Qualidade do ar não é avaliada em Fortaleza

Escrito por Redação ,
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A preocupação com a qualidade do ar, em Fortaleza, não acompanhou o crescimento da frota de veículos em circulação

Cidades que não param de crescer, carros vendidos aos milhares todos os meses, trânsito caótico. Em se tratando desses problemas, comuns a toda metrópole, costuma-se falar em mobilidade urbana, em se construir novas ruas e avenidas para garantir maior fluidez ao tráfego. Nem sempre, porém, a questão ambiental é lembrada. Qual a contribuição desses veículos para a poluição atmosférica? Como está a qualidade do ar respirado numa grande cidade? Pelo menos em Fortaleza, não é possível ter uma resposta para essas duas perguntas.

É que, ao mesmo tempo em que a frota de veículos na Capital aumentou 59%, entre 2001 e agosto deste ano, a cidade não dispõe, hoje, de qualquer mecanismo que forneça dados reais sobre a quantidade de gases poluentes emitidos por veículos automotivos presentes na atmosfera. Há oito anos, a Capital contava com 382.554 veículos.

Hoje, são 609.312 carros, motos, caminhões, vans e caminhonetes transitando pelas ruas da cidade. Em todo o Estado, o número chega a 1.423.825 de veículos, sendo cerca de 600 mil apenas de motos. Em 2001, eram 698.614.

Os níveis de poluição aumentam ainda mais, dependendo da idade da frota em circulação. Os veículos novos chegam aos consumidores com equipamentos antipoluição, que ajudam a minimizar o problema. Em Fortaleza, são 105.004 na faixa entre dez e 15 anos e 126.686 com mais de 15 anos de uso. A maior parte, 264.929, tem até cinco anos de uso.

A Secretaria do Meio Ambiente e Controle Urbano (Semam) informou, através de sua assessoria de imprensa, que ainda não realiza a medição da qualidade do ar em Fortaleza e que não há previsões neste sentido a médio prazo. Já a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) desenvolve apenas o projeto Fumaça Negra. A ação tem 19 anos.

A iniciativa prevê a realização de blitze nas quais são medidos os níveis de emissão de gases por veículos movidos a diesel. As fiscalizações são realizadas nos principais corredores de transporte de Fortaleza e do Interior. Veículos com níveis de emissão acima do permitido são multados e obrigados a regularizar a situação. "Geralmente, a poluição excessiva é causada por combustão incompleta ou problemas mecânicos", explicou a gerente do Núcleo de Análise e Monitoramento (Nuam) da Semace, Magda Kokay. "Esses veículos são prioridade porque o diesel é o combustível mais poluente de todos".

Ela revelou ainda que as quatro estações manuais que faziam a medição da qualidade do ar na Capital foram desativadas em 2007. Desde então, acrescentou, a cidade passou a contar apenas com o monitoramento individual dos veículos movidos a diesel. Nos demais, a inspeção só é obrigatória quando são modificados, como é o caso dos carros que recebem cilindros de gás natural (GNV).

MEDIÇÃO DA POLUIÇÃO
Cidade terá 11 estações em 2010

Segundo o titular da Coordenadoria de Controle e Proteção Ambiental da Semace, Arilo Veras, até o início do ano que vem, o órgão vai concluir uma licitação através da qual serão adquiridos 11 novas estações de medição da qualidade do ar para a cidade de Fortaleza.

Os dispositivos, totalmente automatizados, serão instalados em pontos estratégicos da cidade que ainda não foram definidos. Serão os primeiros na Capital deste tipo, já que os existentes são utilizados para a medição da emissão de gases por indústrias. "Os equipamentos vão permitir que tenhamos dados mais próximos da realidade, o que não quer dizer que devamos desprezar as informações que temos atualmente", declarou Veras.

Para ele, apesar da ausência de dados concretos sobre a qualidade do ar, a Superintendência tem se preocupado com o controle da poluição atmosférica. Ele afirmou que, em se tratando de gases poluentes gerados por veículos automotivos, os movidos a diesel são responsáveis por mais de 50% do total de emissões. "E é nessa fatia da frota em circulação que o projeto Fumaça Preta vem atuando", emendou o coordenador.

Veras ressaltou, ainda, que o foco maior é nos ônibus, principalmente os que são utilizados no transporte público de passageiros. "São veículos que circulam quase 24 horas por dia".

Conama

O Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) determinou, na semana passada, que todas as cidades e Estados com mais de três milhões de veículos adotem inspeção veicular obrigatória para controlar a poluição. Mesmo longe deste patamar, a tendência, lembrou Veras, é que o Fumaça Preta seja estendido a todos os carros.

Filipe Palácio
Repórter
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