Casas são alagadas, e escola suspende aulas para abrigar famílias

Fortes chuvas que atingiram residências, danificaram eletrodomésticos. Rua continua alagada e moradores do bairro Sabiaguaba são levados para espaços de escola municipal, desde a última sexta-feira

Escrito por Felipe Mesquita , felipe.mesquita@verdesmares.com.br
Legenda: Nove famílias estão abrigadas na Escola Municipal Emanuel Eduardo Pinheiro
Foto: FOTO: KID JÚNIOR

Nuvens carregadas, prenúncio de chuva. E se está bonito para chover, a possibilidade de cair água do céu vem causando temor em comunidades de Fortaleza. Medo de perder o pouco que lhes restam, já que a dignidade inerente à pessoa humana aos poucos vai embora com a falta de assistência de políticas públicas. É nesse contexto, potencialmente agravado pela lama e pelos resíduos de esgoto, que vivem os moradores da Sabiaguaba, após boa parte deles serem obrigados a abandonar suas residências atingidas pelas chuvas. 

Com casas totalmente inundadas, nove famílias estão abrigadas na Escola Municipal Emanuel Eduardo Pinheiro Campos, desde a última sexta-feira (19). Porém, o acesso à instituição foi garantido somente depois de muita espera e esforço por parte da população. “Nós ligamos para a diretora e a resposta que nós ouvimos foi que não poderíamos levar ninguém para lá, senão ela chamava a Polícia. Aí nós entramos em contato com a Defesa Civil para haver a liberação”, conta o motorista Raimundo Catarino, 45. 

Finalmente, depois de conseguirem abrigo, os moradores foram alocados em salas de aula, embora a orientação fosse que eles “ficassem na quadra com goteiras”. Populares também denunciam que, durante os três primeiros dias, banheiros e cozinha da escola não tiveram uso liberado. Por esse motivo, muitos regressaram para seus lares, voltando a conviver com “água na altura do joelho”, antes mesmo do nível baixar. 

“A gente traz alimentos, roupas, cobertor, fralda descartável, rede. Estamos ajudando, dando a nossa mão amiga. À noite, a gente traz café, leite quente, garrafa de água. Aqui eram 14 famílias, mas muitas delas voltaram para casa temerosas em alguém entrar, saquear a casa e também porque não podiam usar os banheiros. No sábado mesmo, eu banhei um bebê num balde perto da torneira porque não tinha banheiro aberto para poder usar. Agora, tem nove famílias”, lembra a auxiliar de serviços gerais Marta Costa, 27, uma das voluntárias. 

Danos

Acompanhada do marido e das duas filhas de 9 e 14 anos, a dona de casa Rejane Nogueira, 35, ocupa uma das salas de aula “com o coração abatido porque perdeu tudo e não encontra solução”. A chuva danificou televisão, geladeira, fogão e ventilador, utensílios domésticos, adquiridos com muito “suor do trabalho”. Apesar de estar fisicamente alojada na escola, os pensamentos estão onde ela também gostaria de estar. “Na minha casa. É nela que eu penso o tempo todo. E aqui não tem muito conforto. Dormir no chão deixa a gente com dor nas costas”.

Além do drama das famílias desalojadas, o bairro enfrenta ainda outros transtornos, sobretudo pela falta de estrutura para receber as fortes chuvas. A Rua Miriús, onde fica a escola que abriga os moradores, está com acúmulo de água há, pelo menos, duas semanas. Desde então, as aulas estão suspensas. 

A comerciante Patrícia Lima, 39, considera um prejuízo para o desenvolvimento intelectual dos filhos. “Eu tenho um filho que estuda bem, só ganha notas boas, e ele está sentindo muita falta das aulas. Assim que amanhece o dia, ele pede pra eu ligar para a diretora para saber se tem aula”, revela, ponderando também que o fluxo de vendas no estabelecimento caiu por conta da dificuldade de tráfego. “Apesar de na minha casa não ter entrado água, eu estou sendo prejudicada porque as pessoas que me compravam do outro lado não estão vindo. O movimento parou”. 

Em meio à água que não consegue escoar, o lixo doméstico se avoluma por falta de coleta. Parte do calçamento que restou tem pedras soltas e até buracos, além do mau cheiro provocado pelos esgotos estourados. Na casa da autônoma Márcia Silva, 36, a rede coletora parou de funcionar após as últimas chuvas. “Eu aluguei por R$ 350 uma bomba submersa para retirar a água, porque o nível estava muito alto e a ‘fossa’ subiu”.

Em entrevista ao Sistema Verdes Mares, o coordenador do Comitê da Quadra Chuvosa, Renato Lima, informou que a água excedente será bombeada, a partir de hoje, em caráter emergencial.  “A partir daí, nós trabalharemos com projeto, orçamento para a gente imaginar uma solução de longo prazo em relação à drenagem desse local”, concluiu. 

A Secretaria Municipal da Educação (SME) esclareceu que as aulas na escola devem retornar na próxima semana e que os 780 alunos matriculados não serão prejudicados. 

A reportagem questionou à Coordenadoria Especial de Articulação das Secretarias Regionais (Coareg) se as vítimas da Sabiaguaba receberiam algum auxílio financeiro como as famílias do Jangurussu para o reparo da perdas, quando elas devem ser retiradas da escola e qual o acompanhamento elas estão recebendo. Contudo, até o fechamento da edição, não houve resposta.

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