Projetos comunitários em escolas ajudam população, mas requerem estruturação

As atividades desenvolvidas dentro de unidades de ensino representam um bônus à comunidade, porém a falta de planejamento pode sobrecarregar e desvalorizar profissionais envolvidos nas ações

Escrito por Redação , metro@verdesmares.com.br
Legenda: Oficina de Matemática realizada na Escola Diva Cabral, na Maraponga
Foto: Foto: José Leomar

Escolas são ambientes que resistem mesmo dentro de cenários de desigualdade social, violência urbana e um sentimento de "faz nada, só estuda". Ao formar uma dupla indissociável com o lar, o local de ensino carrega a responsabilidade de educar. Não há como pensar em escola sem pensar na comunidade que a abraça. Por isso, muitas delas têm aberto os portões para proporcionar à população (e não apenas aos alunos) um espaço para atividades extracurriculares que podem envolver, por exemplo, música, esporte, cultura e sustentabilidade.

Apesar da aproximação entre comunidade e unidade de ensino apresentar resultados positivos, o processo com que essas atividades acontecem requer planejamento efetivo para evitar sobrecarga ou desvalorização de profissionais responsáveis pela coordenação das ações.

"Há uma grande preocupação de pesquisadores em relação a isso há algum tempo. A maioria das pessoas que pesquisam gestão escolar já defende que ela deve ser democrática. O diretor, ou a diretora, deve ser escolhido juntamente com a participação dos pais e da comunidade. Isso não só tornaria a escola mais democrática, como atrairia toda a comunidade", comenta Justino de Sousa Júnior, professor da Faculdade de Educação (Faced) da Universidade Federal do Ceará (UFC).

"Aproximação não é só discurso. Tem que ser feita com ações práticas, e ações práticas são realizadas por sujeitos, que precisam estar em condições de tirar um tempo a mais para se dedicar às comunidades", complementa. "Querem trabalho voluntário, que ex-alunos voltem para trabalhar de graça, que os professores dobrem o expediente. Isso não faz sentido. Quando os projetos são feitos assim, eles fracassam", reforça Justino.

"Querem que as instituições façam muita coisa, mas não dão a menor condição para se trabalhar. Contudo, para não ser totalmente pessimista, há muita coisa bonita sendo feita".

Um auxílio a essas iniciativas é o edital de financiamento do projeto "Minha Escola é da Comunidade", que pode beneficiar 167 unidades ainda em 2019. Valores entre R$ 20 mil e R$ 30 mil serão destinados para fomentar projetos comunitários abertos à população pensados dentro dos locais de ensino.

O projeto segue com inscrições abertas, até o próximo dia 30 de junho, para instituições que se interessarem em requerer parte desse financiamento público.

Experiências

Com foco em atores sociais, algumas colégios de Fortaleza foram beneficiados com o projeto 'Minha Escola é da Comunidade' em 2018. É o caso da Escola de Ensino Fundamental e Médio Professora Diva Cabral, localizada no bairro Maraponga.

"O colégio é uma extensão de casa. Então, quando as famílias que moram em torno acreditam na escola, veem como um apoio, um alicerce para os filhos. Eles frequentam com maior incidência o ambiente escolar e acompanham melhor os filhos. Isso faz com que todos ganhem, tanto comunidade, quanto alunos, gestão e professores", destaca a diretora da unidade, Franciliane Albuquerque. A instituição possui 830 alunos.

"O professor vinha dar algumas aulas sem receber nada, só porque gostava mesmo. Até hoje tem um professor de esporte que prepara nossos alunos para participar dos Jogos Escolares sem receber nada". A EEFM Diva Cabral está inscrita no futebol de salão feminino e masculino para a competição de 2019.

Atividades

"Aqui à noite, temos várias atividades acontecendo, como a capoeira, quando a comunidade utiliza a quadra. Além da capoeira, acontecem ensaios de dança, futsal, tudo para a comunidade. Temos vários grupos usando a quadra todas as noites", pontua a diretora.

Outra instituição beneficiada ano passado foi a Escola Estadual de Ensino Médio Mariano Martins, no bairro Henrique Jorge. "No momento, a escola tem capoeira, coordenada por um ex-aluno; karatê, com um professor amigo daqui; temos uma quadrilha junina (em uma parceria com alunos de Educação Física, através do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência da Universidade Federal do Ceará)", revela o diretor, Rogério Chaves.

Para o representante da instituição, o financiamento público foi muito importante para ações que já estavam sendo desenvolvidas antes, e também para aquelas que foram realizadas depois, com as condições financeiras disponíveis. Agora, Rogério espera o resultado do edital de 2019.

 

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