Ônibus corujões transportam média de 48,8 mil usuários por mês

A maior parte das pessoas que usam os ônibus entre 0h e 4h se desloca em função do trabalho. O volume de passageiros nesse intervalo é baixo diante dos horários convencionais, mas se mantém constante, segundo a Etufor

Escrito por Thatiany Nascimento/ Rafaela Duarte , metro@svm.com.br
Legenda: A depender da linha, a espera por corujão pode variar de 40 minutos a 2 horas e 15 minutos
Foto: FOTO: RAFAELA DUARTE

Dezenas de pessoas em Fortaleza precisam constantemente sair às ruas na madrugada em função, principalmente, do trabalho e, para isso, dependem do transporte público urbano. Embora a demanda do horário convencional seja muito maior, o volume de deslocamentos - que representa a quantidade de passageiros registrados - é de 48.861 ao mês, em média.

Esse total equivale, no mês, menos de 1% da demanda de usuários do transporte coletivo de Fortaleza que, atualmente, chega próximo à média de 30 milhões de viagens. Ainda assim, a procura por transporte público em horários não convencionais se mantém constante, segundo a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor).

Na madrugada, diferentemente do que muitas vezes se imagina, há lotação em algumas linhas e, sobretudo, no início da madrugada. Isto, porque, relatam os passageiros, apesar das alternativas de transporte, os corujões continuam sendo a única possibilidade para um contingente de trabalhadores. Além disso, os dilemas quanto à insegurança acompanham os passageiros, principalmente as mulheres.

Funcionários de restaurantes, vigilantes e empregados de supermercado são alguns dos profissionais que diariamente fazem uso dos 31 ônibus distribuídos nas 26 linhas de corujões que operam em Fortaleza. É, sobretudo, esse público que, a partir da meia-noite, segue esperando os coletivos, cujas chegadas e partidas, a depender da linha, variam de 40 minutos a 2 horas e 15 minutos, conforme dados cedidos pela Etufor, por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI).

O operador de caixa Ocivan Vieira diariamente vivencia a realidade de precisar dos coletivos nas madrugadas. Em geral, ele sai do trabalho por volta de 1h30min e, no Terminal do Papicu, aguarda até as 2h40 para seguir rumo ao Bairro Castelão. Ele chega em casa por volta das 3h. "Geralmente, são as mesmas pessoas e a gente já conhece todo mundo que pega. Todo mundo fica parado (no terminal) e a gente já sabe quem vai pegar o mesmo ônibus. No que eu pego, é tranquilo no caminho, as pessoas sabem mais ou menos quem vai subir. Quando sobe alguém estranho é que a gente tem receio", conta.

Ocivan explica, ainda, que quando vai chegando ao destino no bairro a quantidade de passageiros reduz de forma significativa. Segundo o operador de caixa, por volta da meia-noite, os coletivos são lotados, tanto na saída dos terminais como nas paradas.

A opinião é reiterada pelo garçom Mateus Jesus, também usuário dos corujões. Ele garante que, apesar dos longos intervalos, os coletivos desse horário são bastante pontuais e acrescenta que o medo é sentimento constante em quem se desloca nessa hora. "A insegurança é em Fortaleza toda. Eu moro no Castelão e a gente sempre pede a Deus coragem e (que Ele) nos guarde na rotina de viagem".

A funcionária de supermercado, Clarice Pereira, utiliza corujões todos os dias e reafirma a lotação nos primeiros horários. "É complicado porque a gente vai em pé até chegar na Parangaba. E tem esses (homens) que passam encostando na gente. Se a gente for reclamar ainda é capaz de ser agredida", ressalta ela, confirmando as queixas já feitas por outras mulheres à equipe de reportagem. Para ter um pouco mais de segurança, Clarice relata que todas as madrugadas, ao descer no Terminal do Lagoa, é buscada pelo irmão.

A oferta de transporte público no horário especial noturno em Fortaleza é uma obrigação das empresas de ônibus, prevista na Lei Municipal 7.163 de 1992. A norma é uma das regulamentações do serviço de transporte coletivo na Capital. Questionada sobre as demandas de passageiros nesse horário e funcionamento das linhas, a Etufor respondeu, em nota, avaliar "que a oferta do serviço corujão deve se manter ativa, porém é bem reduzida em relação às linhas normais". Além dos trabalhadores que carecem desse tipo transporte, a Etufor informa que os corujões servem também às pessoas que buscam "serviços emergenciais, como, por exemplo, hospitais" durante a madrugada.

O gerente de planejamento do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus), Sá Júnior, explica que a demanda por corujões é baixa e, segundo ele, "é considerada como um serviço de caráter social".

Área

As rotas dos corujões, explica ele, foram definidas há muitos anos e abrangem a maior área possível. A última mudança nas linhas ocorreu em 2013. "As rotas foram desenhadas de modo a permitir que as pessoas, onde quer que estejam, tenham acesso à rede e possam, através dos terminais, chegarem à maioria dos bairros de Fortaleza".

Questionado sobre a segurança da operacionalização das rotas dos coletivos durante a madrugada, o representante do Sindiônibus afirma que "é relativamente calma e não existe registros de grandes problemas".

As maiores adversidades, ressalta ele, ocorrem quando há queima de coletivos em Fortaleza, como aconteceu nos meses de janeiro e setembro de 2019. Nessas ocorrências, o serviço dos corujões foi o mais comprometido, com a interrupção dos trajetos. Atualmente, segundo Sá Júnior, todos os ônibus corujões são de autoatendimento.

A Polícia Militar do Ceará (PMCE) também foi procurada pela reportagem e informou, em nota, que operações de blitz barreira e saturação denominada "corujão" são realizadas em diversos bairros da Capital no horário noturno. A PM disse, ainda, que "as ações acontecem em dias e horários distintos, visando coibir a realização de crimes dentro dos transportes coletivos".

 

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