Especialistas alertam sobre brincadeira entre crianças e adolescentes que pode levar à morte

A “pegadinha” se propaga rapidamente em vídeos publicados na Internet, aumentando o risco da prática entre jovens

Escrito por Redação ,
Legenda: Um dos vídeos de maior repercussão foi gravado há pouco mais de uma semana, em uma escola na Venezuela.
Foto: Foto: Reprodução

O passo a passo de uma brincadeira, registrado em vídeos, vem causando consequências graves entre crianças e adolescentes. A “pegadinha” pode causar traumatismo craniano e hemorragia interna, e, em casos extremos, levar à morte

As imagens mostram três jovens de pé, lado a lado. A pessoa no meio salta, e é surpreendida pelos que estão nas extremidades, que chutam suas pernas em uma espécie de rasteira, provocando uma queda. No processo, as costas e cabeça atingem o chão com um forte impacto. Em alguns casos, a vítima do ato desmaia, e permanece desacordada até o fim do vídeo. 

Em Fortaleza, o Instituto DimiCuida alerta para os riscos de brincadeiras perigosas como esta. A ONG foi criada após a morte uma jovem de 16 anos, que tentou um desafio de asfixia em 2016. “Brincadeiras de mau gosto surgem entre os adolescentes desde sempre, não é algo de agora. O que temos agora é um elemento disseminador da prática, que é a Internet”, explica Fabiana Vasconcelos, psicóloga do Instituto. 

Na Internet, segundo ela, existe a proposta de fazer a brincadeira e de copiar comportamentos digitais. Isso faz parte da socialização atual, que se dá tanto no mundo físico quanto no digital.  

“Todo ano a gente tem acesso a uma brincadeira desse tipo, que pode levar a um dano de saúde ou até mesmo à morte, com a ideia de que deve ser copiada”, detalha. “Existe essa ideia de estar fazendo o que todo mundo está fazendo. O adolescente não gosta de se diferenciar, de sentir que está de fora”. 

Consequências 

De acordo com a pediatra Vanuza Chagas, o meio digital exerce influência sobre a criança, que tentam copiar atitudes similares à de super-heróis ou ‘blogueiros’ com frequência cada vez maior. “Os pais devem ficar alertas porque são brincadeiras perigosas, que podem acarretar sequelas. Essa mais recente, da queda, poda causar hemorragias internas que só são detectadas tardiamente. Isso pode trazer dano irreversível para a criança. Também pode ocorrer traumatismo, possível de levar a óbito”, afirma. 

Como as “pegadinhas” ou desafios são praticados geralmente na ausência de adultos, é necessária a atenção aos sintomas que os jovens venham a apresentar. Em casos de hemorragia interna, nota-se alteração de comportamento, tontura, dor de cabeça, desorientação, sonolência, torpor fora dos horários normais de sono, e irritabilidade excessiva. 

“Quando não acontece um quadro grave que o adulto presencie, como o desmaio na hora, pode acontecer que a pancada gere uma hemorragia, que fica gotejando internamente. Quando ocorre traumatismo, pode ter consequências como a convulsão ou o adolescente entrar em coma", diz. 

Segundo a pediatra, tais práticas são mais frequentes entre jovens com mais de 10 anos, que costumam ter maior autonomia e acesso a um celular, o que os torna mais expostos a conteúdos do tipo. Mesmo quando a brincadeira de risco não gera sequela, toda a família é afetada, uma vez que a criança precisa ser submetida a exames neurológicos e perde aulas na escola. “É um desgaste emocional para todos”, avalia. 

Recomendações

Fabiana destaca que a orientação dada aos pais é de que evitem a divulgação de vídeos que mostre as brincadeiras perigosas sendo praticadas, para evitar o incentivo da “sensação de pânico” entre pais e responsáveis. Ela também recomenda que conversem com os filhos, de forma a tentar identificar se a criança ou adolescente está familiarizado com conteúdo do tipo, e poderia vir a tentar os “desafios”. 

“Quando falar com o jovem, é importante usar o termo ‘brincadeira perigosa’ porque, uma vez que você dá um nome para a prática, fica mais fácil de disseminar. Você deve abordar a criança ou adolescente diretamente, dentro da dinâmica da própria família. E no momento em que você determina que a criança vai utilizar smartphone, devem ser estabelecidas regras de uso para esse aparelho”, ressalta. 

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