Terceiro dia de buscas por vítimas de desabamento começa com expectativa de encontrar soterrado vivo

Edifício Andrea desabou na terça-feira (15) pela manhã

Escrito por Redação ,
Legenda: Buscas por sobreviventes chegam ao terceiro dia
Foto: Camila Lima/SVM

O trabalho ininterrupto de buscas por sobreviventes do desabamento do Edifício Andrea, que desmoronou na terça-feira (15), continua em seu terceiro dia nesta quinta-feira. Desde o fim da noite anterior, socorristas e apoiadores voluntários têm a expectativa de encontrar uma pessoa com vida. Provavelmente uma mulher. A possibilidade de encontrar um sobrevivente aumentou a já exemplar rede de solidariedade. Pela manhã, contudo, foi retirado mais um corpo, de um homem. É a quarta morte confirmada. Ainda não se sabe a identidade dele.

A concentração de forças para localizar e resgatar a vítima revelou um problema: a falta de itens tão úteis quanto necessários, como luvas, baldes e óculos de proteção. As doações de anônimos ajudam muito, mas não são suficientes. Trabalhar com essa deficiência, contudo, ressalta ainda mais o empenho dos socorristas, que não transmitem a exaustão óbvia que enfrentam.

E esse emprenho durou toda a madrugada. Até a publicação, eram mais de seis horas focadas no resgate da vítima que pode estar viva. Ela seria uma jovem. Familiares dela tensos com a possibilidade da retirada dela, numa expectativa compartilhada por todos os que estavam lá. Entretanto, não há confirmação oficial sobre a identidade da pessoa.

Enquanto isso, após um desencontro de números, confirmando e "desconfirmando" morte, aumentando e diminuindo o número de desaparecidos, o governo divulga agora a seguinte situação: 4 mortes foram confirmadas, 7 pessoas foram resgatadas com vida e outras 6 estão desaparecidas, conforme o coronel Holanda atualizou às 7h50 desta quinta.

O comandante do Corpo de Bombeiros também ressalta que a corporação tem todos os equipamentos necessários para o trabalho de resgate. Mensagens divulgadas em redes sociais pedindo doações em nome do órgão são falsa, segundo ele.

Corpo retirado

Por volta das 6h40, os bombeiros usaram uma lona preta para cobrir uma área e uma equipe da Perícia Forense foi ao local e fez a retirada do corpo encontrado. A quarta vítima morta é um homem, conforme o comandante do Corpo de Bombeiros, o coronel Luís Eduardo Holanda.

Legenda: Bombeiros retiraram, na manhã desta quinta (17), o que pode se mais um corpo dos escombros
Foto: Camila Lima/SVM

Mortes confirmadas

1)  Frederick Santana dos Santos, 30 anos, era entregador de água e estava no mercantil ao lado do prédio, no momento do desabamento. Bombeiros confirmaram a morte por volta das 23h30 da noite de terça-feira (15). 

2) Vítima não identificada. SSPDS informou que é uma mulher e que ainda está nos escombros do edifício. Bombeiros confirmaram a morte dela por volta das 8h da quarta-feira (16). 

3) Izaura Marques Menezes, de 81 anos, é avó do primeiro resgatado com vida do prédio, o jovem Fernando Marques. Os bombeiros confirmaram a morte por volta das 17h30. De acordo com a corporação, o corpo foi encontrado ao meio-dia e eles não conseguiram identificar a vítima. A SSPDS, depois, a identificou como Izaura Marques Menezes, após exames de odontologia forense (arcada dentária).

4) Antônio Gildasio Holanda Silveira, de 60 anos, foi identificado por meio da impressão digital. Ele foi retirado dos escombros na manhã da quinta-feira (17).

QUEM SÃO AS PESSOAS RESGATADAS COM VIDA

1) Fernando Marques, 20 anos, foi o primeiro resgatado com vida dos escombros;
 
2) Antônia Peixoto Coelho, 72 anos. Estado de saúde é considerado grave;

3) Cleide Maria da Cruz Carvalho, 60 anos. Foi encaminhada para hospital com ferimentos no corpo. Quadro de saúde é estável;

4) Davi Sampaio, universitário do curso de Arquitetura de 22 anos. O jovem, que sofreu escoriações, fez selfie nos escombros e enviou para a família. Ele teve alta hospitalar na tarde desta quarta (16);

5) Gilson Gomes, 53 anos, trabalhava próximo ao local e estava no mercantil ao lado do prédio, no momento da desabamento. Ele quebrou as duas pernas e está internado no IJF

6) Francisco Rodrigues Alves, 59 anos, porteiro e zelador do Edifício Andrea. Ele aparece correndo em um vídeo do momento do desabamento. Está internado no IJF;

7)  João Ycaro Coelho de Menezes, 35 anos, foi resgatado às 15h de terça-feira (15). Ele é sobrinho da idosa Antônia Peixoto Coelho, 72 anos, também resgatada com vida. Ele é engenheiro de computação, teve escoriações no momento do desabamento e foi encaminhado para o Frotinha de Messejana. Ficou em observação, fez exames e teve alta nesta quarta (16). 

