Projeto de melhorias no HGF será ampliado para 20 hospitais-polo

Iniciativa busca melhor gestão com racionalização de recursos e otimização de espaços internos. O principal objetivo é dar celeridade ao processo

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@svm.com.br
Legenda: Luzes no corredor indicam lotação da unidade, do branco ao vermelho, o mais crítico
Foto: Foto: Isanelle Nascimento

Nem parecia o mesmo cenário do dia 2 de janeiro, quando 184 pacientes estavam espalhados em macas nos corredores do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), o maior da rede estadual do Ceará. Alguns chegavam a passar sete dias no local. Ontem, 11 pessoas se encontravam nessa condição, como a reportagem conferiu após a divulgação do balanço final do "projeto Lean nas Emergências", implantado na unidade de saúde desde julho. A iniciativa busca enxugar processos desnecessários e otimizar o tempo de atendimento de pacientes.

Segundo Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, o Dr. Cabeto, secretário da Saúde do Ceará, o modelo também já começou a ser implantado em outros hospitais de Fortaleza, como o de Messejana, o Infantil Albert Sabin e o César Cals, e será replicado "para 20 hospitais-polo em que o Estado vai executar a ampliação da complexidade". A expectativa da regionalização da saúde do Ceará é que cada uma das cinco grandes áreas resolva "90% dos problemas de saúde da região".

Desenvolvido por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (Proadi) e executado em parceria com o Hospital Sírio-Libanês, o Lean nas Emergências "estabelece rotinas e protocolos para uma cadeia da rede e urgência de eficiência", conforme Cabeto. Os processos melhorados no interior podem "fazer com que o cidadão tenha o mesmo serviço de complexidade do HGF por lá e melhorar o desenvolvimento local", projeta o secretário.

O atendimento local teria facilitado a vida do agricultor Henrique de Mesquita, que completou 49 anos nesta quarta, sobre a maca. Natural de Madalena, cidade a 184 Km da Capital, ele passou primeiro em Canindé antes de ser encaminhado ao HGF, na última sexta (6). "Fui atendido na mesma hora que cheguei", conta, com a mão enfaixada por um problema de circulação. Hoje, ele espera ter alta do hospital. "Até agora, fui muito bem atendido".

Não é a mesma opinião da diarista Eliane Andrade, que chegou às 13h de terça para ajudar o pai, Francisco Osmar Nogueira, 76 anos, com suspeita de Acidente Vascular Cerebral (AVC). "Ele ficou até 20h esperando a maca. O atendimento demorou demais. Achei um descaso, até porque aqui tem muito idoso", reclama a filha. Depois que o pai foi posto no corredor, porém, ela diz que não houve problemas no atendimento. "Fizeram exames e a médica apareceu", relata a mulher.

Estratégias

Daniel de Holanda Araújo, diretor geral do HGF, ressalta que, atualmente, a unidade opera com um corredor administrável entre 10 e 15 pacientes, "muito diferente de 10 meses atrás", quando a situação era "gritante". "Isso depende de vários fatores, essa demanda não vai ficar fixa. O importante é que as estratégias sejam continuadas", comenta. No próprio corredor, há um novo sistema de luzes - do branco ao vermelho - que muda de acordo com a lotação do equipamento.

Conforme a plataforma IntegraSUS, alimentada pela Secretaria da Saúde (Sesa), o HGF respondeu por 173.789 atendimentos ambulatoriais de janeiro a novembro deste ano. O César Cals, que aparece em segundo, fez 68.971. O Hospital Geral também realizou 38.293 atendimentos de emergência, no mesmo período, atrás apenas do Hospital Regional Norte (HRN), com 128.105. O indicador interno de superlotação, porém, caiu 63%, de acordo com a administração da unidade.

"Um hospital tem vários setores em que o Lean pode ser aplicado, como laboratórios e emergência. O objetivo dele é otimizar os processos e diminuir as etapas. O paciente demora menos a ser atendido pelo médico, menos tempo para fazer exame, o exame demora menos para sair, e sua conduta é definida em menor tempo", detalha o diretor geral sobre o dia a dia após as mudanças implementadas ao longo dos seis meses.

Ajustes

A correção de fluxos assistenciais e pequenas reformas em salas permitiram que o percurso se tornasse unidirecional e "não houvesse retrabalho" interno. Além disso, houve treinamento de pessoal para evitar solicitações de procedimentos desnecessários, a redução de gastos e a diminuição dos riscos de infecções decorrentes de internações prolongadas.

"Não houve aporte financeiro a mais. O que a gente vai ter nas nossas contas médicas é uma melhora no faturamento, porque todos os pacientes que estão nos corredores não contam atualmente por não estarem em leitos oficialmente reconhecidos pelo Ministério da Saúde. Na verdade, é prejuízo. Agora, você atende mais em leitos cadastrados", afirma Daniel de Holanda.

Para a especialista em Saúde Pública, Magda Almeida, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), além de investir na organização dos serviços de atendimento, é preciso identificar as causas de patologias evitáveis. A plataforma IntegraSUS, da Sesa, já traz alguma uma luz porque, na emergência do HGF, os principais casos atendidos são de AVC, "pedras" nos rins, doenças vasculares, dor abdominal aguda e cefaleia.

"Basicamente, infarto e AVC são o ponto final de fatores não trabalhados adequadamente. Um paciente assim já tem hipertensão, diabetes, doenças que se evitam modificando o estilo de vida com dieta e exercícios", frisa, lembrando a necessidade de intersetorialidade entre diferentes áreas do Governo e o incentivo de empresas privadas à mobilidade ativa dos colaboradores dentro de um "ritmo de vida caótico".

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