OMS cita Fortaleza entre as cidades com mais ações para ciclistas

Em relatório, Organização Mundial da Saúde aponta que a Capital cearense figura na lista de 54 cidades no mundo que conseguem prevenir doenças

Escrito por Redação , metro@verdesmares.com.br
Legenda: As ações adotadas contribuem para o combate a doenças cardíacas, obesidade e sedentarismo, entre outras

Expansão do modal cicloviário, padronização de calçadas e áreas de trânsito calmo repercutem diretamente no bem-estar de pedestres e ciclistas. Em Fortaleza, este novo desenho urbano tem evitado doenças não transmissíveis (DNTs), segundo relatório divulgado, ontem, pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A Capital cearense, aponta o órgão internacional, está incluída na lista de 54 cidades em todos os continentes que executam ações de mobilidade em prol da segurança viária dos usuários.

No estudo "O poder das cidades: atacando doenças não transmissíveis e ferimentos no trânsito", a OMS justifica Fortaleza como incentivadora do tráfego seguro, citando três projetos de política cicloviária. O programa de compartilhamento de bicicletas (Bicicletar, Mini-Bicicletar e Bicicleta Integrada); o "Cidade da Gente", que revitaliza espaços públicos com tintas coloridas e reforça a acessibilidade para transeuntes, além de destacar os reparos na infraestrutura da malha cicloviária.

A implementação destes recursos no espaço urbano contribui para o combate a doenças cardíacas e respiratórias crônicas, derrames, cânceres, diabetes, obesidade, sedentarismo - as chamadas DNTs - e lesões no trânsito. Esses fatores representam 80% de todas as mortes no mundo, o que corresponde a 44 milhões de óbitos por ano. Na Capital, os casos de falecimento por acidentes vasculares cerebrais (AVCs) estão na segunda posição entre as principais causas de morte, seguidos por infartos agudos do miocárdio (4ª posição) e diabetes, em 7º.

Conforme acrescenta a coordenadora de desenho urbano da Iniciativa Bloomberg, Beatriz Rodrigues, para além das ações citadas no estudo, Fortaleza já possui outras intervenções que conseguem prevenir possíveis riscos à saúde.

"Áreas de trânsito calmo, que dão mais conforto durante a caminhada com calçadas mais largas e menos obstáculos, onde pessoas de qualquer idade conseguem se locomover", explica Beatriz Rodrigues apontando ainda a redução de velocidade em vias arteriais, como nas Avenidas Leste-Oeste e Osório de Paiva.

Estratégia

De acordo com o titular da Secretaria Municipal da Conservação e Serviços Públicos (SCSP), Luiz Alberto Sabóia, o número de estações do Bicicletar deverá passar de 80 para 210 até o primeiro semestre de 2020. Bairros periféricos receberão o equipamento, como Barra do Ceará e Vila Velha. A expectativa da Pasta é que a instalação comece em 45 dias.

Outro plano, informa o secretário, é reformular o modelo original do Bicicleta Integrada, que permite a usuários ficar por até 14 horas com o transporte saindo dos terminais de ônibus. "Agora, vamos ter um novo sistema de bicicletas compartilhadas junto com bicicletários. Serão 17 estações em contêineres próximos às estações e locais onde tenha grande concentração de usuários de ônibus. Tanto você poderá levar a sua bicicleta particular e deixar lá guardada ou se não tiver, o sistema terá bicicletas disponíveis", explica. O projeto será licitado até o fim de dezembro e a implantação já no primeiro trimestre do ano que vem.

Alerta

Para o professor do Departamento de Engenharia de Transportes da UFC, Mário Azevedo, o reconhecimento mundial das ações da cidade é importante, mas é preciso apropriação delas por parte dos fortalezenses, para que se consolidem para além da gestão pública atual. "A população tem de se apropriar dessas estruturas de ciclofaixas, faixas de ônibus, áreas para pedestres, para que não sejam 'a medida do prefeito fulano ou ciclano', mas da cidade. Esses sistemas precisam ter os cidadãos como aliados, para que o próximo gestor não os desfaça", alerta.

Além disso, o especialista reforça a necessidade de expandir a estruturação de Fortaleza para os atores mais vulneráveis do trânsito - como os pedestres. "A situação ainda é complicada para se andar a pé. Ainda temos calçadas ruins, e é preciso uma pavimentação boa para se caminhar e mais acessibilidade para pessoas com deficiência. Quanto aos ciclistas, o trabalho requer manutenção da estrutura em boas condições e interligar a malha", avalia Mário Azevedo.

A preocupação se reflete em números: apesar da redução histórica na quantidade de vítimas feridas e mortas em acidentes de trânsito, pedestres e ciclistas ainda representam boa parte delas. Em 2018, conforme o Relatório Anual de Segurança Viária de Fortaleza, ciclistas e pedestres, juntos, totalizaram quase 18% dos feridos em acidentes - e mais de 50% dos mortos.

Conforme o levantamento, 652 ciclistas ficaram feridos e 24 morreram após as ocorrências na Capital. Já os pedestres ultrapassam esses valores: 1.398 deles se feriram e 91 chegaram a óbito em consequência de sinistros viários. No total, foram 10.931 acidentes com feridos e 219 fatais, na cidade, em 2018.

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