Edifício Andrea: casa para alugar é cedida por dono e se torna base para voluntários

Imóvel fica próximo ao local da tragédia, sendo ponto estratégico para armazenamento de insumos e de doações a famílias que perderam tudo

Escrito por Redação , metro@verdesmares.com.br
Legenda: Média de 50 voluntários se reveza para prestar apoio em trabalhos nos escombros
Foto: Foto: Arquivo pessoal

A atmosfera nas ruas que cercam os escombros do Edifício Andrea pesa – é como se as dores físicas e emocionais, a comoção geral, o cansaço dos trabalhadores… É como se tudo fosse palpável. O alívio para quem já está por lá desde terça-feira (15) vem, então, da presença do outro: dos pequenos-gigantes gestos e palavras de voluntários, das bases de apoio montadas por eles.

Uma delas é localizada em uma casa que estava disponível para aluguel, e foi cedida pelo proprietário aos serviços de apoio. O imóvel tem servido de depósito para doações, refeitório e até dormitório para bombeiros e voluntários desde quarta-feira, dia seguinte à tragédia. A iniciativa foi do funcionário público Daniel Serpa, 42.

“Quarta-feira de manhã acordei com uma inquietação. Vim pra cá, logo identifiquei essa casa, liguei pro proprietário e ele prontamente cedeu por dez dias como base de apoio. Falei com meus amigos e nos colocamos à disposição para ajudar nas demandas que apareciam”, relata Carlos, afirmando que o dono do imóvel preferiu se manter anônimo.

Limpeza

Como estava fechada “há muito tempo”, a casa estava suja e com o entorno tomado por mato, além de não ter água nem energia elétrica. Os voluntários, então, fizeram um “mutirão de limpeza” e procuraram obter o material básico para montar a “base”.

Legenda: Proprietário cedeu imóvel para servir como base para voluntários
Foto: Foto: Sistema Verdes Mares

Desde que ocuparam o duplex, Daniel e mais cinco amigos não saíram mais do local, e contam com ajuda “de 50 a 60 voluntários por dia” para servir água e alimentos, receber e armazenar doações e prestar auxílio aos trabalhadores envolvidos nas buscas e na remoção de entulhos do edifício.

300 pessoas
em média passam, diariamente, pela casa-base montada pelos voluntários

A engenheira de produção Anne Ricarte, 34, é uma das que coordenam os grupos de prestadores de serviço, e é categórica ao definir quando os trabalhos encerram: “nosso serviço só termina quando o deles terminar”. “Nós nos colocamos no lugar dessas pessoas que estão trabalhando e vimos que, mesmo que eles tenham assistência do Estado, precisávamos fazer alguma coisa”, justifica.

Segundo Anne, energéticos, barras de cereal e “tudo o que for para obter energia” é direcionado aos agentes do Corpo de Bombeiros. Já alimentos, roupas e demais doações que chegam de todos os locais da cidade “pertencem às famílias”. “Isso é deles. Vamos procurar uma pessoa que seja a representante das famílias e organizar uma logística de distribuição. Provavelmente, será feito um bazar com as roupas, para reverter em dinheiro e ajudá-las”, explica a voluntária.

Lojistas

Pelo menos três proprietárias de lojas localizadas na rua do edifício desabado também têm dedicado tempo e recursos para prestar apoio aos trabalhos de buscas. As empresárias transferiram as mercadorias de local para abrir espaço às doações e instrumentos utilizados pelos voluntários.

Quem assistiu a tudo, viu o prédio desabar e chegou até a escutar pedidos de socorro, como eu, não tem como pensar em nada além de ajudar.” Lojista do entorno

Uma das comerciantes, que preferiu não ser identificada, afirma que, mesmo sem previsão de quando vai reabrir o estabelecimento, a única preocupação é em ajudar as vítimas. “Desde as 10h30, quando o prédio desabou, abrimos as portas das lojas para receber os materiais de ajuda e nos tornamos ponto de apoio. De lá pra cá, não existem marcas – existe uma base de voluntários”, sentencia.

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