Com 350 mil pedestres por dia, Centro recebe ações de mobilidade

A Rua Barão do Rio Branco recebe a próxima etapa do Projeto Novo Centro, que abrirá mais espaço para os pedestres com extensão de calçadas e novo mobiliário urbano, entre a Avenida Duque de Caxias e a Rua João Moreira

Escrito por Barbara Câmara , barbara.camara@svm.com.br
Legenda: Centro de Fortaleza é frequentado por centenas de milhares de pessoas todos os dias e passa por ações de requalificação para garantir mais conforto e segurança
Foto: FOTO: CAMILA LIMA

No Centro de Fortaleza, a máxima de que “as portas estão sempre abertas” se comprova constantemente, com um fluxo intenso de 350 mil pedestres circulando pelo bairro todo dia, segundo a Secretaria Regional. Questiona-se, porém, se as vias e calçadas que permeiam o coração da Capital são adequadas em espaço e estrutura, para que o ir e vir a pé não represente um desafio para a população.

A região passa por mudanças dentro do Projeto Novo Centro, como a intervenção na Rua Barão do Rio Branco, iniciada ontem (10), com inauguração prevista para o dia 9 de novembro. A via será modificada no trecho entre a Avenida Duque de Caxias e a Rua João Moreira, onde será feita a extensão das calçadas e serão instalados paraciclos, lixeiras, bancos e quiosques padronizados para ambulantes.

“O bairro está experimentando uma requalificação que era esperada por todos. Vamos avançar para uma realidade superior em relação à que vivemos hoje, pelo reordenamento do comércio informal, e também pela boa qualidade de pavimentação dos calçadões, onde as pessoas realmente circulam”, pontua Adail Fontenele, titular da Secretaria Regional Centro.

O investimento feito pela Prefeitura de Fortaleza, em parceria com a Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global, é de aproximadamente R$ 700 mil. Atualmente, 67% do espaço na rua são destinados aos veículos motorizados, restando apenas 33% para pedestres.

Com a nova configuração, será sinalizada, ao todo, uma área de 3.686 metros quadrados. De acordo com o secretário executivo de Conservação e Serviços Públicos, Luiz Alberto Saboia, não serão necessários desvios de trânsito para conduzir as mudanças.

Espaço

Um levantamento realizado nos últimos meses e divulgado ontem (10) pela Prefeitura, durante coletiva de imprensa, aponta que, em média, 912 carros trafegam pela Rua Barão do Rio Branco em uma hora, enquanto 1.744 pedestres andam pelo local no mesmo espaço de tempo. Destes, 192 circulam pelo asfalto devido à falta de espaço nas calçadas.

Além da disparidade entre a oferta e a demanda por espaço de veículos e pessoas, a via foi escolhida para receber a ação também por concentrar muitos estabelecimentos comerciais, o que contribui para o aumento do fluxo de trânsito e, consequentemente, mais pontos de possíveis acidentes.

“Porque circulo pelo Centro e ando por lá, tenho a obrigação de reconhecer ainda problemas em algumas calçadas. Temos ajuda para fazer abordagens em várias lojas que são responsáveis por calçadas danificadas, que causam problemas para os pedestres”, destaca Adail Fontenele. O secretário defende que, ao “ajeitar” todas as praças, os calçadões, a Rua Barão do Rio Branco, e continuar trabalhando no sentido de consertar calçadas inacessíveis, “a gente vai dar condições melhores para que se possa dizer que o Centro é trafegável”.

Percalços

Na perspectiva de quem percorre diariamente os espaços estreitos à margem das ruas, a falta de “condições melhores” é sentida a cada passo. O comerciante Aldair dos Santos, 44, ocupa um pequeno trecho no entorno da Praça do Ferreira, com sua banca de água de coco. Na semana passada, ao subir a mesma calçada irregular pela qual passa todas as manhãs, ele tropeçou e torceu o tornozelo direito. Resultado: 15 dias de analgésico e um pé enfaixado. “Eles ‘tão’ fazendo essa melhoria aí na Barão do Rio Branco, mas não é aqui, né? Continua do mesmo jeito. Todo dia eu vejo idoso tropeçando nessas calçadas, é um perigo”, lamenta. “A minha sorte no dia foi a minha esposa, que ajudou a me levantar. Ainda dói, mas ‘tá’ melhorando”, afirma o comerciante.

Para o cadeirante Wesley Pereira, 27, a falta de rampas de acesso se soma aos obstáculos já inerentes de se locomover em uma cadeira de rodas. Ele sofreu um atropelamento em 2018 e, desde então, seu pé esquerdo nunca mais tocou o chão. Um andador ou a cadeira são seus instrumentos de apoio quando vai ao Centro para pedir dinheiro.

“Eu conto com a sorte. Sempre tem um ‘anjo’ no caminho pra ajudar a atravessar a rua, a subir no trem, o pessoal ajuda mesmo. Mas falta rampa, e as pedras na calçada são tortas, então, sempre é difícil”, relata. A infraestrutura e a mobilidade representam um dos seis eixos que serão contemplados pelas obras e ações do Projeto Novo Centro, além de Habitação, Política de Apoio a Pessoas em Situação de Rua, Turismo e Cultura, Ordenamento do Comércio Informal e Segurança e Fiscalização.

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