Conselho constata condições insalubres em Frotinhas
Os equipamentos acumulam graves problemas estruturais, que comprometem inclusive a salubridade dos locais
O cenário é de crise e, a cada dia, instituições, profissionais e pacientes denunciam as mazelas vivenciadas nas unidades de saúde do Ceará. Velhos dramas vem à tona, e um consenso impera: as precariedades antigas aumentam. Inspeções realizadas em março, abril e maio pelo Conselho Regional de Medicina do Ceará (Cremec) em unidades de Fortaleza constataram que as irregularidades já evidenciadas no Hospital Geral de Fortaleza (HGF) estendem-se aos Frotinhas. Os equipamentos acumulam graves problemas estruturais, que comprometem inclusive a salubridade dos locais.
No Hospital Distrital Maria José Barroso de Oliveira – Frotinha de Parangaba – e no Hospital Dr. Evandro Ayres Moura – Frotinha Antônio Bezerra, que atendem, sobretudo, demandas relacionadas à traumatologia e a clínica geral, as irregularidades vão desde a falta de insumos e profissionais, até as precárias condições físicas.
Nos hospitais secundários, sob a responsabilidade da Prefeitura, os médicos do Cremec constataram paredes e tetos com infiltrações, móveis oxidados nos consultórios, lençóis sujos – inclusive de sangue – nas macas sem troca após os procedimentos, colchões de leitos rasgados, equipamentos médicos "remendados” de forma improvisada para funcionar, banheiros com total ausência de higiene e área de preparação de medicamentos em condições degradadas, dentre outros.
Conforme a coordenadora da Comissão de Fiscalização do Cremec, médica Maria Neodan, no HGF, problemas estruturais também foram constatados. A unidade foi a última ser visitada e a vistoria ocorreu esta semana. “Não há corredor no Hospital Geral que não tenha maca. Áreas que deveriam ter oito leitos, tem até mais de 20”, relata.
A conselheira Regina Portela, membro da equipe de fiscalização, que participou da vistoria no Frotinha da Parangaba, reforça que a situação é alarmante e que, em geral, em todas as unidades foi verificada deficiência de profissionais. Nos três hospitais, há registro de queixas de médicos e enfermeiros quanto à condição de funcionamento das unidades. Tais reclamações motivaram a realizam das inspeções que, segundo os conselheiros, ocorre, na maioria das vezes, de forma reativa.
“Os problemas são antigos e há muito tempo realizamos estas fiscalizações. Mas, o que sentimos é que embora em todo procedimento sejam remetidos relatórios para as secretarias da Saúde [Estado e municípios], Ministério Público, vigilância sanitária e direções dos hospitais, a situação permanece a mesma”, explica o presidente do Cremec, Ivan Moura Fé. Diante da inércia, o médico afirma que o Conselho decidiu expor publicamente a situação para tentar solucioná-la.
De acordo com Ivan, além dos hospitais, as policlínicas, as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e os postos de saúde também são inspecionados pelo Conselho. O presidente do Cremec explica que “o poder da entidade é limitado sobre os médicos”, portanto, não há como o Conselho impedir o funcionamento da unidade. No entanto, o Cremec pode solicitar a interdição ética e proibir o médico de trabalhar em condições indignas para os doentes ou para o próprio profissional.
“Mas isso é uma extrema. Como vou interditar um profissional para que ele não trabalhe em um Frotinha? Entendemos que diante da demanda, apesar das precariedades, não tem como parar o atendimento. Seria pior. O que queremos é mais investimento em saúde e aprimoramento da gestão”, reforça. Das três visitas, segundo o Cremec, apenas o relatório do HGF ainda não foi encaminhado as autoridades competentes.
Inspeção da Defensoria
As precariedades apontadas por profissionais de saúde e acompanhantes de pacientes no HGF noticiadas e constatadas, nas últimas semanas, pelo Diário do Nordeste, foram inspecionadas, nesta quarta-feira (13), por defensores públicos integrantes do Núcleo de Direitos Humanos e Ações Coletivas (NDHAC) na unidade. O supervisor do Núcleo, Aluízio Jácome, informou que ainda há superlotação e ontem 35 pessoas ocupavam macas nos corredores da emergência. Foi constatada também superlotação na obstetrícia, além do relato de adiamento de cirurgias eletivas, na semana passada, em decorrência de falta de material.
Hoje, os defensores visitarão o Instituto Doutor José Frota (IJF) e na próxima quarta-feira (20) o Hospital Infantil Albert Sabin. Os relatórios sobre as inspeções serão apresentados as autoridades responsáveis em uma audiência pública no dia 26, na sede da Defensoria, no bairro Luciano Cavalcante.
Problemas constatados pelo Cremec