População que se declara negra cresce 82% no Ceará, aponta IBGE

Especialista destaca processos de identificação e pertencimento a partir de maior acesso a políticas afirmativas. Já a participação da população branca caiu, seguindo tendência nacional

Escrito por Redação ,
Legenda: Cultura negra e quilombola resiste no Centro Cultural Negro Cazuza, em Horizonte.
Foto: Foto: Natinho Rodrigues

A população declarada negra cresceu 82% no Ceará, entre 2012 e 2018, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua 2018, publicada nesta quarta-feira (22) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O índice passou de 2,9% para 5,3%, mas ainda é o menor entre os Estados do Nordeste.

Na Região, a maior participação de negros ocorre na Bahia (22,9%) e no Maranhão (11,9%). A maior população no Estado é de pardos, que engloba 65,7% dos habitantes - cerca de 5,9 milhões de cearenses, mais de 12 vezes os quase 480 mil negros que residem aqui, segundo o Instituto. 

Para Luizete Vicente, doutoranda em Comunicação e militante do grupo Negro Kalunga, o crescimento é “um ganho” que reflete uma onda nos últimos 10 anos na maior autoidentificação do povo negro. “Será que nasceu tanta gente assim? Não. O que melhorou foi o acesso a políticas afirmativas e sociais, de distribuição de renda, na área da educação, da saúde e do trabalho”, destaca. 

No entanto, para ela, ainda há muito a se avançar na quebra da herança escravocrata do Brasil. “Você se afirmar num País que reforça o racismo é muito difícil. Não vemos uma parcela majoritária da população negra nas novelas ou nos desenhos. Na educação, essa população é apresentada de forma negativa no período da escravidão, e não recebemos sobre a formação do continente africano - mas do europeu”, analisa a especialista.

Na contramão, em seis anos, decresceu a população declarada branca. Se, em 2012, eram 30,5% dos cearenses, hoje são 28,2%, ou 2,5 milhões de pessoas. Ainda conforme o IBGE, a participação da população dessa raça caiu em todas as regiões de 2012 para 2018, principalmente no Nordeste.

Mulheres

A Pnad 2018 também revela que as mulheres são maioria: correspondem a 52,1% da população cearense. Já os homens completam os outros 47,9%, registrando 4,34 milhões de indivíduos. A diferença entre os dois sexos aumenta a partir dos 25 anos, quando a quantidade de homens começa a cair se comparada à mesma faixa etária das mulheres.

A participação das mulheres também cresceu na chefia dos domicílios. O IBGE aponta que, em 2012, pouco mais de 21% das mulheres era "responsável" pelo lar. No ano passado, o índice subiu para 29,7%. Embora seja maioria, a participação dos homens na responsabilidade das residências vem caindo. Em 2012, 37,6% deles chefiavam; em 2018, o dado diminuiu para 36,3%.

Envelhecimento

As pessoas com 60 anos ou mais já representam o segundo grupo mais populoso do Ceará, com 1,3 milhões de pessoas. Em 2012, essa parcela da população representava 12,2% do total do Estado; no ano passado, passou para 14,5%. O primeiro grupo é o da faixa etária entre 30 e 39 anos, com 1,4 milhões de habitantes.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.