"É sempre tempo": Após 14 cirurgias, aposentada de 65 anos mantém rotina diária de musculação

Maria Edite e o esposo de 73 anos integram a seleta parcela de 39% dos idosos cearenses que praticam exercícios físicos regularmente, de acordo com pesquisa do Instituto Opnus

Escrito por Theyse Viana , theyse.viana@diariodonordeste.com.br
Legenda: O primeiro compromisso conjunto do casal Edite e Assis, três vezes por semana, é com a saúde
Foto: FOTO: FABIANE DE PAULA
 


Às cinco da manhã, contrariando o sol ainda indeciso sobre aparecer em Fortaleza, a disposição da aposentada Maria Edite Gomes, 65, já está acesa há muito tempo. Levanta antes do amanhecer, cutuca o marido – Francisco de Assis, 73 –, faz o café dos filhos e se arruma para chegar à academia pontualmente às 5h25. Assim, ajuda a compor o número de 39% dos idosos cearenses que praticam atividades físicas regularmente, conforme pesquisa do Instituto Opnus divulgada pelo Sistema Verdes Mares.

O Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros, coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e divulgado no final de 2018, apontou que 83% das pessoas de 60 anos ou mais realizaram pelo menos uma consulta médica durante um ano. Cerca de 70% dos idosos têm alguma doença crônica – mas Edite e Assis seguem na contramão.

“Quando eu não vou fazer muita coisa de manhã, levanto 4 horas. Aí fico no celular, pra não perder a hora. Perder a hora pra que? Se a gente não fizer assim, a gente morre. Tem gente lá que eu digo ‘mulher, vai fazer caminhada!’ Tem isso não!”, agita-se Edite, “ligada na tomada”.

Mudanças

Ir à musculação três vezes por semana já é parte indispensável da rotina da aposentada há mais de quatro anos – um adeus definitivo ao sedentarismo. “É a saúde da gente que tá em jogo. Antes de eu me operar e vir pra academia, tive três infartos. Se chegasse lá em casa e perguntasse por mim, eu tava no hospital. O último hospital que eu fui tá com cinco anos, que foi pra cirurgia. Hoje eu tenho vida”, comemora.

Foto: FOTO: FABIANE DE PAULA

A personal trainer que a acompanha nos treinos é a própria filha, Nisa Gomes. A educadora física explica por que discutir a importância dos exercícios físicos a pessoas idosas é tão necessário. “Tem a questão do controle da hipertensão arterial, os benefícios musculares. O idoso vai perdendo massa magra, equilíbrio e todos os componentes que o mantêm ativo. O exercício físico vem recuperar isso”, avalia a personal.

A idade, segundo ela, traz a necessidade de cuidados específicos, mas não deve ser sinônimo de “corpo mole”. “Antes de iniciar qualquer trabalho, principalmente com idoso, precisamos ver restrições, medicações e limitações musculares. Mas não é porque é idoso que não vai treinar forte, na verdade eles precisam ter um treino de força, porque é o que mais eles perdem ao longo do tempo. Treino do idoso não tem nada a ver com treino fraco, é forte pra ele”.

Físico e mental

Aos 73 anos e esbanjando uma energia invejável para muitos jovens, o aposentado Francisco de Assis concorda. Ele é esposo de Edite, pai de Nisa, completando o trio formado pela “família fitness”. Assim como a esposa, ele relata com alívio as mudanças que a prática de atividades trouxe à saúde. "Quando eu não vinha pra academia, tinha dia que pra descer a escada era todo quebrado, parecia que tinha levado era uma surra. Agora não sinto mais nada. Renova a mentalidade da gente”.

Quando termina os exercícios, a gente se sente um pouco cansado, mas passa. O corpo fica normal. É a saúde, fico mais disposto pra tudo." Francisco Assis, aposentado

Os benefícios, de fato, vão além dos físicos, como explica Nisa. “O trabalho que acontece na parte psicológica quando eles começam a praticar exercício físico é fantástico. Meu pai tem tendência a ter depressão: se não fosse o exercício, hoje ele estaria no fundo de uma rede. É serotonina. É endorfina. Eles se sentem vivos. Minha mãe é cardíaca, já tem limitação patológica, isso já dá uma baixa na autoestima. Hoje, ela é pra cima”.

Foto: FOTO: FABIANE DE PAULA

Os efeitos dos exercícios físicos na prevenção das doenças mais comuns na terceira idade, como hipertensão, diabetes, insuficiência cardíaca e deficiências nas articulações, são óbvios. Mas o geriatra João Brito também reforça o impacto disso na saúde mental, principalmente num contexto em que mais de 11% dos idosos brasileiros têm depressão, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde. 

“Temos uma cultura em que as pessoas se aposentam e ficam dentro de casa, sem ter o que fazer. Isso é gravíssimo. A atividade física é de suma importância, não somente para manter a musculatura, os órgãos vitais, o coração e a circulação em perfeito funcionamento, mas porque o organismo libera hormônios capazes de prevenir depressão, ansiedade. Vem o prazer de viver, e os neurônios não enferrujam”, ressalta o geriatra.

Série

As cinco reportagens da série “É sempre tempo”, sobre longevidade, foram veiculadas na Rádio Verdes Mares (AM 810) durante a última semana de agosto. O tema da terceira é a sexualidade na terceira idade.

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