Pedestres e motociclistas puxam diminuição de mortes no trânsito

Mesmo sendo perfis vulneráveis e que, nos últimos anos, mais registraram óbitos em Fortaleza, os dois grupos, em 2019, tiveram redução no número de mortes. A redução é atribuída à execução de ações estruturais e de fiscalização

Escrito por Barbara Câmara , barbara.camara@svm.com.br
Legenda: A Rua Barão do Rio Branco, no Centro da Capital, é um dos exemplos de intervenção cuja prioridade é o pedestre
Foto: FOTO: FABIANE DE PAULA

No trânsito de Fortaleza, motociclistas e pedestres são os dois perfis mais frequentes de vítimas, representando, respectivamente, 44,2% e 40,6% das mortes contabilizadas nas vias de Fortaleza em 2019. Mas, apesar da vulnerabilidade que caracteriza esses dois grupos, a quantidade de óbitos nessas categorias felizmente foi reduzida de 192, em 2018, para 167 no ano passado. Esses números puxam a queda registrada no número total de mortes no trânsito da Capital que passou de 226 para 197 entre um ano e outro.

No caso dos motociclistas, o número de mortes caiu de 101, em 2018, para 87 em 2019. Uma redução de 13,9%. Já nos óbitos de pedestres, o decréscimo foi de 12,8%, passando de 91 para 80 em igual período. As informações foram divulgadas ontem pela Prefeitura de Fortaleza.

A diminuição verificada nos dois perfis acompanha uma tendência que vem sendo observada na Capital desde 2015. Pelo quinto ano consecutivo, a cidade apresenta uma queda no número de mortes no trânsito, e, pela primeira vez, a quantidade de óbitos a cada 100 mil habitantes é inferior a 200. No ano passado, segundo a Prefeitura, foram contabilizados 197 mortes.

Em comparação ao ano de 2010 - quando a taxa de mortes no trânsito no município foi de 14,9 mortes por 100 mil habitantes - a redução foi de 50,3%, pois essa taxa foi de 7,4 mortes a cada 100 mil em 2019. O registro faz com que Fortaleza seja uma das primeiras cidades no mundo a alcançar a meta estipulada pela Organização das Nações Unidas (ONU), de reduzir pela metade a taxa de mortes no trânsito. O resultado foi alcançado antes mesmo do encerramento do prazo, previsto para o fim de 2020. O cenário favorável é atribuído a um conjunto de políticas de mobilidade, lançadas com "forte base científica" e direcionadas por dados, conforme descreve o prefeito Roberto Cláudio.

Ações

"Isso aconteceu em virtude de novas ações de fiscalização, por muitas campanhas educativas, por conta de mudanças na engenharia de tráfego em vias que normalmente tinham mais acidentes. Também por decisão de estruturar um modal ou infraestrutura cicloviária com mais segurança. Aconteceu, também, devido à redução de velocidade de algumas áreas da cidade", afirma.

O prefeito enfatiza que o alcance da meta antes do prazo foi possível através da "excelência de planejamento", e por uma preocupação em basear a implantação de ações em dados e evidências científicas, além do apoio e compreensão da população.

O coordenador da Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global, Dante Rosado, avalia que a redução mais expressiva no número de mortes de motociclistas e pedestres pode ser atribuída ao fato de ambos os perfis serem alvo de ações da Prefeitura.

"Os atos de fiscalização e conscientização focam muito nesses usuários, principalmente em relação ao uso do capacete. A Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) criou um centro de treinamento para motociclistas na Messejana, e isso vem capacitando algumas pessoas", explica o coordenador.

Em relação aos pedestres, Rosado destaca as áreas de trânsito calmo e as intervenções temporárias, que vêm contribuindo para a segurança. O "carro-chefe" dessa mudança, segundo ele, seria a readequação de velocidade nas vias mais críticas da cidade, como foi feito nas avenidas Leste-Oeste, Francisco Sá, Osório de Paiva e, recentemente, Augusto dos Anjos.

"É uma medida que alcança todos os usuários, principalmente esses mais vulneráveis. Mas não existe uma 'medida mágica' que vai resolver todo o problema, é um conjunto de ações", detalha.

Demandas

Para pedestres e usuários do transporte público, as diferentes perspectivas sobre o trânsito geram um misto de opiniões. O estudante Davi Barbosa, 22 anos, defende a implantação de mais ciclovias e ciclofaixas. "Alguns trechos poderiam ter mais, como a 13 de Maio, onde muitos ciclistas passam a lazer ou indo para o trabalho. Agora 'tá' mais seguro com sinalização", diz.

"As obras têm melhorado bastante a minha vida. Eu moro perto de um shopping, e os carros estão mantendo uma certa distância pra gente atravessar", comemora a administradora Terezinha Macêdo, 50 anos. O mototaxista José Paulino, 50 anos, faz outra avaliação. "As obras de mobilidade têm dificultado o nosso trabalho nos últimos anos. O condutor do ônibus tem uma faixa só pra ele, de um lado é um calçadão, e do outro é uma ciclofaixa. Nós ficamos com um corredor bem pequeno pra dirigir, e isso nos faz sentir mais inseguros".

Para aprimorar os resultados, a Prefeitura destaca o Plano de Segurança Viária, que será aprovado como lei, segundo o prefeito. O secretário executivo da Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos (SCSP), Luiz Alberto Sabóia, pontua que o plano trabalha determinadas vertentes, como desenho urbano, focos da fiscalização de trânsito, campanhas de educação e distribuição de recursos no orçamento e metas para os próximos 10 anos.

"Observando as melhores taxas internacionais, o ideal é zero mortes no trânsito. Isso é utopia? Parece que sim, mas algumas cidades mostram que não. Recentemente, Oslo, na Noruega, chegou a ter uma morte no trânsito", ressalta.

"Nosso caminho é buscar chegar ao patamar dos países desenvolvidos, que têm cerca de 1,5 a 2 mortes a cada 100 mil habitantes. Por isso, é importante ter esse Plano de Segurança, para que os próximos gestores possam executá-lo", afirma.

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