Regional 5 reúne maior número de óbitos infantis em 7 meses

Apesar de reduzir os casos em 20%, a Secretaria Regional ainda apresenta o quadro mais preocupante, conforme dados divulgados pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS), durante o Seminário Mais Vida - Missão Infância

Escrito por Barbara Câmara , barbara.camara@diariodonordeste.com.br
Legenda: De acordo com os dados divulgados pela Secretaria Municipal da Saúde, a prematuridade é uma condição frequentemente associada aos óbitos infantis
Foto: FOTO: KID JÚNIOR

Em meio a um cenário geral positivo, com redução na taxa de mortalidade infantil de Fortaleza ao longo dos últimos 37 anos, a cidade ainda abriga focos preocupantes. De janeiro a agosto do ano passado, a Coordenadoria Regional de Saúde da Secretaria Regional 5 teve 81 óbitos infantis, e 65 no mesmo período, em 2019. A redução de 20% dos casos é positiva, mas não impediu que a Regional permanecesse com a maior quantidade entre as seis Secretarias.

Ela é seguida pela Regional 6, cujos registros de óbitos infantis diminuíram de 52 para 51, nos mesmos períodos. A tendência à redução foi observada também nas Regionais 3 e 4. Contrariando as demais, as Regionais 1 e 2 apresentaram um aumento no número de óbitos, de 46% e 16%, respectivamente. Os dados foram apresentados pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS) nesta quinta-feira (19), durante o Seminário Mais Vida - Missão Infância, realizado em parceria com a Sociedade Cearense de Pediatria (Socep).

Na ocasião, foi exibida uma análise das circunstâncias que influenciam a mortalidade infantil, pontuando características observadas entre os casos de cada Regional. O índice de gravidez na adolescência, por exemplo, na Regional 5, é de 13%. Em relação à escolaridade materna, em 39,1% dos casos, a mãe passou por 8 a 11 anos de estudo.

Durante o seminário, o Comitê de Prevenção da Mortalidade Infantil da SMS expôs os três principais "problemas" identificados nos óbitos infantis analisados. O primeiro foi a prematuridade, comum a 60,3% dos casos. Em seguida, a infecção do trato urinário (ITU), em 34,2% das gestantes, e, por fim, a hipertensão materna, em 30,4% dos casos.

Histórica

Em Fortaleza, a redução na taxa de mortalidade infantil é histórica: eram registrados 101,5 óbitos infantis a cada mil nascidos vivos em 1981. Dez anos mais tarde, a taxa reduziu para 30,8. Já em 2018, a capital cearense alcançou a taxa de 11,8. De acordo com Antônio Lima, gerente da célula de Vigilância Epidemiológica da SMS, a meta para 2021 é baixar o índice para 9,7.

"A taxa de mortalidade infantil de 11 é bem confortável no padrão brasileiro, tendo em conta a nossa capital que é bastante desigual, com dois milhões e meio de habitantes. Temos áreas com acesso mais restrito. Então, ter alcançado esse valor é um ganho bem importante. Mas queremos chegar a menos de 10, esse é o objetivo. Nesse momento, estando em uma faixa de 11, se não fizermos nada, é improvável que diminua", ressalta.

Ele explica que a redução é, de fato, uma tendência que avança conforme o passar dos anos. A taxa de mortalidade infantil veio a cair graças à diminuição considerável das "causas evitáveis", como diarreia e infecções respiratórias. "É o que a gente chamava de causas de morte pós-neonatais. Passamos a aproximar a assistência dessas pessoas, a fazer um pré-natal de melhor qualidade. A mortalidade infantil sentiu esse impacto. Com o tempo, tivemos, evidentemente, melhoras nas tecnologias neonatais. Agora o nosso desafio é continuar reduzindo".

O seminário realizado junto à Socep teve o objetivo de subsidiar a execução de Plano Municipal da Saúde 2018-2021, nas ações para redução da mortalidade infantil, através de metodologia de 'perguntas norteadoras' em dois eixos de intervenção: comitês de prevenção da mortalidade infantil e assistência perinatal.

Qualidade

"Essa taxa é considerada um indicador complexo. Ela nos mostra diversos pontos do acesso à Atenção de Saúde, desde o planejamento familiar, passando pelo pré-natal, a atenção à maternidade de média complexidade até a UTI neonatal. Tem todo o ciclo da linha do cuidado materno-infantil", pontua a titular da Secretaria Municipal da Saúde, Joana Maciel.

Segundo ela, a taxa serve ainda como parâmetro da condição do serviço de saúde. "A gestante tem acesso, mas o que é ofertado tem qualidade? Isso é outro ponto a ser analisado e discutido. Também nos mostra a condição socioeconômica da população, algo que extrapola os muros da saúde", pondera. A secretária ressalta que os principais fatores que levam ao óbito infantil são causas perinatais - que acontecem no período entre 22 semanas completas de gestação e termina sete dias após o nascimento - como complicações associadas à condição da prematuridade.

"O caminho é ter um acompanhamento em todos os pontos da assistência em saúde que dão conta da linha de cuidado materno-infantil. O primeiro passo é ter diagnóstico. Com isso, fica mais fácil agir de forma assertiva. Nós já temos muitas ações nessa linha", defende Joana Maciel.

Para Antônio Lima, é importante discutir a prematuridade, uma vez que a condição se transforma em um fator de risco para o cenário de óbito infantil em Fortaleza. "Queremos incentivar e trabalhar o planejamento familiar, fazer o pré-natal, buscar as mães nas áreas que a gente tem uma menor cobertura e ir atrás das mães mais vulneráveis, vamos tratar as infecções urinárias e a hipertensão gestacional. Assim, a gente pode ter um impacto importante".

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