Cardápios escolares devem suprir a necessidade de energia diária dos alunos

Estados e municípios historicamente manifestam dificuldades para conseguirem atender às demandas da alimentação escolar, devido aos baixos recursos financeiros

Escrito por Thatiany Nascimento ,

Garantir uma boa alimentação que não apenas "mate a fome", mas também supra as necessidades nutricionais de crianças e adolescentes em idade escolar deve ser uma das prerrogativas da alimentação servida nas instituições de ensino. No entanto, a verba destinada para auxiliar na garantia desse alimento, conforme noticiado pelo Diário do Nordeste, nem sempre é suficiente. 

O Governo Federal repassa, de modo suplementar a estados e municípios, por dia letivo, R$ 0,36 para cada aluno do Ensino Fundamental e Médio. Se não for complementada, é essa a quantia que "garante" o lanche nas escolas. No Ceará, apenas a partir de 2016 é que as escolas da rede estadual passaram a receber um acréscimo que pode chegar a R$ 6 milhões por ano, segundo a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) para melhorar essa alimentação. 

Em entrevista ao Diário do Nordeste, a professora Isadora Nogueira Vasconcelos do curso de Nutrição da Universidade Estadual do Ceará (Uece) esclarece algumas dúvidas sobre o que deve ser ofertado na alimentação escolar. 

É possível garantir a qualidade nutricional da merenda com poucos recursos?
Os recursos são de responsabilidade do Governo Federal e de fato muitas vezes os municípios e estados complementam de modo insuficiente. Mas um dos caminhos para garantir de forma miníma a qualidade é investir os 30% da verba da alimentação escolar em produtos da agricultura familiar. Porque esses produtos são adquiridos com um custo mais baixo. Outra questão cabe a equipe de gestão. Controlar o estoque. Controlar o desperdício. Usar o alimento de forma integral, aproveitando cascas e talos, por exemplo.

Uma das prerrogativas da lei é que os cardápios ofereceram, no mínimo, três porções de frutas por semana. Da perspectiva nutricional, qual a justificativa para esta exigência?
Frutas e verduras são alimentos importantes porque são naturais e são ricos em vitaminas, minerais e fibras. De forma geral, todos esses são extremamente importante em todas as fases da vida, mas sobretudo em fase de crescimento. A deficiência de vitaminas e minerais pode causar o surgimento de males como anemia e até o aparecimento de doenças crônicas. De modo geral, a população brasileira atinge menos de 10% do consumo de frutas desejado. Se não podemos garantir qualidade nos alimentos fora do ambiente escolar, temos que assegurar pelo menos dentro das escolas.

A deficiência de vitaminas e minerais pode causar o surgimento de males como anemia e até o aparecimento de doenças crônicas

O estabelecimento dos cardápios escolares deve considerar os hábitos alimentares dos alunos?
Sim. Essa consideração faz parte das nossas áreas de estudo. Os cardápios devem ser adequados aos hábitos culturais e alimentares. O grande gargalo nesse caso são os hábitos que não são saudáveis. Criança tende a gostar de alimentos processados. E o que se pode fazer é ter no cardápio opções de alimentos que estão inseridos na nossa cultura e são saudáveis, como baião, cuscuz, maxixe ou frutas como caju e acerola.

A faixa etária do público das escolas apresenta demandas nutricionais específicas? Quais essas demandas?
Todos os cardápios devem ser planejados para suprir a necessidade de energia diária e a legislação prever esses percentuais. Mas posso destacar as vitaminas A e C, ferro e cálcio. Destaco que tanto para criança como para adolescentes é fundamental garantir ferro, pois este é um nutriente que a sua deficiência é extremamente prevalente, sendo a principal deficiência nutricional no mundo. Já o cálcio é importante devido à formação óssea. Outra necessidade mais intensa dos adolescente é a de proteínas, isso devido à questão do crescimento ósseo e dos músculos.

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