Prédio da Maraponga: ex-moradores continuam sem indenização

Após audiência de conciliação frustrada com proprietários do Edifício Benedito Cunha, que desabou parcialmente em 1º de junho deste ano, ex-inquilinos ainda não tiveram danos materiais nem morais restituídos

Escrito por Redação , metro@verdesmares.com.br
Legenda: Edifício foi demolido 27 dias após desabamento parcial da estrutura. Moradores saíram às pressas, deixando para trás mobília e até documentos
Foto: FOTO: NILTON ALVES

O pesadelo começou no dia 1º de junho de 2019: depois de vários estalos-alertas, o térreo e o 1º andar do Edifício Benedito Cunha, no bairro Maraponga, desabaram. Após 27 dias, teve início a demolição da estrutura de quatro andares, levando na retroescavadeira o que restava dos pertences de quem vivia no local. Hoje, quase seis meses e muitas tratativas depois, proprietários do imóvel e 11 dos ex-moradores ainda não entraram em consenso, prolongando os prejuízos materiais e morais.

Uma audiência de conciliação foi realizada, no início deste mês, na tentativa de encerrar o processo movido coletivamente pelos ex-condôminos contra os irmãos Solimar e Arisol Parente Portela, donos do edifício – mas o encontro foi infrutífero, e as pendências permanecem. Enquanto os ex-moradores pedem R$ 2,2 milhões de indenização, a defesa alega não ter condições de arcar com a quantia.

De acordo com a nutricionista Emanuelle Lima, 29, uma das vítimas do desabamento do prédio, “as pessoas que não fizeram acordo com eles (donos) estão prejudicadas até hoje”. “Querem vender o terreno bloqueado (pela Justiça) e restituir R$ 10 mil a cada família. Às que tinham carro, querem pagar o carro mais esse dinheiro. Mas só no meu caso, calculamos um prejuízo em torno de R$ 60 mil”, aponta a ex-inquilina.

Em nota, os advogados de Solimar e Arisol informaram que “os valores reclamados fogem às condições financeiras dos proprietários”, e que “no presente momento, o prazo processual para apresentação da defesa dos proprietários do imóvel” está aberto. A nota enfatiza que os donos do prédio “estão, como sempre estiveram, abertos para diálogo”.

O advogado que representa 11 ex-moradores, Marcelo Magalhães, informou ao Sistema Verdes Mares que “está prosseguindo na perspectiva de obter um acordo”. Após contestação dos réus, Magalhães informou que já houve réplica. Agora, a esperança é a formação de uma composição entre as partes para chegar a um acordo. “Vamos buscar essa conciliação. Seria o meio mais rápido de ajudar essas pessoas”, entende. Ainda não há data definida.

Danos irreversíveis

Independentemente de qual for, a quantia que vier “nunca vai ser suficiente” para abonar os danos que vão além dos materiais. “Eu não sou a mesma pessoa de antes, psicologicamente falando. Tenho muita ansiedade, meu humor muda constantemente, principalmente se escutar um barulho parecido com o do dia – posso estar dormindo, que acordo atordoada. Até hoje, a gente não conseguiu se reestabelecer como antes”, relata Emanuelle, que vive, hoje, em outro apartamento alugado, com o filho e o esposo.

Os prejuízos permeiam inclusive a rotina no trabalho. “Tô com dificuldade até hoje no meu trabalho. Alguns instrumentos eram muito necessários, como um notebook, que ainda não tive condições de comprar; e uma câmera, porque preciso das redes sociais. Até pra batalhar pra ter as nossas coisas novamente tá difícil, e esse valor não vai restituir tudo o que a gente perdeu. Não chega nem aos pés do nosso trauma”, finaliza.

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