Defesa pessoal ajuda mulheres a se protegerem da violência urbana 

Uma das formas para aprender técnicas de autodefesa é o Krav Maga, um tipo de luta que tem o objetivo de capacitar pessoas comuns para que elas possam se proteger de possíveis ataques criminosos

Escrito por Redação ,

Nos últimos dias, o Projeto de Lei 161/19, proposto pelo deputado federal José Nelto (Podemos-GO), que regulamenta a comercialização do spray de pimenta como arma para defesa pessoal repercutiu nos veículos de comunicação. De acordo com o texto, mulheres a partir de 18 anos devem ter autorização para comprar o produto e armas de eletrochoque para se protegerem. Por conta da violência urbana, o público feminino tem procurado aprender técnicas de autodefesa e achar uma forma de preservarem a vida.  

De origem israelense, o Krav Maga é uma luta que tem o objetivo de capacitar pessoas comuns para enfrentar a violência urbana por meio de técnicas particulares. A prática é procurada por várias pessoas, inclusive quem nunca lutou, de acordo com o vice-presidente da Federação Sul Americana de Krav Maga, Fred Carneiro.

Ele diz que o intuito da técnica é resolver um problema - por exemplo uma tentativa de agressão - o quanto antes. O instrutor explica que os praticantes de Krav Maga são orientados a sempre procurarem o ponto mais sensível do ofensor, como órgãos genitais, rins, garganta e olhos.

O perfil das pessoas que buscam o Krav Maga varia: mulheres, homens, adolescentes, jovens e idosos. A luta ajuda a queimar calorias e melhorar o condicionamento aeróbico, porém o foco principal é a autodefesa.

"Muitas mulheres estão fazendo Jiu-jitsu. Ficar na rua agarrado com alguém no chão é a pior coisa do mundo. Agora a moda é Muay Thai. Nenhuma delas é defesa pessoal, e sim uma grande ilusão. Defesa pessoal é bem mais que isso, pois requer técnica, controle emocional, analisar a situação geral. Ou seja, é bem mais complexo, não é só fechar a mão e sair chutando e batendo", comenta Fred Carneiro. 

Sobre o Projeto de Lei 161/19, ele diz aprovar o uso, mas que só deverá ser utilizado quando a pessoas estiverem capacitadas a não se tornarem dependente do produto como meio de defesa pessoal. "Ensinamos com várias ferramentas, e a pessoa vê o que é melhor naquela situação. Qualquer objeto que tiver no local que possa ajudar ela vai usar, desde que saiba fazer aquilo", explica. 

O instrutor relata que há procura das mulheres por defesa pessoal, mas que ainda não é tanto quanto ele gostaria. O motivo, afirma ele, é devido à cultura machista que há no Ceará. "Há mulheres que ainda são ‘presas’ pelos maridos, que acham que a companheira deles vai ficar se agarrando com outros homens no chão. Estamos tentando vencer isso. Em outros estados a procura é bem maior. O problema aqui é o bloqueio cultural mesmo. A maioria dos agressores de mulheres são homens, então é bom treinar com outros homens". 

Habilidade

Praticante de Krav Maga há dez anos, a contadora Luciana Martins afirma sempre gostou de lutas. Aos 30 anos, decidiu fazer aprender um pouco mais sobre as técnicas israelenses e desde então nunca mais parou. O tempo lhe deu habilidade e hoje a defesa pessoal faz parte da rotina da família. Os filhos dela - um adolescente e uma jovem, com 14 e 20 anos, respectivamente, por verem a mãe inserida na atividade física e influência dela, também se tornaram adeptos da técnica.  

"A gente se preocupa com a violência urbana, e o Krav Magá lhe ajuda a ficar mais atento. Por exemplo: você está andando na rua e vem alguém de bicicleta. Claro, pode ser um trabalhador, mas de qualquer forma é aconselhável modificar a fisionomia, fazer outro caminho. Um bandido vai preferir um homem ou uma mulher? Uma pessoa descansada ou uma que acabou de sair da empresa após um dia de trabalho? Sempre vão escolher a vítima mais vulnerável", pontua. 

Há cinco anos, a contadora relembra que ela e os filhos estavam no carro quando um homem atacou a mulher, objetivando levar um cordão. Ela, então, segurou as mãos do assaltante, impedindo que ele levasse o objeto. 

"Fui rápida. Como não tinha como dar um soco ou um chute, usei os dentes e mordi os dedos dele com bastante força", narra, completando que a filha dela também ia sendo vítima de um assalto. "Estava fazendo adesivações e usei o bastão que utilizava para o trabalho para bater na cabeça dele". 

Mesmo praticante de Krav Maga há uma década, a contadora diz que no ano passado comprou um spray de pimenta, como uma forma de se defender de um possível ataque criminoso. Para ela, é importante ler sobre o assunto e ver o entender quando é o momento propício para utilizar o produto. 

“Posso usar qualquer objeto. A ideia é que você tenha tempo para sair dali e se defender. Temos que ter equilíbrio emocional e físico. De nada adianta ter acesso a isso se a pessoa não tem o preparo adequado", finaliza.
 

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