Pessoas com deficiência enfrentam dificuldades para fazer o Enem

De acordo com o Inep, em 2018, 1.863 inscritos do Ceará apresentam algum tipo de deficiência. Apesar dos recursos de acessibilidade, é preciso vencer barreiras para atingir igualdade de condições

Escrito por Redação , redaçao@diariodonordeste.com.br

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) tem caminhado a largos passos para fazer jus ao título de "vestibular mais democrático" do Brasil. O acesso, no entanto, precisa passar por transformações para que todos possam realizar a prova. Pessoas com deficiência apostam na educação como ferramenta de conquista de espaços. Elas, no entanto, ainda precisam enfrentar barreiras, desde a inscrição até a realização do Enem.

Legenda: O educador físico Erenildo Souza venceu os obstáculos e conseguiu fazer o Enem e terminar o curso superior no IFCE. Ele, no entanto, revela que não foi fácil 
Foto: Foto: Saulo Roberto

De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em 2018, 1.863 inscritos do Ceará apresentam algum tipo de deficiência. No ano passado, foram 2.202 solicitações de atendimento específico/especializado. O número é baixo, representa menos de 1% do total de inscritos no Estado.

Para este público, o Inep oferece alguns recursos aos candidatos que declaram a necessidade do serviço. Prova em braile, ledor, transcritor, leitura labial, tempo adicional, sala de fácil acesso e/ou mobiliário acessível são algumas das opções disponibilizadas.

No entanto, o processo de inscrição ainda atormenta candidatos com deficiência. A burocracia é uma das principais reclamações. Um grupo que vem enfrentado dificuldades no Enem deste ano é o composto por 487 candidatos cearenses que têm deficiência visual, considerando as categorias "baixa visão", "cegueira", "surdocegueira" e "visão monocular".

"Infelizmente, muitos deficientes visuais que se inscrevem precisam de outra pessoa, sem deficiência, para auxiliar na inscrição. É muita coisa para responder", reclama o educador físico Erenildo Souza, inscrito na edição de 2018. A profissional de recursos humanos Kamila Albuquer reverbera o discurso de Erenildo. Segundo ela, a dificuldade ocorreu "principalmente em algumas partes onde tinha que colocar o CID - quando você pede o atendimento especializado, eles pedem a classificação internacional da deficiência. Aí você tem que colocar tudo bem 'direitinho' para dar certo", relata.

Kamila é deficiente visual e participará do Enem pela primeira vez neste ano. Depois de enfrentar a primeira etapa (inscrição), ela não esconde o receio de não conseguir um atendimento eficaz. "Na questão da redação, algumas pessoas não têm a sorte de pegar um bom transcritor", diz.

A preocupação da jovem é clara, uma vez que necessita dele para realizar a prova. Conforme a profissional de recursos humanos, as competências para avaliar o desempenho de um bom transcritor podem variar de domínio da língua portuguesa até o trato pessoal com o candidato. Tudo isso vai pesar no resultado.

Atendimento

Eron, como é popularmente conhecido o educador físico, ingressou no Ensino Superior em 2013 após realizar o Enem do ano interior, com o atendimento de um ledor e uma transcritora. "Quando você tem auxílio, você pode pedir quantas vezes quiser para repetir a questão ou o item. Nesse quesito, eles me deixaram bem à vontade", revela o profissional formado pelo Instituto Federal do Ceará (IFCE).

Estrutura

Uma compensação pelo processo de inscrição conturbado pode ser o atendimento especializado. Na edição de 2018, o Inep revelou que 5.334 ledores trabalharão no País auxiliando candidatos cegos. Há dez anos no exercício dessa atividade, a professora Tacivana Rocha comenta o processo no dia do exame.

"Antes do candidato chegar nós já temos o perfil dele. Somos orientados e já sabemos se ele é deficiente visual, motor, etc. O nosso trabalho vai desde esperá-lo na entrada do local, até conduzi-lo até a sala, passar as orientações, e colocá-lo a par do ambiente", revela a profissional que atua como ledora e transcritora.

Contudo, ela aponta como principal desafio a falta de orientação aos candidatos durante o processo de inscrição e solicitação do atendimento especializado. "Eles solicitam na hora da inscrição, se querem um ledor ou um transcritor, mas quando chega na hora, não é exatamente isso que eles precisavam". Para a especialista, é necessário uma prescrição mais objetiva e clara aos candidatos na hora de requerer o atendimento especializado que precisam.

1.863

pessoas com deficiência no Ceará inscritas. Elas fizeram solicitações por tipo de atendimento específico/ especializado (pessoas com deficiência visual, auditiva, física e mental).

328.591

cearenses inscritos no Enem em 2018. De acordo com dados do painel de monitoramento do Enem 2018, este é o número de inscrições no exame. No Brasil, são 5.513.712 candidatos.

487

candidatos cearenses com deficiência visual. Conforme o Inep, esse é o número de pessoas que se enquadram nas categorias "baixa visão", "cegueira", "surdocegueira" e "visão monocular".

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.
Assuntos Relacionados