao se deslocar pela própria rua onde mora, bairro ou cidade, Bergson tem que depender da ajuda de quem, por sorte ou destino, cruzar consigo. "Como os sinais sonoros não são suficientes, geralmente espero no meio-fio enquanto alguém chega. Ao ouvir passos, sei que posso pedir uma mão", explica o que faz sempre ao atravessar.

Bergson é descrente em relação a melhorias para a situação. "O poder público poderia se inspirar em outros lugares do mundo, onde há, de fato, acessibilidade. Acredito que isso não vai acontecer. Quando se tem bueiro aberto você vai encontrá-lo; se tem piso tátil, por exemplo, camelôs ficam em cima, como na Praça Coração de Jesus, e até mesmo na beira-mar", desabafa.

Bergson se felicita, no entanto, ao lembrar dos tempos de aluno no Instituto dos Cegos do Ceará, onde recebeu profissionalização durante sete anos, até julho de 2018. Lá, ele lidou com a tecnologia, conheceu outras pessoas com a mesma deficiência, aprendeu a usar a bengala e viu, assim, que era capaz de ir além. Hoje, é massoterapeuta e artesão.

O Instituto recebe crianças, idosos, deficientes em qualquer grau e oferece Educação do Primário ao Ensino Fundamental, além de proporcionar uma reabilitação sobre os espaços públicos. "Trata-se de uma orientação para o cenário real de acessibilidade nas ruas, diante da mobilidade urbana que temos. São técnicas de proteção e de superação das barreiras corriqueiras. Desta forma, trabalhamos no desenvolvimento de uma autonomia", explica o professor André Tupi.

Segundo André, o direito de ir e vir da pessoa com deficiência, em geral, está mais ampliado que antigamente. Seu trabalho é, então, para a continuidade dessa liberdade. "Os maiores desafios ainda são o atraso pelo Estado, e a ignorância cultural por parte da sociedade. Mas não existe mais a imagem do deficiente em casa, deitado na rede. É importante desmistificar isso", conclui o professor.

Inclusão

A necessidade de semáforos sonoros, segundo Emerson Damasceno, do Núcleo das Pessoas com Deficiência do Município, é dinâmica. "Sempre há efetivamente um fluxo maior, em determinados locais. Mas nunca é o suficiente porque o ideal é que tenha em toda Fortaleza, até porque é uma cidade turística, onde se recebe pessoas com deficiência de fora", enumera. Qualquer pessoa com deficiência pode solicitar a inclusão de um sinal sonoro em qualquer ponto da cidade, no próprio Núcleo.

A Secretaria Municipal de Educação (SME) informa que, atualmente, são 22 alunos com cegueira matriculados em sua rede de ensino. "Para garantir o atendimento com qualidade dos nossos alunos com deficiência, dispomos de 169 salas de recursos multifuncionais, espaço onde é oferecido o Atendimento Educacional Especializado (AEE) e que possui convênio com a Associação de Cegos do Estado do Ceará", relatou a SME, em nota.

Tendo como fonte o Censo Escolar 2017, o número de estudantes com deficiência visual matriculados na rede pública estadual de ensino cearense, por sua vez, é de 514 alunos com baixa visão e 30 alunos com cegueira. A escolarização deles é apoiada pela oferta de material adaptado para o Braille, no caso de alunos cegos, e de material ampliado, no caso de estudantes com baixa visão.

Há, ainda, a compra de equipamentos específicos como bengala, reglete, punção e lupa. Além disso, a rede pública estadual conta com 178 Salas de Recurso Multifuncional (SRM); oito Núcleos de Atendimento Pedagógico Especializado (Nape), um Centro de Referência em Educação e Atendimento Especializado do Estado do Ceará. (Colaborou João Duarte)

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AMC permite solicitação de botoeira sonora

Para quem deseja solicitar a implantação de botoeiras sonoras, além das 90 já existentes, em semáforos específicos próximos à residências, por exemplo, a Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) disponibiliza algumas opções de requerimento. De forma presencial, é possível comparecer à uma central de atendimento da AMC. Por plataformas online, estão disponíveis o próprio site da Autarquia e o aplicativo AMC Móvel, onde o usuário pode inserir a localização para solicitar o recurso.

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