Água economizada abasteceria 5 municípios da RMF por dois meses

O volume economizado desde outubro de 2015, quando a Tarifa de Contingência foi implantada, é suficiente para abastecer os municípios de Fortaleza, Caucaia, Maracanaú, Eusébio e Itaitinga, segundo dados da Cagece

Escrito por Barbara Câmara , barbara.camara@diariodonordeste.com.br

O consumo consciente por trás de gestos tão simples quanto fechar a torneira ao escovar os dentes, ou evitar o uso de mangueiras para lavar calçadas, se traduz em economia desde 2015: o volume de água poupada a partir da implantação da Tarifa de Contingência é suficiente para abastecer os municípios de Fortaleza, Caucaia, Maracanaú, Eusébio e Itaitinga por aproximadamente dois meses, de acordo com a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece).

Na última terça-feira (18), a tarifa completou três anos com um balanço “extremamente positivo”, conforme a avaliação de Cláudia Caixeta, diretora de mercado da Cagece. “Muitos estados optaram pelo racionamento, e nós tomamos a decisão mais difícil. O ganho foi fantástico, com o apoio da população”, afirma. 

Ela avalia que os cearenses estão muito mais conscientes de que a água é um recurso escasso, e que a medida foi vital para manter o nível de abastecimento, apesar da seca que já se estende por seis anos.

A meta de redução do consumo, estabelecida em 20% — em comparação a 2015, antes da implantação da tarifa —, chegou a 19% nos registros mais recentes da Cagece, referentes a outubro. A diretora comercial garante, porém, que a meta foi alcançada em outros meses, chegando a 21% em volume de água poupada.

“A tarifa é uma ação entre várias outras que o governo vem implantando para garantir a suficiência hídrica. Ela é aplicada hoje apenas aos clientes que consomem acima de 10 m³. Pela Organização das Nações Unidas (ONU), esse é o consumo mínimo para uma família de quatro pessoas, para que tenham suas atividades diárias de higiene, alimentação, e etc.”, diz.

De dezembro de 2015 até outubro de 2018, o consumo de água em Fortaleza e Região Metropolitana (RMF) foi de 384 milhões de metros cúbicos. Nestas áreas, o número de consumidores que utilizam apenas o volume mínimo está entre 60 e 65%, fazendo com que a cobrança só seja aplicada a cerca de 40% dos clientes. Cláudia Caixeta destaca que “hospitais, outras unidades de saúde e casas de detenção estão fora desta conta”. No mês de outubro, a tarifa foi paga por 264 mil pessoas na Capital e na RMF, segundo dados mais recentes da Cagece. Em média, desde o início do processo, a cobrança é feita para aproximadamente 243 mil clientes, mensalmente. 

Desde a implantação da medida, foram arrecadados 255 milhões de reais. Deste valor, porém, R$ 57 milhões são pagos em impostos. O restante é aplicado em iniciativas de combate à seca, dentre as quais destacam-se as ações de combate às fraudes de água, retirada de vazamentos e obras de melhoria nos sistemas de abastecimento.

Fraude

No que diz respeito a evitar desperdícios, os vazamentos ainda são uma das maiores fontes de preocupação. Por isso, 34 novas equipes foram adicionadas ao efetivo da Companhia de Água e Esgoto.

Outro grande problema no abastecimento urbano são as fraudes, os ‘gatos’, no chamado popular. A situação torna-se alarmante, aos olhos de Cláudia Caixeta, “quando uma pessoa não paga pela água, pois acaba consumindo 30 m³, 40 m³, e tem muita fraude. É uma perda mais financeira e econômica, mas ainda é uma água utilizada”.

Para contrapor o desperdício, a reutilização vem sendo uma opção viável, a exemplo da água proveniente da lavagem dos filtros utilizados pela Cagece. O volume é tratado e reaproveitado, gerando um ganho de quase 500 litros por segundo, volume que, segundo a diretora comercial da Companhia, é suficiente para suprir a demanda mensal do município de Sobral. 

Parte do valor proveniente da arrecadação da tarifa é destinada, também, aos produtos químicos necessários para tratar a água reutilizada.

Pressão

Considerando a expansão da Capital e dos municípios mais próximos, a rede de abastecimento requer o aumento da pressão hídrica, para garantir que o recurso chegue às áreas mais distantes. Tal aumento pode ser alcançado através dos distritos de medição e controle (DMC) da Cagece, distribuídos por 15 pontos em Fortaleza, Caucaia e Maracanaú.

“Quanto maior a pressão, mais vazamentos. Por isso, devemos dividir os DMCs em microdistritos para evitar esses desperdícios, ter o mínimo possível. Queremos transformar esses 15 em 144”, destaca a diretora de mercado. A subdivisão dos distritos de medição permite maior controle sobre os vazamentos, bem como uma noção ampliada acerca do abastecimento.

Para a divisão dos DMCs, serão destinados 32 milhões de reais captados pela tarifa, além de outros R$ 58 milhões negociados junto ao Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (Bird). Ao todo, o projeto soma R$ 90 milhões, e os primeiros distritos a serem contemplados pela divisão estão situados nos bairros Castelão e Messejana.

Cláudia Caixeta esclarece que o projeto está sendo finalizado, e “vai ser licitado para começar a obra. A expectativa e que esteja pronto no começo de 2020”. Para a intervenção, será preciso isolar alguns setores da tubulação e substituir hidrômetros que já foram desgastados pelo tempo.

Aumento

A possibilidade de aumento no valor da tarifa foi avaliada, porém, descartada pela Cagece, uma vez que o impacto seria pequeno. Contudo, a empresa ressalta a importância de não alterar o padrão de consumo de água de acordo com a temperatura, independentemente da influência do calor. A preocupação em poupar o recurso deve se manter, principalmente enquanto a carga hídrica não for adequada.

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