Perfil de vítimas em acidentes fatais de trânsito muda na Capital

Em meio ao cenário de redução no número de mortos no trânsito de Fortaleza - 40% a menos desde 2014-, o único aumento foi observado entre os ciclistas: em 2017, foram registrados 19 óbitos. No ano seguinte, 23

Escrito por Barbara Câmara , barbara.camara@diariodonordeste.com.br

Após passar pelo quarto ano consecutivo com redução de mortes no trânsito, em meio aos bons indicadores traduzidos em números, Fortaleza vivencia uma mudança no perfil das vítimas em acidentes fatais envolvendo veículos. Dados divulgados na manhã de ontem (18) pela Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos (SCSP), com apoio da Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global, indicam que, apesar da redução de 21% na fatalidade entre usuários de motocicletas, os óbitos de ciclistas subiram de 19, registrados em 2017, para 23, em 2018.

Conforme o levantamento, entre 2016 e 2018, foi registrada uma redução de 30,4% no número de óbitos de motociclistas, apesar de ainda ser o tipo de usuário que aparece com maior frequência entre os mortos no trânsito de Fortaleza. No ano passado, o grupo representou quase metade - 45,6% - dos óbitos em acidentes viários, seguidos por pedestres, com 39,8%.

O aumento no número de ciclistas entre as vítimas de acidentes fatais poderia ser considerado um "ponto fora da curva", de acordo com o professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC), Mário Azevedo.

"O aumento no número de ciclistas que tem se observado deveria levar à diminuição de mortes, porque eles são notados, os motoristas ficam mais atentos. Porém, por mais que existam ciclovias e ciclofaixas, ainda é preciso tomar cuidado, aplicando a direção defensiva. Esses óbitos podem vir de um desrespeito às ciclofaixas ou excesso de velocidade (por parte de outros veículos)", analisa.

A recomendação para ciclistas, segundo Azevedo, é tornar-se visível no trânsito. Roupas de material refletivo, principalmente à noite, são mais indicadas.

A falta de iluminação viária pode ser um problema. A visibilidade é o mais importante. Seria válido fazer campanhas com esse foco, enfatizando também o uso das ciclovias".

Redução

Em números absolutos, a segurança viária consolidou-se como motivo de orgulho para Fortaleza. Ao longo de 2018, foram contabilizadas 226 mortes decorrentes de acidentes de trânsito, um número 12% menor do que os 256 óbitos anotados pelas autoridades de trânsito e saúde em 2017, e 40% menor que os 377 registrados em 2014.

"Foi uma redução muito significativa, uma ação de saúde pública muito potente. Para cada morte, há um sem-número de vítimas que não são fatais, que têm sequelas temporárias ou definitivas", afirma o prefeito Roberto Cláudio.

Para atingir a meta de 50% de redução no número de óbitos no trânsito até 2020, conforme proposto pela Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global, o gestor municipal avalia que será necessário continuar as políticas e ações já implantadas, além de levá-las para áreas da cidade onde se concentra uma incidência maior de acidentes do tipo, e continuar avaliando o que está sendo feito. "Quanto mais dados forem gerados, mais vamos produzir soluções e ações eficientes".

Para Becky Bavinger, diretora da Bloomberg Philanthropies, a chave para atingir a meta até 2020 está na análise de dados, a fim de identificar as principais causas dos acidentes e priorizar as intervenções a serem feitas. "Estamos no último ano da nossa iniciativa de cinco anos, então o motivo de os parceiros internacionais terem se reunido em Fortaleza essa semana é para avaliar o que foi feito até agora, e o que ainda deve ser feito", diz.

Escola

Entre as ações citadas pelo prefeito, destaca-se uma escola de formação e capacitação de motociclistas, a ser implantada ainda no primeiro semestre deste ano. O projeto deverá ser conduzido através de uma parceria entre a Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) e a cadeia de revenda de motos.

"A lógica é fazer uma parceria com os revendedores de motocicletas primeiro em Messejana, que é uma área onde foram registrados muitos acidentes. A ideia é que, voluntariamente, o condutor seja estimulado a receber sua moto na escola e, ao chegar para receber a moto, ele possa passar por um treinamento, por uma conscientização. Vamos testar esse projeto piloto em Messejana e, se o resultado for bom, expandir para outras áreas da cidade", detalha o secretário executivo de Conservação e Serviços Públicos, Luiz Alberto Sabóia.

Os principais fatores de risco a serem combatidos, de acordo com Luiz Alberto Sabóia, são: a velocidade excessiva, o hábito de dirigir após consumir bebidas alcoólicas e o não uso do capacete e do cinto de segurança. O secretário executivo ressalta que, graças às intervenções e estratégias de segurança viária que vêm sendo implementadas desde o início da gestão, cerca de 423 pessoas deixaram de morrer em acidentes que puderam ser prevenidos.

Os óbitos causados por ocorrências do tipo são considerados uma epidemia global pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e os acidentes viários são indicados como a 8ª principal causa de mortes no mundo, gerando impactos negativos não apenas em núcleos sociais, mas também na saúde pública e na economia.

Intervenções

"Por ano, o custo com as mortes em Fortaleza, segundo um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), gira em torno de R$ 550 e R$ 600 milhões, somados aos gastos do Município, do Estado, do Governo Federal e da Seguridade Social", informa Luiz Alberto Sabóia.

Intervenções de mobilidade foram anunciadas como forma de seguir avançando na prevenção às mortes e lesões por acidentes de trânsito, em diferentes pontos da Capital. Ao longo de 2019, serão implantadas novas faixas elevadas de pedestre e mil paraciclos, além da abertura de licitações para implantar 100 novas estações do Bicicletar.

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