Falta remédio para lúpus nas farmácias após informação que substância poderia combater coronavírus

O Ministério Público Estadual recomendou, nesta sexta-feira, a todas as farmácias de Fortaleza que só realizem a venda de fármacos a base de hidroxicloroquina e cloroquina mediante comprovação da necessidade com receita médica.

Escrito por Thatiany Nascimento , thatiany.nascimento@svm.com.br
Legenda: A Anvisa alertou sobre a informação do uso desses fármacos para o tratamento de coronavírus e diz que não existem estudos conclusivos que comprovam o uso desses medicamentos para o tratamento da Covid-19
Foto: Foto: Arquivo

A possibilidade de um suposto tratamento- que não é reconhecido oficialmente pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) - para o coronavírus com uso de substâncias hidroxicloroquina e a cloroquina, utilizadas no Brasil, dentre outros, para tratar doenças como lúpus e malária, gerou um desabastecimento da medicação nas farmácias de Fortaleza.

A informação divulgada, esta semana, é proveniente de um estudo desenvolvido por pesquisadores chineses que, segundo eles, comprovou associação entre o uso da hidroxicloroquina e a cloroquina  e a redução e até desaparecimento da carga viral em pacientes com Convid-19.

Essa informação que se espalhou pelas redes sociais gerou uma grande demanda por medicamentos à base da substância e esvaziou estoques na capital cearense. Com isso, pacientes em tratamento de lúpus- doença autoimune -, que, de fato, carecem da medicação, estão sendo prejudicados.  

Nesta sexta-feira (20), o Diário do Nordeste buscou a medicação em farmácias de distintas redes em quatro bairros de Fortaleza - Bairro de Fátima, Aldeota, São Gerardo e Barra do Ceará. Em nenhum local a medicação que, contém hidroxicloroquina ou cloroquina estava disponível. Atendentes nas farmácias dizem que a falta se deve à excessiva procura nos últimos dias. 

A comerciante Eliana Soares, 53 anos, que faz uso diário de  hidroxicloroquina, é diretamente prejudicada. Ela tem lúpus eritematoso sistêmico e relata que ao saber da divulgação da informação relacionada ao coronavírus, essa semana, buscou comprar o medicamento por temer a ausência dele no mercado. Por ser do grupo de risco para o novo coronavírus, Eliana não pode sair de casa. 

 “Ligamos para todas as farmácias do bairro. Depois para outros bairros e até para outros municípios. Eu só tenho 10 comprimidos. MInha filha ficou desesperada. Até que conseguimos uma última caixa em uma farmácia”. 

A caixa do remédio, segundo Eliana, custa em média R$ 80 e contém 30 comprimidos. Moradora do Bairro de Fátima, ela avalia que isso reflete a falta de consciência da população. “As pessoas sequer sabem que esse é um medicamento que tem efeitos colaterais horríveis”, acrescenta. A dona de casa foi diagnosticada com lúpus em 2015 e hoje garante que a doença está em remissão. 

“Eu consegui essa para 30 dias, depois não sei como será. Caso não seja reabastecido, eu vou sofrer os efeitos. Mas é um erro tanto de quem compra como de quem vende. Porque essa caixa de remédio é tarja vermelha”, reforça. A caixa de remédios comprada essa semana custou R$ 113 por ser de uma marca diferente da que Eliana geralmente utiliza. 

Diante do problema, o Ministério Público Estadual recomendou, nesta sexta-feira, a todas as farmácias de Fortaleza que só realizem a venda de fármacos a base de hidroxicloroquina e cloroquina mediante comprovação da necessidade com receita médica. O documento também orienta que as farmácias devem reter a receita apresentada. A decisão do MP-CE reitera o pedido nacional feito pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) também nesta sexta-feira.

O Conselho Federal de Medicina solicitou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que a venda de cloroquina e hidroxicloroquina ocorra só com receita
 

Em nota, a Anvisa alertou sobre a informação do uso desses fármacos para o tratamento de coronavírus e diz que “para a inclusão de indicações terapêuticas novas em medicamentos, é necessário conduzir estudos clínicos em uma amostra representativa de seres humanos, demonstrando a segurança e a eficácia para o uso pretendido

Além disso, acrescenta que “apesar de promissores, não existem estudos conclusivos que comprovam o uso desses medicamentos para o tratamento da Covid-19. Portanto, não há recomendação da Anvisa, no momento, para a sua utilização em pacientes infectados ou mesmo como forma de prevenção à contaminação pelo novo coronavírus”.

Os medicamentos à base de Cloroquina como de Hidroxicloroquina são indicados, segundo Anvisa, para: 

1. Afecções reumáticas e dermatológicas (reumatismo e problemas de pele); 

2. Artrite reumatoide (inflamação crônica das articulações);

3. Artrite reumatoide juvenil (em crianças); 

4. Lúpus eritematoso sistêmico (doença multissistêmica);

5. Llúpus eritematoso discóide (lúpus eritematodo da pele); 

6. Condições dermatológicas (problemas de pele) provocadas ou agravadas pela luz solar;

7. Malária (doença causada por protozoários)

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