'Paredões' e infrações de foliões geram queixas sobre Pré-Carnaval

Moradores do entorno de polo oficial da programação reclamam de brincantes que estendem a festa para além do horário permitido. Fiscalização é reforçada, mas mudança de comportamento de brincantes é fundamental

Escrito por Redação , metro@svm.com.br

O início dos festejos carnavalescos em Fortaleza marca um período de animação para alguns e preocupação para outros. Com o aumento do número de foliões que ocupam praças e ruas da cidade em nome da alegria, cresce também a necessidade de fiscalização e controle do espaço urbano.

No último fim de semana, denúncias de infração à Lei do Silêncio, estacionamento em locais proibidos, venda de produtos irregulares e brincantes urinando em espaços públicos e privados se multiplicaram na Capital, principalmente no entorno de um dos polos mais bonitos e tradicionais da folia: o Benfica.

A programação oficial do polo, estruturado na Praça João Gentil, acontece das 18h às 22h, às sextas-feiras e sábados; e das 9h às 19h, aos domingos, como confirma a Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor). Os horários, contudo, não demarcam o fim da festa. De acordo com o médico Franklin Luís, morador do Benfica há 29 dos 34 anos de vida, os "paredões" de som utilizados na festa de Pré-Carnaval de sábado foram audíveis até, pelo menos, 3h do último domingo (26).

"Quando acaba a festa oficial, entre 22h e 23h, se mantêm outros tipos de festas, com brincantes e ambulantes que trazem caixas de som e paredões. De sábado pra domingo, em plenas 3h, ainda tinha som tocando, com umas 20 ou 30 pessoas na frente da minha casa. Nossa reclamação não é a festa, gostamos desse Carnaval cultural e tradicional que é o do Benfica, eu mesmo brinco sempre. Mas não aceitamos essa falta de respeito de quem não sabe a hora de parar", pontua o médico, observando que a presença forte dos "paredões de som" é um fenômeno novo no ciclo carnavalesco do bairro.

Fiscalização

Em nota, a Agência de Fiscalização de Fortaleza (Agefis) informa que atuou com 55 fiscais e 165 auxiliares nos 11 polos oficiais do Ciclo Carnavalesco, e que "o atendimento a denúncias de poluição sonora resultou na apreensão de um paredão de som no Lagamar".

No Benfica, esclarece a Agefis, nenhum aparelho foi flagrado. O órgão indica, porém, que "tem sido comum o uso de pequenas caixas de som portáteis pelos frequentadores das praças no pós-festa, o que dificulta a apreensão pela fiscalização".

O gerente de plantões e operações especiais da Agefis, Reginaldo Araújo, aponta que a localização das reclamações por parte de moradores mudou em relação a 2019. "No ano passado, recebemos muitas queixas do entorno do Mercado dos Pinhões. Neste ano, os problemas têm sido no Benfica. Por isso, estamos com essa intensificação da presença de equipes lá, não vamos tolerar nenhum incômodo aos moradores", reforça.

Outros dois problemas identificados por quem vive no bairro para além dos dias de festa são relacionados à limpeza urbana e ao estacionamento em locais proibidos, como aponta Franklin.

"Não estou dando plantão diurno, porque meu ir e vir ficou totalmente prejudicado. Não tenho como sair da minha casa, porque nossas garagens não são respeitadas. Também tem pessoas urinando nos muros, apesar de haver banheiros. Isso é uma coisa que infelizmente nunca vamos remover", lamenta.

Outra moradora do entorno da Praça João Gentil, que preferiu não se identificar, afirma que o esposo chegou a instalar um refletor para inibir a atitude de foliões, mas não surtiu efeito. "Toda vida que tem isso aqui, a gente tem que lavar calçada, muro, árvore, senão não aguenta ficar dentro de casa, com o mau cheiro. O povo não tá nem aí. Com os banheiros químicos, diminuiu, mas continua. É uma falta de educação", critica.

Estrutura

Somente no Polo Benfica, aponta a Secultfor, foram instalados 40 banheiros químicos durante a programação oficial do Ciclo Carnavalesco, sendo dois para pessoas com deficiência. Como manutenção e para garantir a usabilidade, os equipamentos são sugados diariamente antes da programação", segundo a Pasta.

A moradora afirma, ainda, ter acionado a Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops), via 190, pelo menos duas vezes, principalmente na tentativa de cessar o uso de som alto.

"O evento não me incomoda, desde que tenha organização. O problema é que quando termina o evento oficial, os fiscais vão todos embora e deixam isso aqui pra gente. Fica paredão até 5h. Sábado, cada esquina tinha um. A gente liga, a Polícia vem, mas quando vai embora, o pessoal liga o som de novo", aponta.

O Diário do Nordeste solicitou à Ciops a quantidade de chamados recebidos durante o Pré-Carnaval, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.

Demandas

De acordo com Reginaldo Araújo, os canais oficiais da Agefis só receberam duas denúncias durante todo o fim de semana, hábito que deve mudar para "uma maior efetividade" das ações de fiscalização.

"Temos o aplicativo Fiscalize Fortaleza, o site denuncia.Agefis.Fortaleza.Ce.Gov.Br e o Canal 156. A população deve se atentar à riqueza de detalhes, qual o horário, a localização do incômodo, para a equipe fazer a fiscalização mais efetiva e mais rápida". Segundo o gerente de operações, o efetivo será reforçado, no próximo fim de semana.

Mateus Perdigão, um dos organizadores do bloco Luxo da Aldeia- que durante alguns anos teve como palco o polo Benfica-, conta que o grupo realiza, anualmente, campanhas nas redes sociais com o intuito de conscientizar os foliões sobre os limites das brincadeiras e cuidados coletivos.

"Realizamos ações nas redes sociais para que as pessoas tenham consciência sobre, por exemplo, garrafas de vidro e demais recipientes. Durante o pré e o próprio Carnaval também publicamos peças sobre assédio e o uso de transporte público nesses períodos", ressalta.

Moradores se queixam que brincantes protagonizam diversas irregularidades como infringir à Lei do Silêncio, estendendo a festa para além do horário permitido, além de protagonizarem outras irregularidades. A Prefeitura assegura que tem intensificado a fiscalização no entorno dos polos de Pré-Carnaval

Denúncias

A Agefis tem distintas plataformas para receber denúncias sobre irregularidades no uso do espaço público

Meios

Aplicativo Fiscalize Fortaleza, site denuncia.agefis.fortaleza.ce.gov.br e Canal 156

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