Venezuelanos ocupam Terminal Rodoviário Engenheiro João Thomé

Crianças e idosos dividem colchões em área de táxis em Rodoviária

Escrito por Rodrigo Rodrigues e João Lima Neto , metro@svm.com.br
Legenda: Mochilhas e colchões ficam empilhados em estacionamento de rodoviária
Foto: Foto: Wânyffer Monteiro/SVM

Venezuelanos estão usando um dos estacionamentos do Terminal Rodoviário Engenheiro João Thomé como abrigo. Embaixo de árvores e com pertences espalhados pelo chão, homens, mulheres e crianças vivem na capital cearense com o dinheiro de doações.  

Newton Neres Fialho, gerente de Núcleo da Socicam Administração Projetos e Representações, responsável pela gestão da terminal rodoviário, explica que a administração sabe da presença dos venezuelanos nas dependências do equipamento. De acordo com o gestor, os órgãos de defesa social da Prefeitura de Fortaleza foram informados sobre a situação.

Os venezuelanos chegaram na cidade em diferentes semanas do mês de dezembro deste ano. O grupo buscou abrigo na área dos táxis que atendem a rodoviária. Um deles, identificados apenas como "Seu Baltazar", de 68 anos, divide espaço com cinco crianças e seis adultos. Encostado na grade e com português pouco fluente, ele lembra as dificuldades que o fizeram chegar até a rodoviária. “Viemos todos juntos da Venezuela. Somos da mesma comunidade, de Cristiano, na zona rural, onde vivíamos da agricultura. Não tínhamos mais como viver lá”, explica. 

Sem trabalho, o grupo vive de doações de alimentos e dos poucos trocados com doações. As necessidades básicas, como ir ao banheiro, são feitas na própria rodoviária. “A gente toma banho na rodoviária, lá pra dentro. Damos banho nas crianças lá também. Isso custa três reais, o pessoal ajuda a gente”, explicou Baltazar. 

Doações 

Outro grupo de venezuelanos vivia da pesca na cidade de Delta Amacuro e hoje sobrevive pedindo dinheiro em cruzamentos de Fortaleza. Um deles, identificado apenas por Elver, de 35 anos, afirma que a população cearense não ajuda tanto como em outras cidades. Acompanhado dos pais, três filhos e um tio, o estrangeiro tenta trazer um outro familiar com o dinheiro que arrecada. A família já passou por Manaus e Belém. Na segunda-feira (16), planejam ir para Natal (RN). 

José Verimar, taxista há quase 20 anos na região, conta que não é a primeira vez que vê essa situação. “Em outras ocasiões eu já esse pessoal vir para ficar aqui porque não tem para onde ir”. comenta, “De dia o grupo fica nos sinais e à noite a gente vê a quantidade que realmente tem. Eu vejo as redes daqui até lá embaixo”, conta Verimar.   

Política pública

Elpídio Nogueira, titular da Secretaria dos Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SDHDS), informou que uma equipe do órgão já iniciou um relatório sobre a presença dos venezuelanos na Capital. Segundo ele, a Pasta municipal está em diálogo com a Secretaria de Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos humanos (SOS) para obter uma solução.

"Existe uma dificuldade quanto a política pública. Pois nem Fortaleza e o Estado aderiram o programa do Governo Federal lançado quando os primeiros venezuelanos começaram a chegar no Brasil, devido a crise política. Estamos distante da Fronteira. Não imaginávamos que viriam para cá", afirma Elpídio Nogueira.

Conforme o titular da SHDS, o órgão já disponibilizou uma casa no município de Caucaia para abrigar os estrangeiros, além de liberar o uso dos refeitórios público em Fortaleza. "Vamos abrir diálogo com o Governo Federal para solucionar a vida dessas pessoas".

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