“É sempre tempo”: 286 mil idosos cearenses estão ativos no mercado de trabalho

Seja para ocupar o tempo depois de aposentados, por amor à profissão ou para garantir renda, homens e mulheres com mais de 60 anos optam por seguir trabalhando

Escrito por Theyse Viana , theyse.viana@diariodonordeste.com.br
Legenda: Dentista atua há 41 dos 65 anos de vida no Hospital Infantil Albert Sabin
Foto: FOTO: ARQUIVO PESSOAL

O barulho típico da sala de dentista pode fazer até os adultos tremerem de nervosismo, mas Ana Cely Machado, 65, não quer deixar de ouvir tão cedo. Há 41 anos, ela cuida da saúde bucal de crianças e adolescentes com necessidades especiais no Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS), em Fortaleza – e mesmo com tempo de serviço suficiente para se aposentar, prefere seguir em atividade.

“(O que motiva) é meu amor pelo que eu faço. Alguns procedimentos, realmente, não devido à idade, mas a uma limitação que eu tenho no punho, não faço mais. No mais, faço tudo. Continuo trabalhando sem problema nenhum”, orgulha-se Ana Cely.

A dentista integra o total de 286 mil idosos no Ceará que estão ocupados, neste ano, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pelo menos 112 mil deles estão na Capital. Para muitas pessoas com 60 anos ou mais, manter-se ativo é também uma forma de manter-se saudável, como reforça Ana Cely. 

Trabalhar me satisfaz tanto! Tem pessoas que dizem ‘ah, tô cansada’, mas eu não me sinto cansada não, me sinto muito. Trabalhar é o segredo da vida, da longevidade.”

Sociabilidade

O prazer de continuar exercendo a profissão mesmo na terceira idade também estimula a servidora pública Zuleide de Albuquerque, que já está aposentada há 12 dos 72 anos de idade, mas continua na ativa. “É um ambiente de trabalho maravilhoso, faz bem 35 anos que eu tô lá. Amo todo mundo. Tanto que a minha sala era separada, junto com os dois chefes, mas preferi ficar nas ilhas com todo mundo. Tem muito jovem, porque as pessoas estão se aposentando. E eu me dou bem com todos eles”, anima-se.

Além do convívio com os colegas e dos benefícios à própria saúde mental, a aposentada reconhece que um dos fatores para não querer deixar o trabalho é o financeiro. “Quem vai fazer eu parar é Deus. Porque é um salário muito bom, tenho assistência médica, tem muita vantagem. Se eu ficar aqui dentro de casa, fico deitada o dia todo. Pra que vou ficar deitada? Enquanto eu tiver saúde e não me botarem pra fora, pretendo ficar. Até onde me sentir bem”, sentencia.

Permanecer no trabalho é opção para as duas, mas a inserção de idosos desempregados no mercado é um grande desafio, como aponta o consultor de Recursos Humanos e recrutador Antônio Dionatas. “O preconceito é existente. A partir de 40 anos, tem-se uma resistência muito grande em contratar os profissionais, mesmo pós-graduado com doutorado, mestrado” , pontua o consultor.

18 a 24 anos
é a faixa etária preferencial do mercado para contratação, segundo o consultor de RH

Vantagens

Apesar disso, o especialista aponta requisitos que ainda podem favorecer os idosos em contratações – e os pontos fortes que pessoas mais experientes têm em relação às mais jovens. “Algumas empresas utilizam como critérios predisposição, dinamismo, histórico de saúde, se mora próximo ou não do trabalho. Mas as vantagens de contratar são muitas. Essa pessoa está afastada do mercado de trabalho, mas tem uma bagagem profissional a oferecer. Quando contratada, dificilmente vai faltar, por exemplo”.

Enquanto uns seguem na busca por um emprego e outros tentam chegar à tão sonhada aposentadoria, há quem ainda nem consegue planejar o que fazer quando sair do mercado. Para Ana Cely, continuar cuidando do sorriso de dezenas de crianças é o único plano possível. “Já to pensando o que vou fazer quando me aposentar, porque não vou ficar parada. A gente parada escuta o que não é pra escutar, vê o que não é pra ver e fala o que não é pra falar”.

Série

As cinco reportagens da série “É sempre tempo”, sobre longevidade, foram veiculadas na Rádio Verdes Mares (AM 810) ao longo da última semana de agosto. A quinta e última fala sobre a apropriação de ferramentas tecnológicas por idosos.

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