Prédio dos Correios segue sem reforma um ano após incêndio

A estatal informou que um espaço localizado no 4º Anel Viário será alugado para servir de galpão logístico. Ao mesmo tempo, clientes ainda aguardam ressarcimento de objetos danificados

Escrito por Felipe Mesquita , felipe.mesquita@verdesmares.com.br

A engenheira de alimentos Brena Aires, 26, e o técnico de saúde bucal Marllon Dantas, 27, não conhecem um ao outro, mas guardam consigo um mesmo dissabor: remetente e destinatário, respectivamente, tiveram prejuízos financeiros depois que o Centro de Triagem de Cartas e Encomendas (CTCE) dos Correios, na Avenida Oliveira Paiva, pegou fogo no dia 13 de fevereiro de 2018. Um ano mais tarde, o galpão continua desativado e os dois clientes que tiveram objetos queimados nem sequer foram ressarcidos.

À época, os Correios informaram que a indenização das mercadorias seria feita após a conclusão da perícia técnica. O laudo da Polícia Federal não apontou o fato gerador do incêndio, mas descartou que a ocorrência tenha sido por interferência da ação humana. Doze meses depois, segundo a estatal, todos os clientes com objetos postais de Valor Declarado e que registraram reclamação na Central de Atendimento tiveram os ressarcimentos deferidos.

Transtornos

Não é o caso de Marllon Dantas. O técnico de saúde bucal havia comprado pela internet dois relógios avaliados em R$ 300, fones de ouvido bluetooth no valor de R$ 190 e dois pares de óculos que custaram R$ 500. A mercadoria foi adquirida em loja da China e postada na Suíça. Segundo conta, era dos Correios a responsabilidade de entrega, uma vez que pagou pelo serviço.

"Cheguei a registrar (a reclamação), sim. Porém, era a mesma resposta automática de sempre, que vão analisar o caso e depois do período máximo para a resposta, vinha a mensagem de não localizado no fluxo postal. Uma das mercadorias, eu consegui abrir uma reclamação junto à Ouvidoria, responsável pelo recebimento das encomendas internacionais. Até hoje, não tive resposta", pondera.

Já Brena Aires precisou usar o serviço de postagem dos Correios para enviar os convites do seu casamento a três padrinhos da cerimônia que moram em Brasília, no Distrito Federal. Eles, contudo, nunca receberam as caixas com os envelopes, porque o material remetido quatro dias antes do incêndio, virou cinzas.

"Eu já suspeitava que não iam chegar porque eu coloquei na sexta e o incêndio ocorreu na terça-feira. Eu esperei o prazo e não consegui rastrear pelo código. Uma semana antes do casamento, eu liguei e eles não tinham recebido. Como eram convites de padrinhos e mais elaborados, eram poucas quantidades e eu não consegui uma gráfica que quisesse fazer. Eles vieram sem convite mesmo, ficaram sem", lamenta.

De acordo com a presidente do Procon Fortaleza, Cláudia Santos, o cliente prejudicado pode registrar a queixa no órgão de defesa do consumidor. "Mesmo após um ano do incêndio, nós vamos levar em consideração a vulnerabilidade e a relação desigual dele perante o fornecedor. Os Correios, como qualquer outra empresa pública, são responsáveis pelo serviço, então cabe, inclusive, a reparação de danos, independentemente da existência de culpa ao consumidor, quando há falhas na prestação do serviço", explica.

Incêndio

No momento do incêndio, por volta das 16h, apenas um vigilante estava de plantão na guarita externa do prédio. Sem a presença de outros funcionários, ele percebeu o incidente e acionou o Corpo de Bombeiros. Cerca de 40 homens em 10 guarnições participaram da operação. As chamas atingiram 90% da unidade que ocupa uma área de 10 mil m², restando apenas a ala administrativa, que teve apenas o teto de PVC destruído. O fogo não alcançou a mata no entorno da unidade e nem as 15 vans guardadas no estacionamento.

Como medida emergencial para garantir a continuidade das atividades no Centro de Triagem de Cartas e Encomendas, os Correios passaram a avaliar a carga que tem o Ceará como origem ou destino em outras unidades da Capital, além de outros centros localizados em Salvador, Recife e até São Paulo.

Doze meses depois, o prédio do CTCE incendiado, porém segue sem prazo de reforma. Em nota enviada ao Sistema Verdes Mares (SVM), a empresa diz que ainda está analisando a viabilidade de reconstrução da unidade. A solução apontada pelos Correios é o aluguel de um novo espaço, que não teve prazo divulgado pela estatal.

"Para acomodar o fluxo operacional do Centro, foi decidido pela locação de um espaço. Os Correios identificaram imóvel do tipo galpão logístico - localizado no 4º Anel Viário - adequado para concentrar as atividades de triagem. A locação será efetivada após a conclusão das obras que estão sendo executadas pelo proprietário do prédio".

Os Correios passaram a orientar os clientes quanto à necessidade de declarar o conteúdo a ser enviado antes da postagem. Esta foi a resposta da empresa depois de ser questionada pela reportagem sobre as medidas tomadas para evitar incêndios de grande proporção em suas unidades.

A estatal também reforçou que, conforme a Lei Federal nº 6.538 de 22 de junho de 1978, é proibida a postagem de remessas contendo substância do tipo explosiva, radioativa, corrosiva ou facilmente inflamável, cujo transporte ou armazenamento constitua perigo ou possa danificar outro objeto.

 

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