Pedestre deve ser prioridade no redesenho urbano

Fórum do Observatório de Segurança Viária abordou estratégias na redução do uso do automóvel individual

Escrito por Redação ,

Com ruas e avenidas cada vez mais saturadas de veículos é urgente que grandes metrópoles trabalhem cada vez mais para alcançar uma mobilidade sustentável. Entre suas diretrizes, o conceito parte da perspectiva de transformação dos espaços urbanos para além dos veículos motorizados, incentivando a ocupação saudável e promovendo deslocamentos seguros, com menos mortes no trânsito. O cenário esteve em pauta, ontem, durante a 3ª edição do Fórum do Observatório de Segurança Viária, uma parceria da Prefeitura Municipal de Fortaleza e da Universidade de Fortaleza (Unifor).

Com o tema “Cidade para Pessoas”, o encontro discutiu a quebra do paradigma da mobilidade urbana focada no automóvel individual, tendo o pedestre como o foco principal das ações de segurança viária. Nesse contexto, a primeira medida a ser tomada deve ser a redução dos limites de velocidade, segundo explica Skye Ducan, Diretora urbanista da Iniciativa Global de Desenho para Cidades’ da National Association of City Transportation Officials (Nacto). 

A especialista cita exemplos exitosos ao redor do mundo, como reduções em vias da Nova Zelândia e Reino Unido, respectivamente, para 30 km/h, 20km/h. 

“Se uma pessoa é atingida por um veículo a 30km/h ela tem 90% de chance de sobreviver, mas se for atingida a 60 km/h, que para quem está dentro do veículo nem é tão rápido, ela tem 90% de chance de morrer. Todos os anos, no mundo, morrem 1, 4 milhão de pessoas vítimas de acidentes de trânsito. É uma pessoa morta a cada 23 segundos, mas são mortes evitáveis e todos nós temos o poder de fazer alguma coisa”, diz.

A urbanista explica, no entanto, que não basta apenas reduzir os limites de velocidade. Em muitos contextos, destaca ela, o redesenho geométrico do espaço favorece a mudança de comportamento dos motoristas. “A forma como projetamos nossas vias impactam, por exemplo, se conseguimos atravessar uma rua com segurança ou não. Se a gente, fisicamente, redesenha essa via, estamos te dizendo como você deve agir. Um projeto ruim, por outro lado, induz a um comportamento ruim”, avalia.

Modais

Entendendo o significado prático de demanda induzida, ou seja, quanto mais espaço se der aos carros mais haverão, o segundo ponto a ser trabalhado, conforme Ducan, está justamente na redução do uso do automóvel individual. Um resultado efetivo a essa meta, avalia ela, também parte do princípio de se reprojetar ruas e avenidas a fim de comportarem todos os modais. “Ruas multimodais são mais eficientes, podemos deslocar pessoas a mais só reprojetando o espaço urbano”.

Ao longo do planejamento urbano das grandes cidades, acrescenta a especialista, o pedestre foi sendo deixado de lado e ficou sem espaço. Por isso, outro ponto fundamental é que este seja colocado em primeiro lugar nos projetos de desenho urbano.

Intervenção

Em Fortaleza, Skye Ducan destacou o projeto “Cidade da Gente”, que por meio de intervenções apresentou uma nova forma de uso para áreas de asfalto antes priorizadas aos carros, como no entorno do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura e na Cidade 2000. Neste último, o espaço trabalhado concentra, hoje, 73% de área destinada aos pedestres. Antes da intervenção, a área destinada era de apenas 21%. A medida, de acordo com a Prefeitura, vem alcançando resultados positivos mundo a fora não apenas na redução de mortes no trânsito, mas numa maior qualidade de vida para moradores e turistas através de deslocamentos sustentáveis.

Ainda de acordo com a diretora da Nacto, é preciso entender o contexto de cada via para a execução do projeto, destacando a importância da coleta de dados qualitativos. “Comece a pensar as ruas pelos pedestres. Pense na escala macro e em geometrias específicas para cada usuário. A Iniciativa Bloomberg está trabalhando em cidades com políticas públicas, capacitação de pessoal, intervenções, sempre mensurando e avaliando como ajudar a cidade”, conta.

Anunciado em junho de 2017 como uma parceria entre poder público e academia, o Observatório de Segurança Viária foi pensado para aproximar representantes de setores da sociedade civil para a apresentação de melhores práticas e o engajamento no combate ao elevado número de acidentes de trânsito.

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