Projeto Urbano Arte quer mudar perfil de Fortaleza

Ontem aconteceu a recuperação de um espaço estimado em 30 metros, localizado na Avenida Francisco Sá

Escrito por Iracema Sales - Repórter ,

A degradação dos espaços públicos constitui um dos principais problemas das metrópoles contemporâneas, principalmente, nas áreas conhecidas com vazios urbanos ou nas periferias das cidades. A falta de atenção do poder público associada a hábitos culturais dos moradores contribuem para agravar o quadro de abandono dessas áreas. Muitas vezes, são transformadas em depósitos de lixos a céu aberto, caso verificado em caneiros de algumas avenidas da Cidade. No entanto, o projeto “Urbano Arte”, que acontece em 33 espaços de Fortaleza, tendo à frente grupo de nove artistas, pretende modificar um pouco essa realidade.

As intervenções começaram. Ontem, a artista urbana Alexsandra Ribeiro (Dinha), natural de Recife, há três anos trocou Recife por Fortaleza, trabalha com grafite desde 2008, finalizava a recuperação de um espaço estimado em 30 metros, localizado na Avenida Francisco Sá.

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A área, que havia sido transformada em “lixão”, fica nas proximidades do prédio da antiga Rede Ferroviária Federal S/A (Rffsa). Graças a ação da artista, cujos jatos coloridos do spray sensibilizaram alguns moradores, que garantem que vão permanecer vigilantes para o local não voltar a ser depósito de lixo, mudou radicalmente.

No lugar, foram plantadas mudas de espada de São Jorge e palmeira, além do muro ganhar uma pintura. “Esse ponto era cheio de lixo”, assegura Alexsandra Ribeiro, apontando para o chão plantado. O trabalho começou no sábado, após a remoção do lixo pela Ecofor Ambiental, um dos parceiros do projeto, que conta com apoio do Ministério da Cultura (MinC) mediante a Lei Rouanet. “É bonito ver o afeto e todos se ajudando”, diz, completando que, ontem, duas pessoas desistiram de jogar lixo. 

O projeto traz no bojo um dos preceitos da arte contemporânea: interferir na vida das pessoas e na realidade. “Uma arte que não dialoga com o público não existe. Vira repetição, arte de galeria”, justifica Gustavo Wanderley, curador do “Urbano Arte”, que ficará encerrado em fevereiro de 2018. O projeto vai além do grafite, ao lançar mão de intervenções que incluem a preservação da natureza, sem perder de vista a participação das comunidades envolvidas.

Ele revela ser importante entender que as artes pública e urbana não se resumem apenas ao grafite, embora a técnica seja também usada pelos artistas que participam do projeto. O trabalho está diretamente ligado ao paisagismo, provando que a arte pode ser usada como fio condutor para melhorar a paisagem. A vegetação potencializa a ação deixando na cidade essa permanência orgânica, além de despertar o sentimento de pertença das pessoas. É uma forma de se apropriarem da cidade.

Entendimento

O artista lembra da ação realizada no bairro Jacarecanga, representada por “uma cerca belíssima que o colorido faz com que dialogue com a arte”. A gente percebe que os moradores começaram a entender a proposta e abraçaram o projeto. O curador considera boa a receptividade do “Urbano Arte”, que utiliza pintura, estêncil, material de construção, plantas e, o mais importante, despertar nas pessoas o desejo de ver espaços urbanos requalificados.

Durante o estudo para a realização do projeto, houve uma negociação com cada uma das comunidades antes de realizar as intervenções. Serão usados materiais diversificados ao longo da transformação nos 33 pontos que foram divididos em seis distritos. “Cada artista programou sua agenda”, conta o artista que realizou curadoria do projeto “Arte Praia”, no Rio Grande do Norte. “A ideia era levar arte contemporânea à praia”, esclarece. [LEIA_MAIS](Leia mais no Caderno 3)

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