Contra ação do DER, moradores da Sabiaguaba promovem 'abraço' em duna

Órgão colocou palhas em duna na CE-010 com o objetivo de conter o avanço da areia para a pista

Escrito por Redação ,

Moradores e ambientalistas promoveram, no fim da tarde deste sábado (30), um abraço coletivo na duna que fica as margens da CE-010, na Sabiaguaba, e que está parcialmente coberta por palhas de coqueiro. De acordo com os moradores do entorno, as palhas foram colocadas no local pelo Departamento Estadual de Rodovias (DER), alegando que a iniciativa tem como objetivo impedir que a areia avance para a pista.

"Primeiro eles vieram aqui com um drone e disseram que estavam mapeando a duna para colocar as palhas de coqueiro e conter o avanço da areia. Em agosto eles começaram a colocar", diz Clemilson Silva, atleta de sandboard que usa as dunas para ensinar a prática do esporte para 10 crianças e adolescentes moradores da Sabiaguaba.

Com as palhas cobrindo toda a duna, ficaria impossível realizar a prática. De acordo com ele, o que já foi colocado põe em risco os praticantes, "já que a palha fica cortante quando seca". "Tem amigo aqui que já se cortou com essa palha que colocaram aqui. A duna é a diversão aqui do pessoal da Sabiaguaba e tem também o pessoal que vem ver o pôr do sol", destaca.

Mas não é apenas a prática de sandboard ou a visitação que ficam prejudicadas com a ação do DER. Segundo o professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jeovah Meireles, a iniciativa gera uma série de impactos ambientais negativos.

"Nós estamos analisando os impactos ambientais a partir de três grandes eixos. O primeiro deles é a completa desconfiguração da geomorfologia do campo de dunas, formando novas dunas. Isso não poderia ocorrer porque é uma Área de Proteção Integral (API), então só deveriam ocorrer atividades de ecoturismo e educação ambiental", explica Meireles.

Arqueologia

Ele detalha ainda que um outro aspecto diz respeito a desconfiguração das áreas de sítios arqueológicos. "Foram encontrados artefatos importantes de comunidades pré-tupi de mais de três mil anos aqui. Outro eixo de análise é o que isso significa a médio e longo prazo para os sistemas ambientais, que é a artificialização do campo de dunas, com a alteração da hidrodinâmica do lençol freático", avalia o professor da UFC.

A área é de responsabilidade da Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma), que preside o Conselho Gestor da Sabiaguaba. O Conselho Gestor é composto ainda pela comunidade e por ambientalistas, "mas ainda precisa ser mais atuante nas decisões tomadas sobre a área", segundo a conselheira e advogada Beatriz Azevedo, que também é integrante da ONG Verde Luz.

Beatriz destaca a existência de um Plano de Manejo sobre a área da Sabiaguaba, que foi elaborado em 2010 a partir de uma série de estudos, "e que deveria ser seguido, mas é ignorado". "Infelizmente a gente fica com os braços muito amarrados", frisa a advogada. A execução do Plano é acompanhada pelo Conselho Gestor.

Seuma

Em nota, a Seuma informou que "não houve nenhuma autorização do órgão referente à intervenção promovida pelo Departamento Estadual de Rodovias (DER) nas Dunas da estrada da Sabiaguaba, tendo em vista que o órgão responsável pelo licenciamento da obra é a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace)".

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