Sorteio de matrícula tem concorrência de 12 alunos por vaga

Atraídos pelos bons resultados da Escola Adauto Bezerra, cerca de 600 famílias se cadastraram para conseguir uma vaga na unidade. Contudo, pais foram surpreendidos pela redução no número de alunos contemplados

Escrito por Nicolas Paulino , nicolas.paulino@diariodonordeste.com.br

Ô, Glória!, gritou a mulher diante da quadra lotada da Escola Estadual de Ensino Médio Governador Adauto Bezerra, no bairro de Fátima, quando sua senha foi chamada dentre as mais de 600 distribuídas pela coordenação da unidade de ensino. Ela não teve tempo para dar entrevista; ia correr para a secretaria, matricular o filho e, já uniformizada, partir para o trabalho (estava atrasada). 

A maioria dos pais ou responsáveis - e consequentemente seus representados - não teve a mesma sorte: a escola só abriu 53 vagas, e exclusivamente para o turno da tarde. O diretor da escola, Otacílio Bessa, explica: desde dezembro, ocorreram dois remanejamentos. 

O primeiro, na primeira quinzena, foi de alunos da própria Rede Estadual; o outro, de alunos que terminaram o 9º ano do Ensino Fundamental, na Rede Municipal, e precisam ingressar no Ensino Médio, em 2019. 

As vagas remanescentes são destinadas à ampla concorrência para estudantes oriundos da rede particular, de outros estados e municípios ou que abandonaram a escola e desejam retomar os estudos. “É claro que a gente tem muita vontade de atender a todos que procuraram a escola, que acreditam no trabalho da nossa equipe, mas teríamos que construir outro Adauto Bezerra para atender a toda essa demanda”, comenta Bessa. 

Centenas de pessoas se aglomeraram próximo aos muros da escola desde a manhã de 1º de janeiro, a fim de garantir uma vaga. A direção preferiu mudar o sistema para evitar a situação “desumana”.

Entre os dias 2 e 4, em meio aos ataques criminosos em Fortaleza e Região Metropolitana, centenas de senhas foram entregues aos pais e responsáveis para a realização do sorteio, realizado ontem (7), pouco depois das 10h. Os adultos compareceram ladeados por adolescentes candidatos às vagas. Representantes da plateia foram chamados para auditar os números colocados dentro da urna atestando a transparência do processo.

Chamada

A tensão da cobradora Clara Martins se desfez com a chamada do número 116, o terceiro a ser retirado do recipiente. Pronto. A filha, Gabriela, de 14 anos, está com os estudos garantidos neste ano, depois de deixar a rede privada. Golpe de sorte, já que a jovem não estava matriculada em nenhuma outra unidade. “Graças a Deus deu certo. Eu já estudei aqui e acho muito bom, ainda mais morando perto, no Vila União”, comemora Clara.

Lucivanda da Silva, autônoma, se benzeu ao receber a ficha da matrícula do filho porque, finalmente, havia terminado a peregrinação por quatro escolas pelas quais a família passou nas últimas semanas. O rapaz até já tinha sido matriculado numa escola de tempo integral, mas preferiu a opção do Adauto Bezerra, referência na Capital em aprovações seguidas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Redução

Alegria de uns, frustração de outros. Apesar da tentativa, o costureiro Inácio Alves não conseguiu vaga para o filho. O pai chegou a passar 28 horas na fila, embora ciente que “já tinha gente há mais tempo”. Ele considera justo o método do sorteio, tanto porque impede que se perca tempo na fila quanto permite a participação de pessoas que trabalham o dia todo ou não possuem tempo suficiente na rotina.

“Só não achei justa a quantidade de vagas. Semana passada, falaram que ia ter em torno de 120, aí quando a gente chega hoje, se depara com menos da metade”, reclama. “Foi errado eles não terem comunicado antecipadamente. A escola tem rede social e tudo. Dava para ter feito melhor”. Pelo menos, Inácio já tem um plano B: o filho foi matriculado em outra escola. “Aqui, quem sabe no próximo ano?”, projeta.

A frustração também atingiu em cheio a professora Helena Meira - pela segunda vez. Ao tentar a matrícula na Escola Estadual Paulo VI, no bairro Jardim América, onde o sistema de seleção era por nota. “Meu filho estudou na particular, mas foi na ‘peia’. Sei que a demanda é muito grande, mas a partir do momento que a gente precisa, o Estado deveria garantir. Acho esse sorteio uma humilhação”, define a professora.

Alternativas

Quem teve a senha sorteada deve confirmar a matrícula até quarta-feira (9). Caso não compareça a tempo, o candidato perderá a vaga e a coordenação da escola usará o cadastro de reserva. Se o aluno já estiver matriculado em outra escola, a direção poderá solicitar o cancelamento na outra unidade.

Durante o sorteio, representantes das escolas estaduais Liceu do Ceará, Presidente Castelo Branco e Visconde do Rio Branco distribuíram panfletos sobre os projetos pedagógicos das unidades e se colocaram à disposição como alternativa aos estudantes.

Legenda: Escolas no Montese, Centro e Jacarecanga mostraram seus projetos pedagógicos aos pais durante o sorteio

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