Desabamento: entenda o que houve

O Edifício Andrea desabou na manhã desta terça-feira (15), por volta das 10h28, no cruzamento da Rua Tibúrcio Cavalcante com Rua Tomás Acioli, no Bairro Dionísio Torres, em Fortaleza.

A Prefeitura de Fortaleza afirmou na tarde desta terça que o prédio foi construído de maneira irregular. Segundo a prefeitura, até o ano de 1995 existia uma residência no lugar do Edifício Andrea. O primeiro imóvel foi construído na década de 1970. A prefeitura revelou ainda que a construção irregular dos sete pavimentos é o motivo pelo qual não há registros oficiais do prédio. 

O presidente do Conselho Regional de Engenharia do Ceará (Crea-CE), Emanuel Maia Mota, afirmou durante entrevista coletiva, que também não tem registro ou nome de um engenheiro responsável pela construção do Edifício Andrea. 

“Aqui no Crea a gente está constituindo uma comissão que vai levantar informações acerca da reponsabilidade, dos profissionais que estavam ali na nuvem, digamos assim, de serviços a serem executados, e vamos repassar isso para a Defesa Civil, para a perícia, enfim”, afirmou ele. 

Emanuel Maia Mota disse também que foi registrada, uma Anotação de Responsabilidade Técnica informando uma reforma de recuperação de construções e pintura no Edifício Andrea, que ia custar R$ 22.200. O documento é exigido sempre que condomínios ou donos de casas vão fazer uma obra no imóvel. 

Mota explica que a anotação entrou segunda-feira nos registros do Crea-CE em nome de um engenheiro que informava que uma reforma seria executada no prédio, sem especificar em que área seria esta obra. 

Sobre a Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), documento de registro da reforma, o presidente do Crea acrescentou que uma vez que o engenheiro faz o registro do serviço, ele se autodeclara responsável pelas obras.  

"O engenheiro passa a assumir tudo após esse registro e quando ele faz de forma genérica, essa responsabilidade é muito mais ampla. Se ele tivesse descrito o que ele estava fazendo e que tipo de procedimento ia ser executado, as responsabilidades iam se restringindo. Dependendo da responsabilidade apontada pela perícia que será feita no local, no Crea ele pode responder à resolução 1090, que prevê a suspensão do registro profissional. 

Vídeo mostra síndica, porteiro e trabalhadores da reforma

Em nova imagens divulgadas nesta quarta-feira (16), é possível ver o momento exato que pessoas próximas ao prédio correm enquando o edifício desaba. No vídeo, identifica-se uma pessoa do lado de fora, e outras 5 correndo dentro das instalações do prédio. Das 5 pessoas de dentro do prédio, tem-se notícia apenas de uma delas: o porteiro e zelador do condomínio, Francisco Rodrigues da Silva, que correu no momento da tragédia e conseguiu sobreviver. 

Em contato com nossa equipe, Francisco Rodrigues confirmou ser uma das pessoas que aparece no vídeo e revelou que as outras quatro pessoas são a síndica do Edifício Andrea, Maria das Graças, e três homens que trabalhavam na reforma do prédio, iniciada na segunda-feira (14), um dia antes do desastre. Até o momento, os bombeiros ainda não informaram sobre o paradeiro deles. 

Em entrevista do Sistema Verdes Mares, o porteiro afirmou que foi uma "tragédia anunciada". " O prédio já vinha nos avisando que ia cair. Eu tinha medo e muitas pessoas também", afirmou. No vídeo, a sexta pessoa, que está sentado em uma cadeira na calçada, é o vigilante Vando Pereira. "Eu estava sentado lá trabalhando como eu sempre fico na frente do prédio. Ouvi um estalo grande. Quando eu olhei, já vi aquele poeiral. De repente estava tudo pelo chão, você não enxergava mais nada. Saí correndo e graças a Deus consegui sobreviver", disse em entrevista na terça-feira (15), logo após o desabamento do prédio. Vando trabalha numa loja que fica perto do edifício. 

 

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