Projeto prevê 18 galpões para barcos e pescadores pedem diálogo

Os "barracões", como são chamados no documento, fazem parte da reforma da Nova Beira Mar, mas os pescadores cobram da Prefeitura maior diálogo sobre o tamanho e os espaço para onde irão as embarcações durante as obras

Escrito por Nícolas Paulino e João Lima Neto , metro@verdesmares.com.br
Foto: Foto: Natinho Rodrigues

No projeto de requalificação da Nova Avenida Beira-Mar, que passa por obras em toda a sua extensão, consta a implantação de um novo espaço para os pescadores da Enseada do Mucuripe. Ao, todo serão instalados 18 barracões para a guarda de embarcações, cada, sendo 572 unidades de escaninhos. O período de inscrição para participar da licitação segue até o dia 26 de setembro. O valor global para realização das obras é de R$ 6,9 milhões. Porém, os pescadores reclamam da falta de diálogo por parte da Prefeitura e demonstram apreensão sobre o período em que o espaço ficará sob intervenção. Também está no pacote, a construção de quiosques para a Feirinha da Beira Mar.

O banco de areia da praia, nas proximidades do Mercado dos Peixes, guarda centenas de embarcações dos mais variados tamanhos. Outras dezenas ficam ancoradas dentro do mar, ao balanço das ondas. Em terra, há muita movimentação. Pescadores, amigos e familiares fazem reparos nos barcos: pintam, lixam, montam esqueletos de madeira. Outros ficam encarregados do almoço, e mais alguns jogam conversa fora enquanto disputam baralho.

O diagnóstico da Prefeitura, na licitação das obras, descreve que o uso da área ocorre de forma "desordenada" por pescadores, esportes náuticos e passeios turísticos de barco. "Estão dispostos, hoje, materiais e embarcações espalhadas pela faixa de praia de qualquer maneira", aponta o documento. Por isso, foi decidida a criação de um apoio aos navegantes, onde os mesmos "pudessem guardar seus materiais e organizar melhor o espaço que utilizam".

Guarderias

As chamadas Guarderias de Embarcações abrigarão os veículos em três localizações. A maior delas terá dez galpões. Parte das estruturas serão revestidas de fibra de vidro, material mais adequado para proteção contra maresia.

"Eles não apresentam nada pra gente. Querem tirar é a gente daqui da praia", opina Antônio Rodrigues, 50 anos, pescador desde os 12. "Se forem mesmo fazer, vão tirar as navegações daqui e botar onde? Dentro d'água, elas não podem ficar o tempo todo porque são ocas. Tem que ficar na terra também. Ninguém sabe como vai ficar isso aqui não", reflete com a mesma incerteza de quem não sabe se volta das investidas no mar para trazer pescados como cavala, sirigado e cioba.

Outros profissionais do mar que não quiseram se identificar manifestaram desconhecimento quanto ao projeto. "A gente passa seis, sete, oito dias lá fora. Vão terminar tudo antes que a gente volte?", criticou um deles enquanto martelava o casco da jangada.

Com jubileu de ouro na profissão, Anísio Gonzaga, 66, enxerga por outra ótica. Para ele, é necessária uma "limpeza" na Enseada por causa do lixo e de embarcações abandonadas, algumas há mais de um ano. "Essas não prestam mais", aponta. "Aqui só juntar sabe o quê? Marginal. Dormem aí e tudo", reclama.

A demanda pelas guarderias é tão antiga que Possidônio Soares, presidente da Colônia de Pescadores Z-8, se surpreendeu por ela finalmente sair do papel. Porém, o representante da categoria também alerta para a falta de conversas com os principais afetados pela mudança.

"A Colônia tem que ser procurada pra não fazerem um barracão menor, tipo quitinete. Tem que ter altura e largura certa, senão como o barco entra? Não é pra empresa chegar sem consultar", explica. Ele também não participou de discussões sobre um local temporário para a realocação dos barcos durante a obra.

A titular da Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinf), Manuela Nogueira, garante: houve obediência ao projeto do concurso de ideias de 2012, que replanejou o ordenamento da Beira-Mar como produto de um processo judicial. "Provavelmente, teve essa conversa em 2012. Qualquer alteração tem que ser aprovada junto ao Ministério Público Federal e com a Justiça", afirma, ressaltando que Regional II procurará os pescadores antes do início da obra.

"Se precisar de alguma adaptação, e que diante da lei possa ser feita, não tem negativa nenhuma", diz Manuela Nogueira. Segundo a secretária, a Regional II também deve discutir com os profissionais o local provisório para a guarda das navegações.

Feirinha

O projeto da Nova Beira Mar também trata da Feirinha. A licitação marcada para o fim de setembro visa à instalação de 700 quiosques do comércio de artesanato no local onde ficarão os comércios - o mesmo de onde foram retirados, temporariamente, e deslocados para a Praia de Iracema enquanto ocorre a obra.

"Pra quem era bom, lá ficou ruim, mas pra quem 'tava' ruim lá, aqui melhorou um pouco. Não tem como dizer se melhorou realmente. Pelo projeto, tá tudo ok, tudo padronizado daqui a uns seis meses. Todos estão cadastrados", observou o comerciante Antônio Júnior, enquanto montava produtos artesanais em seu quiosque provisório.

Conforme a secretária Manuela Nogueira, todos os novos boxes serão fixos, com cerca de três metros quadrados e cobrança individualizada de energia elétrica. Quem já recebeu autorização prévia da Regional II para funcionar terá preferência para receber o novo espaço em definitivo. "Caso o feirante não obedeça às regras de permissionário e alugue, vai precisar tratar junto com a Regional", explica.

Nova licitação da Prefeitura mira a implantação de depósitos para barcos e jangadas no Mucuripe e dos novos quiosques para feirantes. Pescadores lamentam falta de discussão com a categoria. Secretária de Infraestrutura detalha os projetos.

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