Obras para construção de 20 passarelas não avançam na Grande Fortaleza

Das 28 estruturas anunciadas em edital do Departamento Nacional de Infraestrutura (Dnit), apenas quatro foram entregues. Outras quatro ainda recebem trabalhos pontuais, mas já podem ser utilizadas pela população

Escrito por Renato Bezerra , renato.bezerra@svm.com.br
Legenda: No km 11 da BR-116, onde deveria existir uma passarela, pedestres se arriscam entre carros
Foto: FOTO: KID JUNIOR

A apreensão da dona de casa Cláudia Gomes, 28, é diária. Morando às margens da BR-116, na altura do Km 11, ela é uma das dezenas de pessoas que se arriscam, todos os dias, para atravessar as oito faixas da rodovia. O local é um dos 28 trechos de estradas entre Fortaleza e Região Metropolitana que deveriam contar com uma passarela de pedestre, segundo o edital 183/2016, publicado pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).

Conforme os prazos descritos no documento, todos os equipamentos deveriam ter sido entregues entre os anos de 2017 e 2018, mas até hoje apenas quatro tiveram sua implantação ou reforma totalmente concluída e outras quatro já recebem o fluxo de pedestres, mesmo faltando intervenções pontuais.

Enquanto isso, 20 pontos - que se dividem entre as BRs 116, 020 e 222 - permanecem sem as estruturas, para risco de quem passa de um lado ao outro das rodovias. Destes, em 19 pontos as passarelas serão construídas e no km 4,9 da BR-222, o equipamento já existe, mas passa por restauração, com prazo de conclusão em junho deste ano.

"A gente já cansou de pedir uma passarela para esse local, mas até agora, nada. Moro aqui há 15 anos e esse é nosso maior sonho", comenta Cláudia, que mora na Cidade de Deus, mas todos os dias precisa deixar o filho de três anos na escola, que fica do outro lado da Rodovia, no bairro Paupina. "Muitas mães fazem isso, passam por aqui correndo com os filhos porque o fluxo de carros é muito grande. E o movimento de jovens é intenso. Às vezes, a gente também precisa atravessar para ir ao ponto de ônibus do outro lado, ou ir ao supermercado e outros serviços", conta.

O comerciante Josinaldo Barreto, que mantém um mercado no trecho em questão, confirma a demanda do local, considerando uma passarela como a melhor solução. "É muito comum atravessar gente a pé e de bicicleta. De manhã cedo e no fim da tarde, o fluxo de pessoas cruzando é muito alto, e eu já vi acidentes acontecerem", afirma.

O equipamento que deve ser construído no local tem período de execução estipulado em 23 meses, segundo o Dnit. Mas junto às outras passarelas, o tempo até que as obras, de fato, comecem, ainda deve demorar entre 10 e 12 meses.

Isso porque o órgão federal ainda aguarda a conclusão dos projetos, o remanejamento de interferências com redes de concessionárias de serviços públicos e desapropriações de áreas para a implantação, motivos que geraram o atraso nas obras, conforme explica a superintendente do Dnit, Líris Campelo.

"Outro ponto que nos fez ter atraso foi quando se iniciou a conversa com a Prefeitura sobre a municipalização da BR-116. Tivemos que esperar os projetos da Prefeitura, que até hoje estão sendo analisados, e o que acontece? A gente tinha que compatibilizar com um projeto desse, para que não tivéssemos um gasto público desorganizado", diz.

Prazos

Asseguradas a partir de dois contratos, somando investimento de R$ 44,8 milhões, todas as passarelas deverão ser entregues até 2021, garante Campelo. "Tornamos essa questão como prioridade dentro do Dnit. O recurso já está garantido, os projetos estão definidos, agora só precisamos concluir os projetos, aprovar, e com as desapropriações feitas, a gente começa cada uma", afirma.

Inicialmente previstas no edital, passarelas que seriam implantadas em três trechos da BR-116 foram substituídos por semáforos. O Dnit explicou que atendendo às características locais da via, a 'semaforização' mostrou-se mais adequada.

Para o professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC), Mário Ângelo Azevedo, quanto mais urbano for o trecho, deve-se levar em consideração implantar semáforos, em vez de passarelas, evitando que os usuários caminhem muito entre um equipamento e outro.

"Se você pegar o contexto de uma BR-116, onde se têm muita gente morando no entorno, escolas, com pessoas necessitando de travessias em vários locais, não dá para se cobrir com passarelas. Não tem condição de se fazer uma passarela a cada 200 metros. O semáforo, além de parar o trânsito, cria buracos na corrente de tráfego que permite às pessoas atravessarem as vias em outros pontos. E com essas tecnologias de sincronizar o semáforo, não vai trazer grandes atrasos para o trânsito", analisa o especialista.

 

 

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