“Não queiram passar pelo que estou passando”, diz cearense internado com coronavírus

Raymundo Rebouças tem 44 anos e praticava exercícios físicos diariamente antes de testar positivo para Covid-19

Escrito por Bárbara Câmara , metro@sv.com.br

Os sintomas começaram na segunda-feira da semana passada, com febre. Depois, vieram dor no corpo, tosse. e, por fim, falta de ar. Na última sexta-feira (20), Raymundo Rebouças, foi internado com um quadro respiratório grave, e, no domingo seguinte, testou positivo para a Covid-19.

Antes de chegar ao hospital particular onde se encontra, o paciente visitou outra unidade de saúde na quinta-feira (19), onde foi diagnosticado com pneumonia. Ele voltou para casa, e então os sintomas pioraram. No momento, Raymundo não tem previsão de quando receberá alta. 

“Minha filha de 11 anos chora direto, dizendo à minha mulher ‘cadê, mãe, você disse que meu pai viria (para casa). Você tá mentindo, ele vai morrer, né?’. Ela passou por isso com o avô materno, que faleceu com câncer de pulmão, e sentia falta de ar, também”, lamenta. Hoje, pai e filha se comunicam por chamadas de vídeos. 

Raymundo trabalhava como profissional liberal e, antes do diagnóstico, levava uma rotina saudável, praticando exercícios físicos todos os dias. Ele completou 44 anos na terça-feira (24), mas não houve possibilidade de comemorar.

“Isso de que seria uma ‘gripezinha’ não existe, não. Eu treinava todo santo dia com personal, e (o vírus) me pegou valendo. Isso não escolhe cor, raça, sexo, nem tamanho”, diz Raymundo. 

Ele revela o acúmulo de frustrações que acompanham a nova realidade, como fadiga e impaciência. A falta de ar, principal sintoma da Covid-19, motiva o desespero. “A sensação é de morrer afogado no seco. Você puxa o ar e não vem”, lamenta. 

‘Melhora lenta’
Desde quando iniciou o tratamento, porém, Raymundo passou a se sentir melhor. O médico que o acompanha, Pedro Nogueira, explica que está sendo executado um protocolo experimental para tratá-lo, além de um antibiótico. “Como é algo muito novo, alguns estudos mostram que esse protocolo funciona, e outros que não. Estamos usando para alguns casos porque ele tem uma espécie de efeito colateral que dá para manejar. Mas não há a certeza de que funciona. Ele está apresentando uma melhora lenta, mas dentro do esperado”, detalha. 

Fora do hospital, a família de Raymundo enfrenta mais do que a preocupação e a saudade. Sua esposa desenvolveu os sintomas e está isolada em casa. Uma de suas filhas está em isolamento domiciliar acompanhada de um irmão, e os outros dois filhos permanecem juntos em outro local. A mãe de Raymundo tem 74 anos, e também está isolada com uma cuidadora. 

Preocupado com a situação do país, Raymundo recomenda a conscientização da população saudável, e torce para que as pessoas atendam às orientações de autoridades da área da saúde e fiquem em casa. “Não queiram passar por isso que eu estou passando, e que muitos estão passando no mundo inteiro. Cuidem de seus familiares e deem mais valor ao ser humano. Prejuízo material a gente tira depois. O mais importante é a vida”, afirma.

Novos casos

Nesta quarta-feira (25), subiu para 211 os casos confirmados de coronavírus (Covid-19) no Ceará. Mais 26 pessoas testaram positivo, conforme a Secretaria de Saúde do Ceará, no informe epidemiológico desta quarta-feira (25). 

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