Funcionário terceirizado da Enel é demitido após se recusar a fazer corte de energia

O profissional alega que não achou justo realizar o serviço enquanto há pessoas de quarentena em casa por causa do coronavírus

Escrito por Redação ,
Legenda: Carta de demissão recebida por funcionário de terceirizada da Enel após ele se recusar a fazer cortes de energia durante período de quarentena no Ceará.
Foto: Foto: Arquivo Pessoal

Funcionário de uma empresa terceirizada da Enel Distribuição Ceará, Ramiro Roseno Sombra, 27 anos, afirmou que foi demitido nesta segunda-feira (23) após se recusar a fazer cortes de energia na casa clientes em Fortaleza durante o isolamento social de combate ao coronavírus.

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A Enel alegou que o caso da suspensão do fornecimento de energia em questão foi motivado por solicitação do próprio cliente. Segundo o responsável pela Unidade de Alta Tensão da Enel Ceará, Eduardo Gomes, a demanda foi repassada pela Enel à Sirtec, empresa terceirizada, que por sua vez, divide os serviços entre os funcionários. 

Colocou ainda que a Sirtec informou à Enel que o funcionário em questão estava ciente de que não se tratava de corte por inadimplência, mas a pedido do próprio cliente. Disse também que a Enel Ceará, diante da atual pandemia do novo coronavírus, suspendeu os cortes de energia por inadimplência desde o dia 19 de março.

'Infração anterior'

A Sirtec, empresa para qual Ramiro trabalhava, informou que a advertência recebida pelo eletricista e mostrada em vídeo por ele "não tem relação com sua atividade naquele dia, 23 de março, e sim, por infração cometida pelo mesmo na semana anterior". No entanto, a terceirizada disse que "não irá comentar o motivo da demissão do colaborador de forma a preservar a imagem do mesmo".

A empresa também manifestou que " no seu papel de prestadora de serviços, tem como obrigação o cumprimento de estabelecido em contratos com seus clientes. A suspensão de um ou mais serviços destes contratos, só é realizada por solicitação dos clientes ou por determinação do poder público ".

Quarentena

Segundo Ramiro, ele se opôs a cumprir o serviço devido à situação de emergência e isolamento social no Estado, que impôs a maioria das pessoas a permanecer de quarentena em casa por causa do novo coronavírus. "Recebi 52 cortes, eu e mais 19 motoqueiros, quatro foram demitidos, eu e mais três, e 16 foram suspensos um dia porque todos eles reivindicaram que não ia ser cortado cliente específico porque nesse momento, nesse período, não é cabível cliente ser cortado", disse.

O ex-funcionário disse que, quando recebeu a ordem de corte, por débito, segundo ele, explicou o motivo da recusa aos supervisores e pediu para ser direcionado a outros serviços, como manutenção e ligação de energia.

O eletricista explica que, além dos problemas acarretados pela pandemia de coronavírus que atingiu o Ceará, há risco de os profissionais sofrerem reações violentas da população ao tentar fazer um corte de energia. "É um serviço arriscado", frisou.  

"Nós estamos passando por momento muito difícil, delicado, nesse momento eu optei por não cortar", justificou.

Após a recusa, Ramiro Sombra foi advertido e divulgou um vídeo em suas redes sociais explicando o caso. Horas após a divulgação da advertência, o funcionário foi demitido. 

"Tenho convicção do que falei, não corto e não irei cortar e não me arrependo. Eu escolhi essa profissão e tô há quase seis anos cumprindo ela porque tenho responsabilidade. Mas nesse momento que nós estamos vivendo não tô de acordo em fazer corte", sustentou. 

Pai de quatro filhas, o eletricista trabalhava na empresa há mais de um ano e esta era sua única fonte de renda. 

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