Problemas históricos geram alagamentos recorrentes em Fortaleza

A quadra chuvosa de 2019 começou e o cenário em Fortaleza é o mesmo: alagamentos e inundações. No entanto, esses problemas históricos não têm uma causa única e solucioná-los requer mais que a estruturação da rede de macrodrenagem

Escrito por Thatiany Nascimento , thatiany.nascimento@diariodonordeste.com.br

A quadra chuvosa de 2019 começou e, nas ruas de Fortaleza, o cenário se repete: água acumulada. Mais garantido que a ocorrência dos alagamentos crônicos, somente a certeza que esse problema não tem uma causa única. Diferentemente de outras cidades, Fortaleza é um território plano, o que propicia alagamentos momentâneos. Mas, atrelado a isso, outros problemas históricos dificultam a vazão das águas. O que é possível fazer?

As inundações e os alagamentos, dentre outros fatores, têm como causas: a obstrução por lixo das redes de escoamento; a ocupação desordenada das áreas que margeiam os recursos hídricos; a mudança no curso dos corpos d'água, como rios e lagoas; a urbanização acentuada e a impermeabilização do solo.

Esses fatores reduzem a capacidade de infiltração de água na cidade e, ainda que a rede de macrodrenagem seja eficiente e extensa, os problemas de alagamento não desaparecerão. É necessário que as soluções concebam os diversos gargalos para reverter, de fato, os dilemas de acúmulo de água em distintas áreas da Capital. Caso contrário, as soluções serão pontuais e as vias continuarão encobertas por água em dias chuvosos.

Quem, em dia de chuva, transita por vias como a Av. Heráclito Graça, no Centro; Av. Alberto Craveiro, em frente ao Makro, no Dias Macêdo; Av. Murilo Borges, próximo à ponte do Cocó, na Aerolândia; dentre outras, já sabe que estes locais são passíveis de grandes alagamentos.

Além disso, em bairros das Regionais V e VI, as situações de vias com acúmulo de água repetem-se a cada ciclo chuvoso. Apesar dos transtornos históricos nestas áreas, somente em 2010, Fortaleza teve a primeira captação específica de recursos para drenagem, explica o coordenador de Gerenciamento de Projetos da Secretaria de Infraestrutura (Seinf), André Daher.

Ações

Hoje, Fortaleza tem 70% do território sem problemas de drenagem, afirma André Daher. A rede de macrodrenagem precisa avançar em alguns pontos mas já é considerada razoável para o porte e as características da Capital.

A preocupação direciona-se aos demais fatores, que têm implicado diretamente para os transtornos ocorridos em dias chuvosos. "Eu divido a drenagem de Fortaleza antes de 2010 e depois de 2010. Antes, elas estavam concentradas nos riachos dentro dos bairros, mais para garantir a fluidez dentro desses riachos. Eram as macrodrenagens. Pois, antes de 2010, Fortaleza passou um longo tempo sendo impermeabilizada tanto na parte das vias, como nas construções nos bairros", explica.

O professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Universidade Federal do Ceará (UFC), Francisco Assis Sousa Filho, concorda que a estruturação de grande canais de escoamento "já cresceu muito" e fatores que antes limitavam o sistema de macrodrenagem, as obras recentes já aliviaram.

O que segue afetando, ressalta ele, é a ação humana. Pois, o crescimento da Capital, relata, provocou, por exemplo, o aterramento de dezenas de lagoas e, isto se reflete hoje em áreas de inundação. Áreas que antes recebiam e drenavam as águas foram impermeabilizadas e a chuva tende a buscar caminhos para escoar para o mar.

Nessas situações, o acúmulo de água não tem relação direta com problemas de macrodrenagem. Um caso emblemático, segundo André, é o Riacho Pajeú, que teve as margens e a área de enchente ocupadas irregularmente por construções.

"Hoje o Município tem adotado soluções paliativas. No caso específico do Pajeú, a obra foi feita no Parque da Criança. Fizemos um ramal assessório, para poder garantir a fluidez. Porque antes disso havia problema no entorno, o que gerava alagamento na Avenida Heráclito Graça".

Áreas críticas

Com os problemas de macrodrenagem aliviados, André diz que o investimento no sistema de drenagem se concentra nos coletores médios em áreas localizadas, sobretudo, nas Regionais V e VI. Lagoa Redonda, Canindezinho, Parque São José e Mondubim e Curió são prioritários.

Dados da Defesa Civil revelam que, nos últimos quatro anos, estas duas regionais concentram os problemas de inundações e alagamentos. Em 2018, 55,4% das inundações registradas na cidade durante toda a quadra chuvosa foram nesses dois territórios.

Para o professor Francisco Assis, é preciso que a cidade comece a adotar "estratégias compensatórias de drenagem", o que significa criar áreas de infiltração a partir das construções, fazendo com que cada lote retenha água, mas também garanta formas de infiltrar esta água no solo.

 

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