Lagoa do Opaia: o <i>point</i> dos anos 80 é novela real de abandono

O local era ponto de encontro para famílias e moradores do bairro Vila União nas décadas de 1980 e 1990; hoje, matagal e detritos preenchem o local 

Escrito por Bárbara Câmara ,
Foto: Foto: Helene Santos

Se um dia a Lagoa do Opaia reuniu banhistas e famílias inteiras para manhãs e tardes de lazer, hoje, os momentos de confraternização ao ar livre permanecem apenas na memória dos moradores que vivenciaram o local entre as décadas de 1980 e 1990, período em que área situada no bairro Vila União teve o seu auge.

Legenda: Imagem da lagoa em novembro de 1992
Foto: Foto: Levi Fonseca

No entorno à beira d’água, a vegetação crescida toma o espaço antes ocupado pela população, que se vê privada das caminhadas diárias e dos banhos na lagoa, devido às calçadas obstruídas e à poluição, respectivamente. 

Ônibus e piquenique

Aqui era outra coisa. Tinha brinquedo nos parquinhos, um trenzinho dava a volta na lagoa levando as crianças pra passear, vinha ônibus com turista pra fazer piquenique

“Hoje, não tem mais nada”, lembra a dona de casa Diane Rodrigues, 31, que chegou ao local em 1989, junto de suas irmãs.  

Foto: Foto: Helene Santos

Uma das parentes, Auricélia Oliveira, 46, lamenta a perda dos momentos de lazer aos fins de semana, que, segundo ela, deixaram de acontecer há cerca de 15 anos. “A gente não pode tomar nem um banho na lagoa, por causa do esgoto que tem. Antes, aqui enchia de gente nos domingos, era bom demais, muito animado”, diz. 

Mato e lama

As complicações vão além de um empecilho ao lazer. Os desafios se pronunciam ainda mais quando chove, com lama tomando as calçadas e os caminhos — já limitados — entre o matagal. Poucos se aventuram pelo local durante a noite, porém, para alguns, o percurso não é uma opção, e sim a única escolha.

“Eu me preocupo muito pelo meu neto. Ele volta do trabalho à noite, chega por volta de 19h e tem que andar pelo meio do mato pra chegar em casa, com os pés afundando na lama. Eu fico com medo esperando ele chegar, medo de acontecer alguma coisa com ele”, conta a aposentada Alice Pimentel, 65.  

Legenda: Imagem da lagoa em novembro de 1993
Foto: Foto: Levi Fonseca

Moradora do bairro há 27 anos, Alice lembra com clareza das pescas que presenciou na Lagoa do Opaia em 1995, quando via peixes grandes e até camarões emergirem das águas, puxados pelas redes.

Hoje só dá uns peixinhos pequenos, não rende pra nada. E a lagoa ‘tá’ poluída, então a gente não confia muito pra comer

HISTÓRIA
Lagoa do Opaia: praça construída em 1970 e aterramento

A construção da praça no entorno da lagoa se deu em meados da década de 1970, período em que foi feita uma revitalização no antigo Aeroporto Pinto Martins, como lembra o historiador Miguel Ângelo de Azevedo, o Nirez.

"A lagoa era livre e muito maior. Com o tempo, foi sendo aterrada, conforme os moradores iam chegando. Ela diminuiu muito em tamanho", diz. Para ele, a preservação da Lagoa do Opaia se traduz não só em benefícios para a natureza, mas também na conservação da vivência de Fortaleza.

"Na década de 1950, cerca de 20 lagoas foram aterradas aqui. A cidade não pode ser feita só de pedras", afirma.  

Urbanização 

Considerado o ‘líder da comunidade’, Raimundo de França, 58, faz o que pode para manter o ânimo dos moradores do bairro. No Dia das Crianças, organiza pequenas celebrações para as famílias no entorno da lagoa, e reivindica constantemente a urbanização do local. 

“O ideal era que dessem uma ‘urbanizada’ por aqui, que arrumassem esse mato que tomou ‘de conta’. O que sobrou do parquinho das crianças aqui, eu ajeito, quando quebra alguma coisa ou falta peça. Mas era pra ajeitarem as calçadas, também. Devia ser responsabilidade do governo, né?”, indaga. 

Sem previsão de melhora

Foto: Foto: Helene Santos

A demanda deve ser atendida, mas sem previsão até o momento, de acordo com o titular da Secretaria Regional IV, Francisco Sales. “A partir do segundo semestre desse ano, a Prefeitura vai conduzir a urbanização de sete lagoas: a do Papicu, do Porangabussu, Lago da Viúva, da Maraponga, da Parangaba e Lagoa da Zeza. A Lagoa do Opaia vai ficar para outra etapa, até o final da gestão atual. A intenção é essa”, afirma. 

“Pelo menos semestralmente”, um trabalho de limpeza é feito na Lagoa do Opaia, segundo a Regional IV

A atenção dada ao local obedece a um cronograma de limpeza de recursos hídricos, que engloba lagoas, canais e açudes, retirando o lixo e a vegetação acumulada no entorno. De acordo com o secretário, o trabalho é desenvolvido durante todo o ano, em parceria com a Defesa Civil e a Secretaria de Conservação e Serviços Públios (SCSP).  

“Esse ano, limpamos 86 recursos hídricos em toda a cidade, incluindo a lagoa, na Regional IV. Vamos fazer mais uma por lá ainda em 2019, só não tem a data definida ainda porque depende das outras Pastas”, diz. Sales afirma, ainda, que o descarte irregular de esgoto “vai e volta” no local, e uma vez identificado, é reprimido. 

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